Você pode se perguntar o que é concordância nominal? A concordância nominal é a adequada flexão em gênero (masculino e feminino) e número (singular e plural) dos determinantes que caracterizam um determinado substantivo. Os determinantes podem ser: artigos, adjetivos, numerais e pronomes.
Exemplo de concordância nominal:
– Aquelas duas lindas moças já disputaram o Miss Brasil.
Ao classificar morfologicamente cada termo em destaque, temos:
Aquelas: pronome
duas: numeral
lindas: adjetivo
moças: substantivo
O substantivo é a peça-chave nesse tipo de concordância. Logo, pelo fato de moças estar no feminino e no plural, as demais palavras que caracterizam esse substantivo (aquelas, duas e lindas) também devem estar no feminino e no plural, conforme a regra geral de concordância nominal.
No entanto, alguns casos vão além dessa simples regra. Vejamos os principais a seguir.
Regras de concordância nominal
Quando pensamos nas regras de concordância nominal, devemos lembrar que as mesmas sempre tentam concordar adjetivos, numerais, pronomes adjetivos e artigos com o número e gêneros dos substantivos. Vamos conferir cada uma delas em detalhes agora.
Concordância nominal de adjetivos com o substantivo
1. Um adjetivo para dois ou mais substantivos
Quando um adjetivo caracteriza dois ou mais substantivos, ele deve concordar com o substantivo mais próximo (concordância atrativa) ou com todos os substantivos (concordância gramatical).
– Gosto de alunos e alunas dedicadas. (concordância atrativa)
– Gosto de alunos e alunas dedicados. (concordância gramatical)
2. Adjetivo antes dos substantivos
Quando o adjetivo estiver anteposto aos dois ou mais substantivos que caracteriza, é obrigatória a concordância com o termo mais próximo. Veja alguns exemplos de concordância nominal:
– Consumi bons vinhos, comidas e livros.
– Consumi boa comida, vinhos e livros.
3. Dois ou mais adjetivos para um substantivo
Quando dois ou mais adjetivos caracterizam o mesmo substantivo, o substantivo deve ficar no plural.
– As diferenças entre os setores público e privado são grandes.
Contudo, se houver um determinante antes do segundo adjetivo, o substantivo deverá ficar no singular.
– As diferenças entre o setor público e o privado são grandes.
4. Adjetivo composto
Quando o adjetivo em questão é composto, somente o segundo termo da composição varia para concordar com o substantivo.
– As medidas econômico-financeiras da diretoria não agradaram a todos.
Porém, se houver um substantivo na composição, o adjetivo fica invariável. Veja como fica a concordância nominal:
– Vestidos vermelho-sangue
– Sofás cinza-escuro
– Cadernos amarelo-ouro
– Camisas marrom-terra.
São sempre invariáveis: azul-marinho, azul-celeste, furta-cor, ultravioleta, sem-sal, sem-terra, verde-musgo, cor-de-rosa, zero-quilômetro. Infravermelho é variável.
Advérbios x adjetivos
Algumas palavras, dependendo do contexto, podem ser tanto advérbios quanto adjetivos, exemplos: caro, barato, meio, junto, muito, pouco e bastante. Para identificar a qual classe essas palavras pertencem, é bem simples:
– Quando elas se ligam a um verbo, adjetivo ou outro advérbio, são consideradas advérbio, que é uma classe invariável, isto é, não sofre variação em gênero e em número.
– Quando elas se ligam a um substantivo, pronome, numeral ou qualquer palavra de valor substantivo, são consideradas adjetivo, que é uma classe variável em gênero e em número.
Exemplos:
– Paguei caro/barato pela bolsa. (advérbios – invariáveis)
– Comprei aquela bolsa cara/barata. (adjetivos – variáveis)
– Ando meio desatenta. (advérbio – invariável)
– Comi meia banana. (numeral – variável)
– Os fins justificam os meios. (substantivo - variável)
– Fica junto à cerca. (advérbio – invariável)
– Juntas nós podemos mais. (adjetivo – variável)
– Gosto muito / pouco deles. (advérbio – invariável)
– Gosto de muitos / poucos amigos. (pronome – variável)
– Estudo bastante. (advérbio – invariável)
– Estudo bastantes matérias. (pronome – variável)
Concordância nominal do pronome com dois ou mais substantivos
Se um pronome fizer referência a dois ou mais substantivos de gêneros diferentes, então ele deve ficar no masculino plural.
– A simpatia, o respeito e a prudência, a mãe os havia ensinado aos filhos.
