domingo, 24 de abril de 2022

Júlio Vallim - uso da crase

 Na Língua Portuguesa a crase indica à contração de A + A= À. A crase representa o uso de uma preposição mais artigo feminino ou uma preposição mais pronome demonstrativo. É importante lembrarmos que a crase não é um acento, mas sim uma contração de a+a, indicando a fusão de dois sons.


Ex.: O ministro chegou à embaixada.

(PREPOSIÇÃO + ARTIGO)


O ministro chegou a + a embaixada.

à



Utiliza-se crase quando é necessário o uso de uma preposição frente a uma palavra que aceite um artigo feminino designando gênero (feminino) e número.


Volta às aulas.






Nesse caso é necessária uma preposição, termo que faz ligação entre dois outros termos para que haja concordância na oração, pois não é certo escrevermos:


Volta aulas.


Escrita dessa forma perde-se a concordância da oração, quem volta, volta a algum lugar. Assim como o termo aulas aceita artigo na designação de gênero feminino.



A crase também muda o significado de uma oração, observe o exemplo:


Bateu à porta.


Nesse caso, indica-se que a porta recebeu umas pancadinhas, alguém deu murros na porta (a porta é adjunto adverbial de lugar e exige o uso de crase).


Bateu a porta.


Nesse caso, a porta é objeto direto do verbo bater. Significa que alguém fechou bruscamente a mesma.



Maneiras de certificarmos o uso:



Existem alguns artifícios a fim de verificarmos o uso ou não da crase. Podemos reescrever a oração trocando o termo feminino por um sinônimo masculino, se na troca o A virar AO há crase.


Ex.: Graças à ajuda dos marinheiros a baleia foi salva.



Graças ao auxílio dos marinheiros a baleia foi salva.







Assim podemos verificar que existe crase, pois na troca dos termos houve A por Ao.




Outro método é o uso do verso “ se vou a e volto da crase há / se vou à e volto de crase pra quê / se está especificado crase vai ter”.



Ex.: Vou à Bahia. / Volto da Bahia.


Fui a Porto Seguro. / volto de Porto Seguro.


Fui à histórica Porto Seguro. / volto da histórica Porto Seguro.




Uso obrigatório da Crase:


Os seguintes casos apresentam obrigatoriedade quanto ao uso da crase:


Obs.: é importante a percepção que há exceções ente os casos, como tudo em nossa Língua.Essas serão também explicadas.


Artigo + Preposição:



Dediquei-me à leitura.


Resisti à oferta.


Houve um baile à fantasia.


Com a palavra Moda ou ao estilo de ocultas:


Mesmo frente a nomes masculinos utilizamos crase quando queremos representar essas expressões ( imitando, ao estilo ou moda de alguém ou alguma coisa).


Ex.: Falei à Romário./ Falei a Romário.


No primeiro caso a crase denota que houve uma imitação quanto ao estilo de Romário falar assim sendo necessário o uso de crase; no segundo caso denota uma conversa entre o sujeito e Romário, nesse caso sem o uso de crase.

Ele escreve à Machado de Assis.


Significa que alguém escreve ao estilo de Machado de Assis.


Ele escreve a Machado de Assis.


Assim, refere uma carta escrita a Machado de Assis.







Indicando Horário:


Utilizamos na indicação de hora, a não ser que seja precedido de uma preposição antes:


Ex.: A reunião será às 21 horas.


Ele chegou às 16 horas.



Após as 18 horas chegarei ao local .


Desde as 13 horas estou a esperar por você.


Obs.: A preposição ATÉ torna o uso de crase facultativo, assim sendo poderemos utilizar a crase com a preposição até antes de indicação de horário.


Ex.: Te espero até às 21 horas.



Antes do termo DISTÂNCIA quando está aparece determinada:



Ficou à distância de um metro do acontecido.



Ensino à distância ( especifica que EAD é pela distância de rede,Internet)



Estás a distância de meu coração (nesse caso não há crase,pois a distância é subjetiva).

