quinta-feira, 21 de abril de 2022

João era a reencarnação de Elias?

 Alguns textos, quando considerados superficialmente, podem favorecer essa interpretação... Contudo, a Bíblia está repleta de metáforas que identificam a obra de uma pessoa com ela própria...


Pr. Moisés Mattos

Escritores espiritualistas tentam justificar o fenômeno da reencarnação, usando ensinos de Jesus. Numa tentativa de mostrar que a reencarnação é o elo perdido do cristianismo, uma autora norte-americana diz que João Batista era o profeta Elias reencarnado. A verdade é que, na “doutrina” da reencarnação, se procuram soluções para questões básicas da vida. A ideia da reencarnação surge da necessidade de explicar a origem da vida, o que ocorre depois da morte, ou o enigma do sofrimento humano.


Temos assistido, quase inertes, a uma invasão de ideias orientais, especialmente aquelas que tentam explicar a origem e o destino do homem. A reencarnação é um exemplo claro disso. Tem sido tema de livros e debates televisivos, e ocupa espaço destacado nas conversas entre amigos no dia-a-dia.


Distorções – Os que defendem essa crença dizem que “a reencarnação é o movimento consecutivo da alma, de uma vida corporal para outra, com o objetivo de trabalhar seu caminho de volta ao lar original, à unidade com o Universo”. (John Snyder, Reencarnação ou Ressurreição? p.18). O assunto é tão importante que outro autor chega a dizer que “o abandono da doutrina da reencarnação é um dos grandes equívocos do pensamento humano. E grande parte das mazelas que assolam a civilização moderna se deve ao desconhecimento dessa ideia tão simples e de tão importantes consequências morais” (Hermínio C. Miranda, Reencarnação e Imortalidade, p. 29).


Mas o maior problema é que personagens bíblicos são usados para apoiar esse tipo de tese. Alguns textos, quando considerados superficialmente, podem favorecer essa interpretação, entre eles Lucas 1:17, Mateus 11:13 e 14,17:11-13. Aí se afirma que João Batista viria “no espírito e poder de Elias”. Nesses versos, onde Jesus parece identificar a pessoa de Elias com João Batista, deveríamos entender João não como um Elias reencarnado, mas como alguém que viria para cumprir uma missão semelhante à de Elias. Em Mateus 11:14, quando se diz: “Este é Elias”, referindo-se a João, Jesus está lançando mão de uma metáfora. Em outras ocasiões, usando o mesmo recurso, Jesus declarou que era “a Porta”. Na Ceia, tomando o pão, disse: “Isto é meu corpo”.


A Bíblia está repleta de metáforas que identificam a obra de uma pessoa com ela própria. Diz que Jesus é a “Pedra” (1 Coríntios 10:4). E toda pessoa, de sã consciência, sabe que Cristo não é uma pedra literal, e que essa é uma linguagem figurada que aponta Sua pessoa como a base da igreja. De igual modo, as expressões que ligam João Batista a Elias têm por objetivo enfatizar que a missão de ambos era semelhante. Os dois tinham como alvo levar o povo ao arrependimento e à conversão, bem como reafirmar a verdadeira adoração. Em Lucas 1:16, lemos: “E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus.” Desta forma, a ênfase está na semelhança da mensagem e no propósito da missão, e não na pessoa.


“Não sou Elias” – Há evidências, na própria Bíblia, de que os autores não tinham interesse em identificar a pessoa de João Batista com Elias. Por exemplo, em João 10:41, é dito que “João Batista não fez sinal algum”. Na linguagem do evangelho de João, quer dizer que ele não fez milagres. Isso diferencia os dois, pois Elias ressuscitou mortos e fez descer fogo do céu. E João Batista não fez esses sinais.


No mesmo evangelho, João Batista diz: “Não sou Elias” (João 1:21). A resposta parece contrariar os outros evangelhos (os sinópticos). Mas o fato é que no evangelho de João, o Batista é apresentado como uma testemunha ideal de Cristo. E a afirmação dele, de que não era Elias, é registrada para desmerecer a ideia, popular entre os judeus, de que Elias voltaria…


O teólogo Hans LaRondelle, no livro Chariots of Salvation, p. 176, conclui que “ele (João Batista) não proclama ser uma reencarnação do antigo profeta Elias (João 1:21). Ao contrário disso, enfatizou sua missão como sendo a ‘voz’ ou a ‘mensagem’, para anunciar o iminente aparecimento do Messias”. Depois destas considerações, concluímos que João Batista não era o Elias reencarnado, por várias razões:


1. A afirmação de Jesus em Mateus 11:11: “Entre os nascidos de mulher, não surgiu outro maior do que João Batista” não diz reencarnado, mas “nascido”.


2. Crer na reencarnação seria negar que o pecador é salvo pela graça (Efésios 2:8) e que seus pecados são purificados por Jesus através de Seu sangue (1 João 1:9). A mais forte razão para crermos que o homem não precisa reencarnar-se para ser salvo está nas palavras do próprio João Batista: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1:29).


3. O mais forte de todos os argumentos está no fato de que Elias, segundo a Bíblia, nunca morreu (2 Reis 2:11), e, por isso, não estaria disponível para a reencarnação.


João Batista, portanto, foi um continuador da obra de restauração iniciada por Elias. O Espírito e o poder de Deus estavam sobre ele a fim de preparai o caminho para o Messias. Em nenhum momento, a Bíblia sugere ou aprova a teoria da reencarnação com qualquer de seus personagens. Essas ideias são preconcebidas e surgem de um estudo desatento e superficial, com objetivos tendenciosos.

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