A voz verbal se refere a forma como o verbo se encontra para indicar sua relação com o sujeito. O verbo pode indicar uma ação praticada pelo sujeito (voz ativa), uma ação sofrida pelo sujeito (voz passiva) ou uma ação praticada e sofrida pelo sujeito (voz reflexiva).
Veremos agora cada uma dessas vozes e também como transpor frases entre uma e outra. Tentarei ser sucinto e não te encher de detalhes, por ora, apenas o que é mais importante para a sua prova.
Voz Ativa
A voz ativa indica uma ação praticada pelo sujeito. Nesse caso, chamamos o sujeito de agente da ação.
- Eu escrevo a carta. - Tu visitaste o primo. - Nós plantaremos a árvore.
Apenas cuide com a locução verbal ter/haver + particípio, que pode aparecer na voz ativa.
- Eu havia escalado a montanha. - Nós tínhamos comprado uma casa.
Voz Passiva
A voz passiva indica uma ação sofrida ou desfrutada pelo sujeito. Nesse caso, chamamos o sujeito de paciente da ação. A voz passiva se divide em analítica e sintética.
Há certos verbos transitivos indiretos, como apelar, assistir (= ver), pagar/perdoar (com complemento de pessoa), responder etc. em que há “concessões” para o uso da forma passiva, como diz Bechara. Napoleão Mendes de Almeida vai além, defendendo o uso na voz passiva de assistir (= ver). Veja:
– Não apelaram da sentença. / A sentença não foi apelada.
– Muitas pessoas assistiram à missa. / A missa foi assistida por muitas pessoas.
– Pagamos às empregadas. / As empregadas foram pagas por nós.
– Todos lhe perdoaram. / Ele foi perdoado por todos.
– Reponder-se-ão às dúvidas. / As dúvidas serão respondidas.
– João abusou de Maria. / Maria foi abusada por João.
Os verbos obedecer e desobedecer, apesar de hoje serem transitivos indiretos, eram considerados transitivos diretos antigamente. Por esse motivo, muitos gramáticos registram que tais verbos podem figurar na voz passiva: A ordem da mãe não foi obedecida / Obedeceu-se a ordem.
Outra informação importante é que os verbos assistir (= ajudar) e pagar/perdoar (com complemento de coisa) podem ser passados para a voz passiva analítica normalmente, pois, nesses casos, eles são transitivos diretos:
– O professor continua assistindo os alunos. / Os alunos continuam sendo assistidos pelo professor.
– Tomara que tenham perdoado toda a dívida. / Tomara que toda a dívida tenha sido perdoada.
Com os verbos neutros (nascer, viver, morrer, dormir, acordar, sonhar etc.), não se pode ver voz ativa, passiva nem reflexiva, porque o sujeito não pode ser visto como agente, paciente ou agente-paciente. Em ‘Ele levou uma surra.’ temos um verbo de sentido passivo, mas a voz não é passiva. Os verbos de sentido passivo também não podem ter voz ativa, passiva nem reflexiva.
Há formas passivas com sentido ativo e formas ativas com sentido passivo.
Os verbos que não são ativos nem passivos nem reflexivos são chamados neutros, como os verbos de ligação e impessoais.
Os verbos chamar-se, batizar-se, operar-se (no sentido cirúrgico), vacinar-se são geralmente considerados passivos pronominais (voz passiva pronominal). O pronome apassivador, nesses casos excepcionais, assume formas de 1ª e 2ª pessoas. Alguns gramáticos, como Ulisses Infante, Ernani Terra, William Cereja, Ataliba Teixeira de Castilho e Mattoso Câmara, consideram-no pronome reflexivo.
A voz passiva analítica é formada pelos verbos ser/estar/ficar/vir/andar/ir + particípio, ou pelos verbos ter/haver + sido + particípio. O verbo auxiliar deve concordar em número e pessoa com o sujeito, enquanto que o particípio deve concordar em gênero e número com o sujeito.
- A carta é escrita por mim. - O primo foi visitado por ti. - A árvore foi plantada por nós. - Os resultados da pesquisa foram apresentados pela Instituição. - João tinha sido baleado por bandidos num assalto.
A voz passiva sintética possui um verbo transitivo direto (VTD) ou transitivo direto e indireto (VTDI) acompanhado do pronome apassivador se, também conhecido como partícula apassivadora. Nesses casos, o sujeito sempre vem explícito, e o verbo concorda com ele em número e pessoa.
- Apresentaram-se os resultados da pesquisa. (VTD) - Apresentaram-se os resultados da pesquisa aos clientes. (VTDI) - Ainda se alimenta a esperança.
Para identificar se uma frase está na voz passiva sintética siga os seguintes passos:
- Perceba se o verbo é VTD ou VTDI, conjugado na 3ª pessoa (singular ou plural);
- Verifique se o pronome se é uma partícula apassivadora;
- Verifique se o sujeito da frase é o objeto direto do verbo;
A voz passiva possui ainda, um detalhe chamado agente da passiva, normalmente iniciado pela preposição e ou de. Veremos isso em detalhes quando estivermos na parte de sintaxe da língua, por ora, lembre-se que o agente da passiva é quem pratica a ação sofrida pelo sujeito. Atente aos exemplos:
- Estava acompanhado de alguns amigos. - Eu fui visitado pelos parentes.