Antes de palavra feminina em locuções, sejam elas prepositivas (à procura de, à custa de, à beira de), conjuntivas (à medida que, à proporção que) ou adverbiais (às vezes, às pressas, à vontade, à toa, à tarde, à noite, à francesa, à beça):



Comprou à vista.


Entrou à direita da noiva.


Crescemos à medida que estudamos.


Fiquei à espera de sua ligação.



Palavra Terra:



Utilizamos crase frente a esse termo quando houver representação de Terra natal ou região.


Ex.: Os astronautas chegaram à Terra.





Os marinheiros chegaram a terra.


No caso dos marinheiros terra representa chão firme ou solo e não região, assim não se utiliza a crase.



O presidente voltou à terra natal.



Palavra Casa:



Frente ao termo casa há crase apenas quando existe um complemento sobre a casa.



Ex.: Fui à casa de minha tia.


Todos voltaram à casa de Marília depois da reunião.


Nos dois casos existe um complemento sobre a casa,porém, se não houver o complemento não se utiliza a crase.


Ex.: Fui a casa com meus amigos.


O complemento refere ao sujeito e não a casa.


Fui a casa.









Frente a pronomes: aquele, aquela, aquilo, quando for possível substituir por a esse,a essa, a isso:



Permaneci indiferente àquele barulho. (a esse)


Não me refiro àquilo.(a isso).





Crase Facultativa:


Existem casos facultativos na Língua Portuguesa, ou seja, podemos utilizar ou não a contração.



Frente a nomes femininos:


Entreguei a Gabriela o presente. - Entreguei o presente a Gabriel.


Entreguei à Gabriela o presente. - Entreguei o presente ao Gabriel.


Acompanhado de adjunto adnominal - obrigatório:


Contei tudo à culta Patrícia. - Contei tudo ao culto Vicente.


Pessoas com quem não se tem intimidade - proibido:


Referiu-se a Irmã Dulce.


Referiu-se à religiosa Irmã Dulce. - obrigatória, porque está acompanhado de determinante



Antes dos pronomes possessivos minha, tua, sua, nossa, vossa:




Entreguei o presente à minha tia. - Entreguei o presente ao meu tio.


Entreguei o presente a minha tia. - Entreguei o presente a meu tio.


Com elipse do substantivo - obrigatório:


Refiro-me à minha empresa e não à sua.




Depois da preposição ATÉ:


Vamos até a farmácia. - Vamos até o laboratório.


Vamos até à farmácia. - Vamos até ao laboratório.




Uso proibido da Crase:



Antes de Nossa Senhora e de nomes de santas, com exceção de Virgem Maria:


Orei a Nossa Senhora.


Rezei a Santa Inês.



Antes de nomes masculinos:


Andei a cavalo.


Vendeu a prazo.




Antes de verbo:


Fiquei a esperar dias seu telefonema.


Começou a dirigir cedo.



Com A no singular antes de palavra no plural:



Não me refiro a mulheres, mas sim a crianças.


Se o A vier seguido de S, há crase:


Obedeço às leis que respeitem os direitos humanos.



Entre palavras repetidas:


Cara a cara, frente a frente, face a face, lado a lado, dia a dia, passo a passo.


Antes de pronomes, com exceção de mesma, própria, outra, senhora, senhorita, dona e madame:


Serei imensamente grata a estas pessoas. (demonstrativo)


A quem serão entregues estes pedidos? (interrogativo)


Fizemos o convite a Vossa Senhoria. (de tratamento)


Solicitei a ela que tivesse calma, pois tudo vai dar certo. (pessoal)


Agradeço a Deus, a quem pertence tudo que sou e tenho. (relativo)


Dê comida a qualquer um que tenha fome. (indefinido)


Antes de artigo indefinido:


Fomos a uma ilha paradisíaca.


Antes de numeral, exceto horas:


O evento ocorrerá de 20 de janeiro a 10 de fevereiro.

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