quinta-feira, 17 de junho de 2021

Elias Santana - acentuação gráfica e prosódia

 PROSÓDIA



Objetivo da prosódia

Prosódia é a parte da fonética que se ocupa principalmente do estudo da sílaba tônica dos vocábulos.




Sílaba Tônica

É a sílaba que recebe o acento tônico.




É oportuno lembrar que existem algumas palavras que não têm sílaba tônica, constituindo o grupo das palavras átonas. São elas:


- os artigos: o. a os, as, um uma, uns, umas;


os pronomes oblíquos átonos: me, te, se, nos, vos, o, a, os, as, lhe, lhes;




os pronomes relativos: que, quem, qual;


as preposições monossilábicas: a, com, de, em, por, sem, sob;


a preposição "para";


- algumas conjunções: e, nem, ou, porque, se, que, como;


- quaisquer combinações dessas classes: do (de+o), duma (do+uma), pelos (por+os); lha (lhe+a), no-lo (nos+o) etc.




Acento Tônico


Quase toda palavra possui uma sílaba que é mais forte — a sílaba tônica — a qual recebe um impulso de voz maior do que despendemos com as outras sílabas. Esse impulso de voz a mais que concentramos na sílaba tônica é o que chamamos de acento tônico.




Vogal Tônica


É a vogal da sílaba tônica.




Há palavras que, conforme deslocarmos a sílaba tônica, mudam o significado: SÁ-bia (inteligente), sa-Bi-a (verbo "saber"), sa-bi-Á (pássaro).




Acento Gráfico



É o sinal (´) ou (^) que indica, por escrito, a posição da sílaba tônica. Não se confunda acento gráfico (grafado) com acento tônico (pronunciado). Assim, nas palavras azul e esquecido existe acento tônico, mas não existe acento gráfico; já na palavra esplêndido existem acento tônico e acento gráfico.


Modernamente, o acento grave (`) é empregado apenas para indicar o fenômeno da crase.




Sílaba Subtônica


É a primitiva sílaba tônica dos vocábulos que recebem o sufixo -mente ou tem sufixo introduzido pela letra Z (-zinho, -zito, -zal, -zeiro etc.).




a m a r g a + m e n t e = a m a r g a m e n t e


Ý Ý Ý


sílaba tônica sílaba sílaba


subtônica tônica




Classificação das Palavras Segundo a Posição da Sílaba Tônica




A sílaba tônica só pode ser a antepenúltima, a penúltima ou a última. No espanhol, existe acentuação gráfica antes da antepenúltima sílaba, o que só ocorre no português com algumas formas verbais seguidas de pronome oblíquo.


Se a sílaba tônica for a antepenúltima, a palavra se chamará PROPAROXÍTONA: esplêndido, médico, árvore, lâmpada, íamos, fôssemos.


Se a sílaba tônica for a penúltima, a palavra se chamará PAROXÍTONA: esquecido, somente, cafezinho, janela, fácil, órgão.




É costume entre gramáticas classificar as PAROXÍTONAS terminadas por ditongo crescente também como PROPAROXÍTONAS EVENTUAIS ou RELATIVAS, porque tal ditongo pode ser separado (di-vór-ci-o, tê-nu-e, O-Ií-vi-a), transformando-o em hiato.




Se a sílaba tônica for a última, a palavra se chamará OXÍTONA: azul, jacaré, português, veloz, Juvenal, desesperação.




Erros Comuns de Prosódia (ou Silabadas)




Quando alguém, ao pronunciar uma palavra, coloca o acento tônico numa sílaba que não é a tônica, dizemos que cometeu uma silabada (deslocamento indevido da sílaba tônica).