Transposição de Vozes
As vozes ativa e passiva são, geralmente, apenas duas maneiras de se dizer a mesma coisa. Porém, existem casos onde existe uma diferença no sentido da frase. Portanto, cuidado quando a sua questão pedir que se mantenha o sentido da frase!
- Um só aluno não fez o dever. - O dever não foi feito por um só aluno.
Você consegue perceber a diferença no sentido das frases acima? Deixe sua opinião nos comentários.
Voz Ativa ⇒ Voz Passiva Analítica
Primeiramente, para que essa transposição possa ocorrer, precisamos verificar se o verbo é transitivo direto, ou transitivo direto e indireto. Com verbos transitivos indiretos (com exceção dos verbos obedecer, desobedecer e responder), intransitivos e de ligação, não há transposição.
- O homem acompanhou todas as pendências do dia. (voz ativa, VTD) - O patrão sempre delegará responsabilidades ao empregado. (voz ativa, VTDI)
Passando essa frase para a voz passiva:
- O objeto direto vira sujeito;
- O sujeito vira agente da passiva;
- O verbo vira uma locução verbal (ser/estar/ficar + particípio), mantendo-se o tempo e o modo verbal;
- Se o verbo for VTDI, o objeto indireto continua com a função de objeto indireto;
- Todas as pendências foram acompanhadas pelo homem. (voz passiva analítica) - Responsabilidades sempre serão delegadas pelo patrão ao empregado (voz passiva analítica)
Alguns verbos de sentido passivo não permitem a passagem da voz ativa para a voz passiva, pois o sujeito não pratica a ação. Alguns exemplos de verbos são levar, ganhar, receber, tomar, aguentar, sofrer, pesar (de peso), ter, conter e haver (no sentido de existir).
- Maria pesa 50 quilos. - 50 quilos é pesado por Maria (???)
Voz Ativa ⇒ Voz Passiva Sintética
Para que ocorra esta transposição é necessário que o sujeito da frase na voz ativa seja indeterminado e que a frase esteja na 3° pessoa do plural. Para isto, basta acrescentar o pronome apassivador se.
- Comeram a banana. - Comeu-se a banana. - Resolveram todas as pendências da empresa. - Resolveram-se todas as pendências da empresa.
Voz Passiva Analítica ⇒ Sintética
Para fazer essa transposição, seguimos os seguintes passos:
- Todas as pendências da empresa foram resolvidas.
- Eliminamos o verbo auxiliar e passamos o verbo principal para o mesmo modo, tempo e pessoa em que estava o verbo auxiliar;
- Juntamos o pronome apassivador se ao verbo;
- O sujeito fica, normalmente, após o verbo, que concorda com ele;
- Resolveram-se todas as pendências da empresa.
Voz Reflexiva
A voz reflexiva indica que, ao mesmo tempo, o sujeito praticou e sofreu uma ação. O sujeito é o agente e o paciente da ação. Sempre haverá um pronome oblíquo átono (me, te, se, nos, vos), como objeto do verbo.
Não confunda reflexividade com voz reflexiva. Na voz reflexiva, o verbo é transitivo direto (ou direto e indireto) e tem como objeto um dos pronomes oblíquos átonos (pronomes reflexivos) me, te, se, nos, vos. Ou seja, é preciso um pronome reflexivo ligado ao verbo para que batamos o martelo: “Voz reflexiva!”. Para sabermos se é reflexivo, vai uma dica: basta acrescentar a mim mesmo, a ti mesmo, a si mesmo, a nós mesmos, a vós mesmos, respectivamente. A reflexividade aparece em estruturas diferentes, sem pronome oblíquo átono: “Deixaram atrás de si o passado sombrio.”. Essa frase está na voz ativa.
No ensino de grandes estudiosos, como Adriano da Gama Kury e Evanildo Bechara, a voz reflexiva é só um subtipo de voz medial. Há outros tipos de voz medial, que não a reflexiva. Nela, há verbos que denotam atos espontâneos ou sentimentos, sem agente ou causa aparente. Os verbos vêm acompanhados ora de parte integrante do verbo (em verbos pronominais), ora de pronome expletivo, nunca de pronomes reflexivos. Veja:
– O dinheiro se foi.
– O sol se pôs.
– Nós nos queixamos muito da vida.
– Nunca me arrependi daquilo.
– Nunca mais se atreva a expor minha mulher ao ridículo.
– Não me venha com bobagens!
– João se levantou.
Com o prefixo auto-, a voz é sempre reflexiva: “Ele se automutilou.”.
Sobre o exemplo “O preso suicidou-se.”, o gramático Domingos Paschoal Cegalla diz que há voz reflexiva. A semântica do verbo já é reflexiva por natureza, pois sua etimologia latina (sui + cida) é reflexiva, mas alguns linguistas, como Claudio Cezar Henriques, pensam que sintaticamente é impossível que a voz seja reflexiva, pois o se não exerce função de objeto.
- Eu me barbeei. - Eu me visto. - Tu te feriste. - Nunca mas se atribua o título de Presidente. - Ela se arrogou o poder de decisão. - As vezes colocamo-nos em situação de risco. - Vós vos impusestes uma condição de humildade.
Existe também, a voz reflexiva recíproca, quando aparecem dois seres, praticando a mesma ação, um no outro.
- Eles se cumprimentaram. - Nós nos beijamos. - Espero que vós vos abraceis em cena. - Eles se entreolharam.
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