FUNÇÕES DA LINGUAGEM
Leitura
O desenvolvimento humano e o avanço das civilizações dependem do progresso alcançado em suas atividades, a descoberta do fogo, a divisão do trabalho, as máquinas, as tecnologias; mas, acima de tudo, da evolução dos meios de receber comunicação e de se comunicar, de registrar o conhecimento e do desenvolvimento da escrita e fonética. O homem necessita comunicar para progredir, quanto mais avançada for a capacidade de comunicação de um conjunto de indivíduos mais rápida será a sua progressão. A capacidade de comunicação de um conjunto de indivíduos (uma tribo, um país, etc), é decorrente da sua cultura, portanto a comunicação e a cultura estão interligadas e uma impulsiona a outra.
O homem criou além do mundo natural um mundo artificial. Essa segunda natureza criada pelo homem recebe o nome de cultura.
Cultura é todo fazer humano que pode ser transmitido de geração a geração.
A linguagem é, portanto, um elemento da cultura de um povo.
Funções da Linguagem
Função Referencial, Denotativa ou Informativa - é aquela que traduz a realidade exterior ao emissor. Ex.: os livros didáticos, documentos oficiais, artigos científicos, correspondências comerciais, bulas de remédios, receitas, manuais de instruções, revistas, jornais, telejornais e redações usam esse tipo de linguagem, pois relatam fatos verdadeiros.
Função Emotiva ou Expressiva - é aquela que traduz opiniões ou emoções do emissor. Essa linguagem se caracteriza quando alguém expressa sua opinião sobre determinado assunto, muito usada em poemas, letras de música, cartas pessoais, cordéis, novelas, textos líricos, memórias, depoimentos, biografias, entrevistas, críticas de cinema e teatro. Ex.: "Eu acho que aquele rapaz não está passando bem, parece que está com febre".
Função Fática - é aquela que tem por objetivo prolongar o contato com o receptor ou iniciar uma conversa, caracteriza-se pela interação entre falantes e pelo conjunto de estratégias construídas para começar e terminar uma conversa, muito usada em cumprimentos, saudações, despedidas, conversas telefônicas e vinhetas. Ex.: "O que você acha dos políticos? - Olha, no meu ponto de vista, sabe, eu acho que,...bem...como eu estava dizendo, os políticos, sabe como é né? É isso aí".
Função Conativa, Apelativa ou Imperativa - é aquela que tem por objetivo influir no comportamento do receptor, por meio de um apelo ou ordem. As propagandas veiculadas na televisão, livros de autoajuda e horóscopo, palestras, pregações, sermões, discursos políticos, campanhas eleitorais, preces e orações são um bom exemplo desse tipo de linguagem. Ex.: "Compre o sabão espumante, que borbulha melhor do que qualquer outro!".
São características dessa função: verbos no imperativo, presença de vocativos; pronomes de segunda pessoa.
Função Metalingüística - é aquela que utiliza o código para explicar o próprio código. Um bom exemplo dessa função são os dicionários e as gramáticas e os programas de televisão que falam sobre a própria televisão (como o Vídeo Show).
Função Poética ou Estética - é aquela que enfatiza a elaboração da mensagem de modo a ressaltar o seu significado. Ao utilizar essa função o autor se preocupa com rimas e comparações bem escolhidas, dando importância fundamental à maneira de estruturar a mensagem. Embora seja mais comum em textos literários, essa função pode aparecer em conversas cotidianas, reportagens, notícias, histórias em quadrinhos, trocadilhos, piadas, letras de música e propagandas.
Significante e Significado
A lingüística, além da parte sonora, está carregada de um significado, uma idéia. Portanto, o signo lingüístico constitui-se de duas partes: o Significante que é o lado material (os sons da língua falada ou as letras na língua escrita), e o Significado que é o lado imaterial, ou seja, a idéia que é transmitida pelos fonemas (sons ou pelas letras).
a) "Comprei um geladeira nova!"
b) "Minha namorada está uma geladeira comigo!"
Note que o mesmo signo (geladeira) tem dois significados diferentes dependendo do contexto em que aparece, na frase a, geladeira significa um móvel destinado a manter seu interior em baixa temperatura, na frase b, geladeira pode significar frieza, desprezo, ausência de sentimentos. Deduzimos então, que o significante geladeira tem mais de um significado. No caso a, o signo está empregado em sentido denotativo.
Denotação - consiste em utilizar o signo no seu sentido próprio e único, que consta no dicionário, não permite outra interpretação.