Segue-se uma relação de palavras, cuja vogal tônica grifamos, comumente mal pronunciadas:






avaro decano nenúfar


ágape edito (decreto, lei) Normandia


aríete édito (ordem judicial) Nobel


aziago estratégia novel


alcíone fortuito pântano


aerólito filantropo pegada


arquétipo gratuito perito


batavo grácil pudico


bávaro ímprobo refém


barbaria inaudito revérbero


barbárie ínclito ruim


bímano intuito rubrica


boemia ínterim sátrapa


cartomancia ibero trânsfuga


ciclope lêvedo ureter


circuito maquinaria zênite epifania


crisântemo misantropo zéfiro


Obs.: interim (sem acento) é como os mineiros pronunciam inteirinho. Edito também é forma conjugada do verbo editar. Existe também a forma maquinário, variação de maquinaria.

Para a festa religiosa que celebra o Dia de Reis, pensamento iluminador e percepção intuitiva, diz-se epifania. Epifânia é apenas um nome próprio.








ACENTUAÇÃO GRÁFICA



Advertência


A solução, em termos gerais e definitivos, do problema de acentuar depende da assimilação o aplicação correta de um pequeno conjunto de regras. Evidentemente, essa aplicação correta só a consegue aquele que tiver conhecimentos básicos de Fonética e Prosódia. É preciso, pois, se necessário, revisá-los, porque de nada valem as regras de acentuação para quem, por exemplo, não sabe achar a sílaba tônica. Aliás, indicá-la é o fim exclusivo da acentuação gráfica. Por isso, qualquer acento colocado numa sílaba não-tônica (átona ou subtônica) constitui erro muito grave.




1 - Regra das Proparoxítonas


Coloca-se acento gráfico sobre a vogal tônica de todas as proparoxítonas, todas, sem exceção:


médico, árvore, lâmpada, estilística, incômodo, incólume, dermatológico, cantássemos, vendêssemos, cantaríamos, revólveres, líderes.

 

São proparoxítonas também as formas da 1ª pessoa do plural do imperfeito do subjuntivo.




2 - Regra das Paroxítonas


Coloca-se acento gráfico sobre a vogal tônica das paroxítonas terminadas por:




ditongo crescente: série, água, mágoa, exigência, pátria, história, Mário, Antônio, árduo, vídeo, gêmeo - singular ou plural;


b) ã, ãs: ímã, sótão, bênção, órgão, órgão:


ão, ãos: sótão, sótãos, órgão, órgãos;


ei, eis: jóquei, vôlei, pônei, hábeis, vendêsseis;


i, is: táxi, júri, tênis, lápis;


om, ons: iândom, rándom, prótons, nêutrons, íons;


um, uns: álbum, fórum, médium, vade-mécum, factótum;


u, us: jiu-jítsu, bônus, ônus, vírus, ânus, Vênus;




c) I, n, r, x, t, ts: fácil, hábil, útil, nível, túnel, difícil, réptil, amável, móvel, cônsul, hífen, éden, sêmen, hímen, glúten, elétron, próton, nêutron, íon, líder, fêmur, revólver, caráter, açúcar, mártir, dólar, cadáver, ímpar, câncer, hambúrguer, repórter, tórax, ônix, látex, fênix, superávit, superávits.




d) ps: bíceps, tríceps, fórceps, Quéops.




Observações e artifícios:


1) Há um caminho prático o eficiente para o reconhecimento das paroxítonas terminadas por ditongo crescente. São palavras que apresentam duas letras vogais no fim (seguidas ou não de s), e a vogal tônica está na sílaba anterior. Veja-se bem: duas letras-vogais no fim e vogal tônica antes: gló-ria, á-rea, fá-tuo, Ê-nio, ex-ce-lên-cia. Se a vogal tônica for uma das últimas (Fi-lo-so-fi-a, ca-no-a, pe-ru-a, en-vi-e, ja-mais, a-ção), ou se houver mais de duas letras-vogais no fim (rai-o, estei-o, tamoi-o, a-rei-a), não teremos paroxítona terminada em ditongo crescente.


2) Observe-se, para memorizar, que as vogais a, e, i, o, u estão presentes, pela ordem, nas terminações do item “b”.


3) As terminações do item “c” podem ser lembradas pelos iniciais do seguinte órgão fictício: Liga Nacional do Raio X.