Concordância nominal de numerais ordinais com o substantivo
Com numeral ordinal, é o substantivo que pode variar. Opções possíveis:
– A primeira e segunda aula(s) foram ótimas.
– A primeira e a segunda aula(s) foram ótimas.
Se o substantivo estiver anteposto aos numerais, é obrigatório que ele fique no plural:
– As aulas primeira e segunda foram ótimas.
Casos especiais de concordância nominal
Também é importante estudar a concordância nominal e casos especiais sobre o tema. Veja alguns agora mesmo.
1. Palavras: mesmo, próprio, só, extra, junto, leso, quite, obrigado, anexo, apenso e incluso
Quando tais palavras possuem valor de adjetivo, elas devem variar normalmente.
– A criança mesma pintou o quadro.
– As amigas vivem falando de si próprias.
– As filhas ficaram sós. (= sozinhas)
– Costumava fazer cinco horas extras por semana.
– Os quatro estudavam juntos naquela escola.
– Tentar submeter o território nacional ao domínio de outro país é crime de lesa-pátria.
– Eles estão quites com o serviço militar.
– As alunas disseram ao professor: “Muito obrigadas!” e saíram.
– As gravações seguem anexas.
– As fichas seguem apensas.
– Estão inclusos os valores de transporte.
Mesmo, quando é advérbio, sinônimo de realmente, ou conjunção, sinônimo de embora, é invariável.
As expressões a sós, junto a e junto de são invariáveis.
Extra, como prefixo, é invariável.
2. Expressões: é necessário, é bom, é proibido, é permitido, é vedado
Junto a essas expressões, o adjetivo fica invariável quando se refere a um substantivo de sentido genérico, ou a um substantivo sem um determinante (artigos, adjetivos, numerais e pronomes).
– Alface é bom.
– É necessário disciplina para ser aprovado.
– É proibido entrada de animais neste estabelecimento.
No entanto, quando o substantivo está acompanhado de um determinante, o adjetivo deve variar.
– Esta alface é boa.
– É necessária uma disciplina militar para ser aprovado.
– É proibida a entrada de animais neste estabelecimento.
3. Substantivo com valor contextual de adjetivo
Quando um substantivo assume valor contextual de adjetivo, ele nunca varia.
– Ganhei dois pijamas laranja.
– Senti umas dores de cólica monstro.
– Há muitos funcionários fantasma na cidade.
– Recebeu notícias relâmpago na véspera do casamento.
– Realizava ataques surpresa contra os inimigos.
4. Verbos no particípio
O verbo no particípio funciona como adjetivo na voz passiva analítica, portanto concorda em gênero e número com o substantivo também.
– Os lutadores brasileiros foram nocauteados no campeonato.
– Minha filha e meu sobrinho tinham sido aprovados na universidade federal.
Porém, quando o particípio faz parte de um tempo composto, fica invariável.
5. Pronome indefinido neutro + preposição “de” + adjetivo
Nas expressões formadas por pronome indefinido neutro (nada, algo, muito, tanto, etc.) + preposição “de” + adjetivo, este último normalmente é usado no masculino singular.
– Os jovens tinham algo de misterioso.
Porém, também podem concordar por atração com o sujeito:
– Maria e Ana nada tinham de ingênuas.
Silepse de gênero e de número na concordância nominal
Silepse, também chamada de concordância irregular, ideológica ou figurada, é uma figura de linguagem na qual a concordância acontece não com o que está explícito na frase, mas com o que está subentendido. Ou seja, trata-se de uma concordância ideológica, que ocorre com a ideia que o falante quer passar.
Há dois tipos de silepse na concordância nominal:
1. Silepse de gênero
O determinante fica em gênero diferente do substantivo (ou palavra substantivada) ao qual faz referência, pois faz concordância com o sexo da pessoa a que se refere o tratamento.
– Presidente, Vossa Excelência está apressado!
2. Silepse de número
Não há flexão nominal, mas o determinante fica em número diferente do substantivo (ou palavra substantivada) ao qual faz referência.
– O brasileiro é muito persistente. Com as inúmeras dificuldades do país, aprenderam a ser batalhadores.
Silepse é erro gramatical?
A silepse, por ser uma figura de linguagem, tem fundamento semântico e estilístico e não é considerada erro gramatical. No entanto, ela não se aplica a construções próprias do registro coloquial, as quais não contam com intenção estilística e nem possuem respaldo no registro culto, exemplo: “a gente vamos”.
São invariáveis: menos, alerta, pseudo, a olhos vistos, salvo, tirante, exceto, mediante, não obstante, de forma que, de modo que, de sorte que, de maneira que.
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