Há quem diga que a vírgula é uma pausa na leitura de um texto para respirar. Essa, porém, é uma definição equivocada e que, lamentavelmente, ainda é muito ensinada por aí.
A vírgula, assim como os sinais de pontuação em geral, auxilia na coesão textual e é uma tentativa de reproduzir, na escrita, as entonações e intenções da fala. Nesse sentido, ela possui usos variados, e é sobre isso que vou explicar a seguir.
1. Vírgula obrigatória
Para isolar o aposto:
Noslen, professor de português, tem um canal no YouTube.
Para isolar o vocativo, inclusive o vocativo de ofícios e cartas comerciais:
Mãe, você pode me ajudar?
Para separar elementos de mesma função sintática em uma enumeração:
Fui à feira e comprei banana, maçã, tomate, cebola.
Para separar adjunto adverbial anteposto ou intercalado:
No mundo todo, o desmatamento preocupa ambientalistas.
Para indicar termos deslocados de sua posição habitual na oração, objetos antepostos desde que pleonásticos e anacolutos:
O pão, você trouxe?
Aquelas músicas, ouço-as sempre.
Eu, ele sempre está querendo conversar comigo.
Para separar expressões explicativas e retificadoras (além disso, aliás, a saber, assim, na verdade, de fato, com efeito, então, isto é, ou seja, digo, por assim dizer, por exemplo, ou melhor, na minha opinião, em suma, quer dizer, resumindo):
Eu, por exemplo, adoro caminhar no parque.
Para isolar nomes de lugares, em datas escritas por extenso, em endereços e integrantes de dispositivos de lei:
Brasília, 3 de setembro de 2020. / Rua dos Funcionários, nº 60, Cabral. / Artigo 8, inciso 6.
Para separar orações coordenadas assindéticas:
Taís acordou cedo, tomou banho, saiu.
Para separar orações coordenadas sindéticas, exceto quando introduzidas pela conjunção e:
Fez o que podia, porém não conseguiu ajudá-lo. (adversativa)
Ou vai à missa, ou vai ao parque. (alternativa)
Confio em você, portanto posso contar meu segredo. (conclusiva)
Não demore, que o filme vai começar. (explicativa)
Para separar orações com sujeitos diferentes, ligadas pela conjunção e ou quando este conectivo tem valor adversativo (= mas):
A professora ditava a atividade, e os alunos copiavam.
O carro bateu, e ninguém se feriu.
Para indicar a repetição enfática de conjunção (polissíndeto):
Meu neto corre, e brinca, e pula, e fala, e não para.
Para separar a oração subordinada substantiva apositiva da oração principal. Neste caso, a pontuação mais frequente são os dois-pontos:
Ele me pediu um favor, que eu não o procurasse mais.
Para separar orações adjetivas explicativas, diferenciando-as das restritivas:
As madeireiras, que devastam as florestas, são um problema a ser combatido.
Para indicar a elipse do verbo:
Alice gosta mais de doces. Júlia, de salgados.
Para separar orações subordinadas adverbiais quando antepostas ou intercaladas à oração principal, com exceção da adverbial consecutiva:
Assim que chegamos em casa, meu filho começou a chorar.
Para isolar orações subordinadas adverbiais reduzidas de gerúndio, particípio e infinitivo quando antepostas ou intercaladas à oração principal:
Agindo dessa maneira, você jamais terá o meu apoio.
2. Vírgula proibida
Entre sujeito e predicado:
Os moradores do condomínio Ø elegeram o novo síndico.
Entre o verbo e seus complementos (objeto direto e indireto), a locução verbal de voz passiva e o agente da passiva e o verbo de ligação e o predicativo:
Meus pais gostam muito Ø de viajar.
Entre núcleo nominal e seus adjuntos ou complementos:
A situação Ø da política brasileira está um caos.
Entre a oração principal e a oração subordinada substantiva, exceto quando for apositiva:
Eu desejo Ø que você seja aprovado no vestibular.
Nenhum comentário:
Postar um comentário