4) Os prefixos latinos terminados em i e r não levam acento: semi-rico, anti-semita, super-homem, inter-resistente, exceto quando substantivados (o híper, o míni).




3 - Regra das Oxítonas


Coloca-se acento gráfico sobre a vogal tônica das palavras oxítonas terminadas por:




a) o, os: avó, cipó, propôs, pó, Feijó, jiló, paletó;


e, es: ipê, você, Pelé, Urupês, pé, cem, café, buquê, pontapé, vê, descrê, português;


a, as: cajá, maracujá, babá, sofá, pá, fará, atrás, má;




b) em, ens (com mais de uma sílaba):


além, porém, amém, também, refém, ninguém, neném, armazém, parabéns, vintém, intervém, mantém.




Artifício:


As terminações do item “a” podem ser lembradas pela O.E.A. (Organização dos Estados Americanos).




Observações:


Na acentuação, respeita-se a individualidade fonética das partes que estão antes e depois do hífen, procedendo como se fossem palavras independentes. Por isso: café-concerto, limpa-pés, árvore-de-bálsamo, dir-nos-á, contar-lhe-ás, cantá-la-íamos, convidá-lo-emos. 

Para acentuar formas verbais com pronomes oblíquos átonos em ênclise (depois do verbo) ou mesóclise (no meio do verbo), retire o pronome e considere a forma verbal como uma palavra só.


2) A 3ª pessoa do plural do presente do indicativo dos verbos ter, vir e seus derivados (reter, conter, advir, provir etc) recebe acento circunflexo. As demais formas submetem-se à regra, item “b”.


(tu) tens vens conténs provéns


(ele) tem vem contém provém


(eles) têm vêm contêm provêm




4 - Regra da Quebra de Ditongo


Coloca-se acento gráfico sobre a vogal tônica dos hiatos formados por vogal + i(s) ou u(s), para evitar que sejam confundidos com ditongos. Comparemos:


ai x a-í


pais x pa-ís


mau x ba-ú


ruivo x ru-í-do




Por outras palavras: acentuam-se o i e o u, quando preencherem, simultaneamente, as três condições seguintes:


- forem tônicos;


- vierem antecedidos de vogal;


- formarem sílabas sozinhos ou com s.


miúdo, gaúcho, faísca, balaústre, juízes, Grajaú, Tramandaí, saída, uísque.




Observação:

O i seguido de nh não leva acento, por causa da nasalização: rainha, tainha, ladainha, campainha, bainha, fuinha, ventoinha.


Também não se acentuam o i ou u tônicos, mas sem vogal antes, ou formando sílaba com outra letra que não o s: item, idem, aqui, anis, ali, Bauru, menu, Nova Iguaçu, bambu, caju, tatu, urubu, jacu, Cairu, juiz, Raul, sair, ruim, caiu, saiu.




5 - Regra dos Hiatos OO e EE


Coloca-se acento gráfico sobre a 1ª vogal dos hiatos oo e ee, se ela for tônica: vôo, enjôo, perdôo, abençôo, magôo, povôo, corôo, entôo, lêem, vêem, crêem, dêem, descrêem, antevêem, relêem.




Observação:


Os verbos ler, dar, ver e crer (Credelevê) e seus derivados são os que ainda apresentam êe na terceira pessoa do plural.




6 - Regra dos Ditongos Abertos


Coloca-se acento gráfico sobre a vogal tônica dos ditongos eu, ei, oi (Ei, oi eu!), quando forem abertos: chapéu, fogaréu, réus, povaréu, Ilhéus, céu, idéia, protéico, rói, heróis, heróico, bóia, paranóia, estóico.




7 - Regra do Trema


O trema depende de uma condição básica: u precedido de q ou g, seguido de e ou i. Sem essa condição, abandona-se a hipótese de trema. É fácil de entender: o trema é sinal de sonorização do u. E só há necessidade de indicar tal sonorização, quando houver o risco de não ser pronunciado. Esse risco só existe naquela condição básica.