No caso b, a palavra está empregada em sentido conotativo, porque ao signo foi atribuído um novo significado.
Conotação - consiste em dar novos significados ao valor denotativo do signo. O valor denotativo ou conotativo do signo depende do contexto em que este signo se encontra. Ex1: João da Silva é negro. Ex2: Seu futuro será negro.
denotação - D de dicionário (sentido literal)
conotação - C de contexto (sentido figurado)
Sinonímia - Propriedade de duas ou mais formas lingüísticas apresentarem o mesmo significado:
Exemplos: coragem/destemor; ligeiro/lépido/rápido/veloz; tolo/bobo
Obs.: Não existe sinonímia perfeita, já que dificilmente um vocábulo substitui outro com perfeita equivalência de sentido. Quando dizemos que, alguém apresentou uma dúvida tola, não corresponde ao mesmo que dizer que, alguém apresentou uma dúvida boba. A palavra boba neste caso teria uma conotação mais vulgar.
Polissemia - Propriedade que uma mesma palavra tem de assumir vários significados dependendo do contexto em que ela ocorre. veja os exemplos que seguem:
Não dá para comparar água com vinho. (ser possível)
Quem dá aos pobres, empresta a Deus. (fazer doação de algo)
Dá pena de ver o estado daquele homem. (provocar)
Deu com a cara na porta. (bater)
Ela deu uma boa explicação. (apresentar)
NÍVEIS DE LINGUAGEM
Em português, temos vários níveis de linguagem, várias formas de dizer a mesma mensagem, uma vez que não falamos sempre do mesmo jeito. Para nos comunicarmos melhor e adequadamente, temos de levar em consideração alguns elementos que garantem a eficiência de nossa mensagem.
Exemplificando: se você conversa com um colega, um amigo, você fala de um modo. Usa uma linguagem. Se esse mesmo assunto for falado com uma autoridade, seu jeito de se comunicar será diferente. E mais, se esse mesmo conteúdo for dirigido a uma criança pequena, também você terá de mudar sua forma de comunicação.
Portanto, você teve de usar níveis de linguagem diferenciados para cada destinatário de sua mensagem.
Para efeitos didáticos, vamos considerar apenas dois níveis de linguagem, embora existam outros:
· o informal ou coloquial, usado mais comumente em conversas entre amigos, conhecidos mais íntimos;
· o formal ou culto, usado em situações de maior cerimônia, quando devem ser observadas as normas gramaticais.
Exemplos:
a) Aquela ali é uma perua. (nível informal ou coloquial)
b) Aquela senhora está muito enfeitada. (nível formal ou culto)
c) Houve uma grande confusão no colégio e muitos brigaram. (nível formal)
d) Aconteceu um rebu na escola e o pau quebrou. (nível informal)
Leia os dois textos apresentados a seguir:
São Paulo, 5 de setembro de 2003.
Querida Mônica,
Tô morrendo de saudade, mas ainda não será desta vez que vou conhecer seu novo refúgio. Não pude deixar o trabalho, pois meu chefe saiu de férias, e sobrou para mim. Aliás, com sempre, né? Para não lhe dar o cano por completo, estou mandando no meu lugar minha grande amiga Marli, que você não conhece, mas que vai adorar, com certeza. Ela é muito legal: bom papo, bem humorada, educada e culta. Excelente companhia. Tenho certeza de que vocês vão curtir muito essas férias juntas. O único risco é você daqui pra frente convidar só a Marli e não me convidar mais...
Um beijão,
Patrícia
São Paulo, 5 de setembro de 2003
Faculdades Unidas de Jardinópolis
Departamento de Ciências Exatas
Coordenadoria de Pós-graduação
Prezada Coordenadora,
Apresento-lhe Marli de Azevedo, que desenvolveu sua pesquisa de Mestrado sob minha orientação.
Motivos de ordem pessoal a conduziram a optar por residir no interior do estado, razão pela qual, decidiu realizar seu doutoramento também do interior.
Trata-se de pesquisadora muito competente, responsável e séria, o que me deixa tranqüilo para indicá-la à vaga de orientanda para doutoramento que a senhora oferece.
Seu currículo lhe permitirá avaliar a magnitude de sua capacidade. Se julgar necessário, coloco-me à disposição para quaisquer esclarecimentos.
Atenciosamente,
_________________________
Prof. Dr.Ricardo Albuquerque.
