REGÊNCIA VERBAL
1) A regência verbal trata da relação de dependência que se deve estabelecer entre o termo regente (verbo) e o termo regido (complemento: objeto direto e objeto indireto).
2) Sabemos que os verbos, quanto à transitividade, se, classificam em:
INTRANSITIVOS: quando têm idéia completa, isto é, quando não precisam de complemento:
As velhas casas ruíram.
TRANSITIVOS DIRETOS: quando não têm idéia completa, isto é, quando exigem complemento (objeto direto), e este se liga ao verbo sem o auxílio de preposição:
Ele vendeu a velha casa.
TRANSITIVOS INDIRETOS: quando não têm idéia completa, e o complemento (objeto indireto) relaciona-se ao verbo, obrigatoriamente, através de uma preposição:
Ele já não gostava da velha casa.
TRANSITIVOS DIRETOS E INDIRETOS: quando o verbo aceita os dois complementos:
Ele deu o dinheiro aos filhos.
3) A regência verbal nada tem a ver com os adjuntos adverbiais. Estes dão à frase circunstâncias opcionais e são precedidos de preposição, que poderá ser qualquer uma, de acordo com a idéia que se quiser transmitir:
Ele corria no parque.
Ele corria de medo.
Ele corria com seu guaipeca.
Ele corria entre as árvores.
Os adjuntos adverbiais podem ir-se, acumulando na mesma frase, haja ou não complemento:
Ele corria durante a tarde, contra o vento, sem camisa.
Ele vendeu a casa no fim do mês, contra a sua vontade.
4) Felizmente, sabemos, em geral, o tipo de relação que se estabelece entre o verbo e seu complemento, como nestes exemplos:
Geralmente, os filhos sobrevivem aos pais.
Filiou-se ao grupo dos que, para eximir-se de castigo, imputavam a culpa aos outros.
Utilizou as informações e aproveitou-se da oportunidade.
Entretanto, noutros casos, acostumados a ouvir e ver o erro, encontramos dificuldades.
É o caso dos seguintes verbos:
Aspirar
a) No sentido de desejar, almejar, é transitivo indireto (não admite lhe, lhes):
Os homens aspiram ao bem-estar.
Há muitos bacharéis que aspiram à carreira diplomática.
Aspirava a uma posição mais elevada e a um ordenado maior.
b) É transitivo direto no sentido de respirar, sorver:
Os mineiros aspiravam o pó insalubre das minas.
Todos os dias aspiramos a névoa poluída da metrópole.
Visar
a) No sentido de ter em vista, é transitivo indireto (não admite lhe, lhes):
Se visarmos apenas aos bens materiais, morreremos frustados.
Não visamos a qualquer lucro.
Visamos à paz e ao progresso social.
b) É transitivo direto no sentido de mirar e dar visto:
Caitutu visou a testa da cobra que picara o seio de Lindóia.
Ele visava os contratos com muito cuidado.
Assistir
a) No sentido de ver, presenciar, estar presente, é transitivo indireto (não admite lhe, lhes):
Os que estavam presentes assistiram a uma cena comovedora.
Não é bom assistir à televisão sem espírito crítico.
b) No sentido de caber, pertencer, é transitivo indireto (admite lhe, lhes):
FGTS é um direito que assiste ao trabalhador.
c) No sentido de residir, morar, exige em:
Aspirando a um cargo público, ele vai assistir em Brasília.
É raro seu uso nesse sentido, porém correto.
d) É transitivo direto no sentido de dar assistência, ajudar:
Um bom médico assiste os seus pacientes com devoção.
Querer
a) No sentido de gostar, estimar, é transitivo indireto:
Joãozinho quer muito aos seus pais.
Ele também quer muito à namorada.
b) É transitivo direto no sentido de desejar:
Os meninos queriam um punhado de moedas.
Esquecer e Lembrar
Não mudam de sentido, mas podem ser transitivos diretos ou indiretos.
a) Quando acompanhados de pronome, constroem-se com de:
O jovem ator esqueceu-se do texto.
Esquecia-se freqüentemente das contas que fazia.
Eu me lembro dos meus tempos de guri.
b) Constroem-se sem preposição, se desacompanhados de pronome:
Lembrou o nome do amigo para assumir o cargo.
O jovem ator esqueceu o texto.
Pagar e Perdoar
a) Se o objeto for de pessoa ou instituição, será indireto:
Perdoa aos pobres de espírito, porque não sabem o que fazem.
Não pagaram aos funcionários.
b) Se o objeto for de coisa, será direto:
O Brasil não pode pagar a dívida externa.