Fora disso, será sempre pronunciado. Assim, por exemplo, qüinqüenal, sem os tremas, poderíamos ler kinkenal, mas aguada, aquoso, quórum não correriam risco de deformação.




Resumindo: coloca-se trema sobre o u, quando, entre q ou g e e ou i, for pronunciado: tranqüilo, sagüi, conseqüência, agüentar, seqüência, cinqüenta, freqüente, bilíngüe, lingüiça, pingüim, agüentar, ambigüidade.




Fora da condição básica ou mudo, nada leva.




Se, havendo a condição básica, o u for tônico, substitui-se o trema por um acento agudo: obliqúes, argúem, apazigúe, averígúe.




Observações:


1) Algumas palavras admitem duas pronúncias; por isso, dupla grafia: antiguidade, antiquíssimo, equidistante, liquidação, liquidar, liquidificador, líquido, sanguíneo, sanguinário, sanguinolento, retorquir (argumentar contrariamente, retrucar).


2) Uma palavra não admite dois acentos, como ocorre no francês, mas admite tantos tremas quantos forem necessários e também o acento: qüinqüegenário, qüinqüelíngüe, lingüística.


3) Nunca haverá trema quando a vogal u está antes de o ou a: ambíguo, averiguar, longínquo, adequado.




8 - REGRA DO ACENTO DIFERENCIAL




Acentua-se pôde (pretérito perfeito) pa-ra diferenciar de pode (presente do indicativo).




b) Acentuam-se as seguintes palavras para diferenciá-las de correspondentes átonas:




pôr (verbo)


quê (interjeição, substantivo ou pronome em fim de frase)


porquê (substantivo)


pára (verbo “parar”)


pélo, pélas, péla (verbo “pelar”)


péla, pélas (substantivo = jogo)


pêlo, pêlos (substantivo = cabelo)


pôlo, pôlos (substantivo = ave)


pólo, pólos (substantivo = extremo ou jogo)


pêra (substantivo = fruta ou barba)


côa, côas (verbo “coar”).




Correspondentes átonas:




por (preposição)


que (pronome, preposição, conjunção, advérbio ou partícula expletiva)


porque (conjunção)


para (preposição)


pelo, pela, pelas (prep. + artigo)


pela, pelas (preposição + artigo)


pelo, pelos (preposição + artigo)


polo, polos (prep. + artigo – antiga)


pera (preposição antiga)


co’a, co’as (preposição + artigo, respectivamente, essas formas são comuns em poesia).




Observações:


1) Note-se que, no item “a”, o acento diferencia pronúncias (aberto-fechado), ao passo que, em “b”, indica palavra tônica em oposição a palavra átona de mesma grafia.


2) São apenas esses os acentos diferenciais remanescentes da Lei nº. 5.765, de 18 de dezembro de 1971. Foi eliminado o acento diferencial de timbre: esse (pronome demonstrativo) / esse (nome da letra); governo (substantivo) / governo (verbo); cor (coloração) / cor (memória).




NOTA FINAL - Os nomes próprios estão sujeitos às mesmas regras. A gramática não cuida de questões herdadas ao arrepio do vernáculo.




NOTAÇÕES LÉXICAS

São os sinais de que nos servimos, na escrita, para indicar a pronúncia correta da palavra. Além do acento agudo (´), do acento circunflexo (^) e do trema (¨), são notações léxicas, diacríticos ou sinais gráficos:


a) o til - indica a nasalização das vogais a e o: maçã, ação, mãe, põe, corações;


b) a cedilha - indica que o c tem valor de ss antes de a, o e u: raça, baço, caçula;


c) o apóstrofo - indica a supressão de fonema: pau-d'arco;


d) o hífen - usa-se nas derivações prefixais, nos compostos e para ligar os pronomes oblíquos enclíticos e mesoclíticos ao verbo;


e) o acento grave - modernamente, apenas se usa para indicar a crase. Até 1971, servia para indicar as vogais subtônicas das palavras formadas por derivação sufixal.

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