Coordenador de Pós-Graduação
Universidade Estadual da Capital
Podemos perceber durante a leitura que os dois textos tratam do mesmo tema: apresentam uma pessoa.
Entretanto, o primeiro é uma carta escrita por uma jovem dirigida a sua amiga; e o segundo, uma carta de recomendação enviada pelo coordenador de pós-graduação de uma instituição à coordenadora de outra instituição, indicando uma candidata à vaga de orientanda.
A diversidade de interlocutores e de situações de comunicação determina diferenças no uso da linguagem de cada texto.
Vamos fazer um levantamento das diferenças de linguagem que encontramos entre os textos e preencha o quadro abaixo:
Carta para a amiga
Carta de apresentação para a coordenadora
Essas diferenças de situação envolvendo o tema, a forma de comunicação e os interlocutores são chamadas de registro e elas determinam diferentes níveis de linguagem: mais formal, menos formal; mais distante, menos distante.
Nós também escolhemos níveis de linguagem diferentes conforme as situações de comunicação em que nos encontramos. Assim é que não usaremos em uma carta para a namorada, por exemplo, o mesmo tipo de linguagem que utilizamos para redigir um requerimento à diretoria da Faculdade.
É importante estarmos conscientes da necessidade de adequação da linguagem às situações de interação e, especificamente, da importância da utilização de uma linguagem formal nos textos acadêmicos.
Não há dúvidas de que possuímos um conhecimento intuitivo a esse respeito, mas, muitas vezes, nos esquecemos dele e acabamos por produzir textos recheados de marcas de oralidade, o que pode prejudicar a avaliação de nossos trabalhos.
Por isso, é muito importante que compreendamos o que se entende por registro, para podermos identificá-lo em situações concretas e fazer uso dele, adequando nossa linguagem às situações, principalmente na vida acadêmica.
Precisamos levar em conta:
O leitor a quem nossos textos de dirigem, ou seja, nosso interlocutor na interação verbal;
o assunto sobre o qual versa o texto;
e o papel desempenhado pela língua.
Essa distinção permite diferenciar linguagem informal de linguagem formal.
LINGUAGEM INFORMAL (coloquial ou popular)
LINGUAGEM FORMAL (culta ou padrão)
Poder igual
Hierarquia de poder diferente
Contato freqüente
Contato raro
Grande envolvimento afetivo
Pouco envolvimento afetivo
Léxico coloquial (abreviações e gírias)
Léxico formal (formas não abreviadas, com uma única exceção: etc., e não emprego de gírias, exceto na reprodução de falas ou em entrevistas)
Emprego de apelidos e diminutivos
Emprego de títulos
Expressões de afeto e despreocupação com a polidez
Expressões de deferência e preocupação com a polidez
Uso de expressões que indicam opinião
Uso de expressões que indicam sugestão
Devemos ficar atentos para não utilizar, na redação de nossos textos na universidade ou na empresa, elementos próprios da linguagem informal e, portanto, inadequados à linguagem acadêmica ou empresarial.
PRINCIPAIS PROBLEMAS DA REDAÇÃO EMPRESARIAL
Na empresa, a escrita é coletiva, e não individual, isto é, você não escreve em seu próprio nome, mas em nome da empresa para a qual trabalha. Por isso, deve pensar não em "eu", mas em "nós", a empresa.
Mesmo na comunicação interna, você deve considerar que se trata da empresa interagindo verbalmente com seus funcionários.
Apenas alguns relatórios ou notas serão assinados por você correspondendo a um compromisso pessoal, mas a maioria dos documentos diz respeito à empresa e exigem que você respeite os posicionamentos de sua empresa diante dos fatos relativos à correspondência, porque você está transmitindo uma mensagem no lugar de outrem, sua empresa.
Isso exige de você um esforço duplo: ao mesmo tempo em que você precisa apropriar-se da mensagem, colocando-se no lugar do locutor real, você não pode se esquecer do interlocutor, da outra empresa, preocupando-se com o modo como ela pensa, a forma como ela vai reagir ao conteúdo do texto produzido por você e enviado por sua empresa.
É preciso lembrar ainda que o texto empresarial não reflete apenas o trabalho de quem o redigiu, ele reflete toda a empresa.
É por isso que uma carta mal escrita, rasurada, mal formatada, sem clareza nem correção, por exemplo, representa uma empresa pouco confiável.
Daí a importância de você se preocupar com a clareza, concisão e correção ao redigir em nome de sua empresa, a fim de evitar uma imagem negativa de sua empresa.
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