Ela não perdoou as ofensas que recebeu.
Obedecer e Desobedecer
São transitivos indiretos, exigem a preposição a. Embora sejam transitivos indiretos, admitem voz passiva, porque antigamente eram transitivos diretos:
Devemos obedecer às normas do coração.
Por que não obedeces aos teus pais?
Muitos brasileiros desobedecem aos regulamentos.
Morar, residir, estar situado etc.
Esses versos constroem-se sempre com a preposição EM e não com a preposição A, como muitas vezes acontece, principalmente antes da palavra RUA:
Residia na Rua dos Bobos, nº 0.
Elas moram na Av. Atlântida.
Dirigia-se ao prédio sito na Rua dos Andradas, nº 1000.
Preferir
Quem prefere, prefere alguma coisa a outra e não do que outra, e é redundante dizer preferir mais, muito mais, antes, mil vezes, muito mais, um milhão de vezes:
Preferia um bom vinho a uma cerveja.
Prefiro ser rico a ter saúde a ser pobre e doente.
Implicar
No sentido de acarretar, ter como consequência, emprega-se sem a preposição EM:
Magistério implica sacrifícios e renúncias.
As paixões violentas implicam perigos imensos.
No sentido de ter implicância, embirrar, emprega-se com a preposição COM:
Todos implicavam com o barulho da vizinhança.
No sentido de envolver, comprometer, enredar, somente nesse sentido emprega-se com a preposição EM:
Implicaram o político famoso em atividades ilícitas.
Chegar e Ir
a) No emprego mais freqüente, constroem-se com a preposição A e não com EM.
Devido ao trânsito, cheguei tarde à escola.
Foi ao bar beber uma cerveja.
Durante as férias, elas foram à Bahia.
b) O verbo ir constrói-se com PARA, quando houver idéia de permanência:
Se for eleito, ele irá para Brasília.
c) Quando indicam o meio de transporte no qual se chega ou se vai ou o tempo no qual se chega, então sim exigem EM:
Cheguei no ônibus da Unesul.
A delegação irá no vôo 300.
Cheguei na hora certa.
5) A preposição, quando exigida, nem sempre aparece depois do verbo, como nos exemplos até aqui relacionados. Às vezes, ela pode ser empregada antes do verbo, bastando. para isso, inverter a ordem dos elementos da frase:
Na Rua dos Bobos, nº 0, residia um grande poeta.
Outras vezes, ela deve ser empregada antes do verbo o que acontece nas orações iniciadas pelos pronomes relativos, principalmente que, quem, qual e cujo:
A moça de que gostava partiu com outro.
As pessoas em quem confiou traíram-no.
Os ideais a que aspira são nobres.
A rua na qual está situada a empresa é das mais movimentadas.
Nesse caso, há um artificio muito prático para identificar a preposição exigida: basta tomar o verbo e construir uma frase em ordem direta, substituindo o pronome por um substantivo:
Ele gostava da (de + a) moça.
Ele confiou nas (em + as) pessoas.
Ele aspira aos (a + os) ideais.
Ela está situada na (em + a) rua.
6) O, A, OS, AS x LHE, LHES
Sabemos que os pronomes oblíquos átonos são: me, te, se, lhe, lhes, o, a, os, as, nos, vos. Pois bem, os pronomes me, te, se, nos e vos tanto podem ser objeto direto quanto objeto indireto, não havendo, portanto, dificuldade no seu emprego, em se tratando de regência.
Mas os pronomes o, a, os, as só podem ser objeto direto, e os pronomes lhe, lhes, objeto indireto. Não se pode, por conseguinte, empregar um pelo outro, a menos que você queira inventar novas regras para a gramática. Está errado dizer:
Eu lhe vi no cinema.
Pior ainda fica, se a frase tem outro objeto indireto:
Em nosso estabelecimento, técnicos especializadas vão ajudar-lhe a construir sua casa.
É claro que o correto é substituir o lhe(s) por o(s) ou a(s):
Eu a vi no cinema.
Em nosso estabelecimento, técnicos especializadas vão ajudá-lo a construir sua casa.
Assim, se o verbo é daqueles que admitem dois objetos, o pronome a empregar será sempre o oposto ao objeto expresso de outra forma. Vejamos:
O orador dirigiu o olhar às galerias.
(O orador dirigiu-lhes o olhar.)
(O orador dirigiu-o às galerias.)
É até mesmo possível representar os dois objetos pelos pronomes ao mesmo tempo:
O orador disse a verdade ao público.
(O orador disse-lha.)
Embora corretas, essas construções são mais usadas em Portugal que no Brasil.
Observação:
A estratégia para certificar-se quanto ao pronome e usar é a seguinte: substituir o pronome por uma substantivo: se o substantivo vier sem preposição (objeto direto), põe-se o, a, os ou as (objeto direto), fazendo a concordância; se o substantivo vier com preposição (objeto indireto), põe-se lhe ou lhes (objeto indireto):
Convidou-os para a festa.
(Convidou o panaca para a festa.)
Estas conquistas não lhe pertencem.
(Estas conquistas não pertencem ao panaca.)
7) Dois ou mais verbos de regências diferentes não podem ser empregados com o mesmo complemento:
Os alunos leram, e não gostaram do livro.
O povo quer, aspira e precisa de ajuda.
Essas frases corrigem-se assim:
Os alunos leram o livro, e não gostaram dele.
O povo quer ajuda, aspira a ela e precisa dela.
É claro que, se os verbos têm a mesma regência, o complemento pode ser comum a todos:
Comprou, leu e, depois, vendeu o livro.
Para verificar a regência em tais casos, basta construir frases isoladas com cada verbo:
O povo quer ajuda.
O povo precisa de ajuda.
O povo aspira à ajuda.
8) Embora não sejam questões de regência verbal, é oportuno lembrar três tipos de construções que freqüentemente aparecem erradas:
a) "Entre eu e tu não há diálogo."
Havendo preposição, não se empregam os pronomes retos eu e tu, mas sim os pronomes oblíquos tônicos mim e ti.
O certo é:
Entre mim e ti não há diálogo.
Ou então:
Entre nós não há diálogo.
Já não existe relação entre Paula e mim. Para mim e Paula surgiu outro caminho.
b) "Esta laranja é para mim chupar."
Na comparação com o item anterior, essa construção parece correta; entretanto, agora, o pronome a empregar deve ser eu, porque há um verbo no infinitivo depois, do qual o pronome reto é sujeito:
Esta laranja é para eu chupar.
Tal tarefa deve ser para tu fazeres.
c) "Está na hora do espetáculo começar."
Quando, depois de um elemento introduzido por preposição, houver um verbo no infinitivo, a preposição deve ser separada do artigo ou do pronome, embora muitos gramáticos admitam essa contração:
Está na hora de o espetáculo começar.
Apesar de eles discordarem de mim, respeitam minha opinião.
Existe objeto preposicionado, mas não sujeito preposicionado.
O sujeito pode ter complemento, mas não pode ser complemento.
REGÊNCIA NOMINAL
A regência nominal verifica-se com nomes (substantivos, adjetivos e advérbios) de sentido incompleto.
Se dissermos, por exemplo, “Ele tem necessidade” logo perguntaremos: “Necessidade de quê?” Isso prova que a palavra “necessidade” não tem uma significação completa. Ela tem necessidade de algo mais que a explique - o COMPLEMENTO NOMINAL, que vem sempre precedido de preposição.
Exemplos:
- Acostumado a, com
Acostumado à vida do campo estranhou a cidade
Ela não está acostumada com essas coisas.
- Ansioso de, por:
Estamos ansiosos de ver o mar.
Ele está ansioso por dias melhores.
- Assíduo a, em:
Ele é assíduo às aulas.
Assíduo no cumprimento de suas tarefas.
- Isento de:
Estou isenta de culpa.
- Nocivo a:
O fumo é nocivo à saúde:
- Antipatia a, por:
É grande a minha antipatia às tarefas cansativas.
Sinto antipatia pelo esforço.
- Amor a, de, para com, por:
Amor aos estudos.
O amor do povo anima as autoridades.
Amor para com os filhos.
Confessou seu profundo amor por ele.
- Acesso a:
A estrada dá acesso à praia.
- Atenção a:
Prestaram atenção ao que foi explicado.
- Obediência a:
Devemos obediência aos mais velhos.
- Preferível a:
Isto é preferível àquilo.
- Imbuído de, em:
Estava imbuído de más intenções.
Está imbuído em fantasias.
- Propenso a, para:
Era propenso aos estudos.
Era propenso para o mal:
Os substantivos e adjetivos pertencentes ao mesmo radical dos verbos têm a regência destes:
Devemos obedecer às leis.
Devemos obediência às leis.
Somos obedientes às leis.
Advérbios terminados em mente exigem a mesma preposição dos adjetivos de que derivam:
relativo a - relativamente a
diferente de - diferentemente de
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