sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Professor João Trindade explica o emprego dos sinais de pontuação

Os sinais de pontuação são usados para estruturar as frases escritas de forma lógica, a fim de que elas tenham significado. A pontuação é tão importante na linguagem escrita quanto a entonação, os gestos, as pausas e até o tom de voz, são na linguagem oral. Bem empregados, os sinais de pontuação são um grande recurso expressivo:

"Oh! que doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai de mim! despertar?" (Almeida Garret)

Mal colocados, no entanto, eles podem provocar confusão ou até mudar o sentido das frases:



Raquel não me respondeu. Quando a procurei, já era tarde.
Raquel não me respondeu quando a procurei. Já era tarde.



I.                   O ponto
O ponto (ou ponto final) é utilizado basicamente no final de uma frase declarativa:



"Não sou poeta e estou sem assunto." (Fernando Sabino)

Alguns gramáticos chamam de ponto final apenas o ponto que encerra uma sentença. Ao ponto seguido por outras frases chamam de ponto simples. Além de finalizar um período, o ponto é utilizado em abreviaturas (ponto abreviativo: etc., h, sra.) e é muito usado quando apenas uma vírgula bastaria. É um recurso estilístico:

"Viera a trovoada. E, com ela, o fazendeiro, que o expulsara."
(Graciliano Ramos)

Corintianos lotam o estádio. E rezam



2. A vírgula
A vírgula, em seus vários usos, é fundamental para a correta entoação e interpretação da frase escrita. Como simples sinal de pausa, ela indica um tempo geralmente menor que o do ponto. Todo cuidado, porém, é pouco para que ela não seja empregada como sinal de pausa em situações equivocadas. Compare o ponto e a vírgula como sinal de pausa:



Era de noite, as janelas se fechavam.
Era de noite. As janelas se fechavam.



SINAIS DE PONTUAÇÃO

PONTO

( . )

VÍRGULA

( , )

PONTO-E-VÍRGULA

( ; )

DOIS PONTOS

( : )

PONTO DE INTERROGAÇÃO

( ? )

PONTO DE EXCLAMAÇÃO

( ! )

RETICÊNCIAS

( ... )

PARÊNTESES

( ( ) )

TRAVESSÃO

( - )

ASPAS

( “ “ )



     O emprego da vírgula
O uso da vírgula é basicamente regulado pela sintaxe. Assim, nem toda pausa é marcada por vírgula:

Seus grandes e valorosos serviços em prol da causa revolucionária de seu país foram tardiamente reconhecidos.



Na leitura em voz alta desse trecho, normalmente faríamos uma pausa após a palavra país. O uso da vírgula nesse caso, porém, é incorreto porque estaríamos separando o sujeito do predicado. É incorreto separar o verbo do objeto (direto ou indireto), o verbo do predicativo, o nome do complemento nominal ou adjunto adnominal, a locução verbal da voz passiva do agente da passiva, a oração principal e a oração subordinada substantiva (exceto a apositiva - vírgula, dois-pontos ou travessão), a oração adjetiva restritiva e a oração principal e a oração adverbial consecutiva e a oração principal.

Como usar a vírgula

· Em enumerações, para separar os elementos que as compõem:

Machado de Assis foi contista, romancista, poeta, dramaturgo e crítico literário.

Nosso maior contista, romancista, poeta, dramaturgo e crítico literário foi Machado de Assis.

(geralmente, o último termo da enumeração vem separado pela conjunção e)

· Em intercalações, quando palavras ou expressões se interpõem entre o sujeito e o verbo, principalmente conjunções adversativas e conclusivas; entre o verbo e seus complementos (objetos) ou entre verbo e predicativo:

Os funcionários, a pedido do diretor,alteraram o horário.

                                                 sujeito                                                 verbo

Os funcionários alteraram, a pedido do diretor,o horário.

                                                                    verbo           objeto

Os funcionários estavam, porém,conscientes de seus direitos.

                                                                   verbo                     predicado                 

Atenção: quando se trata da intercalação de uma expressão curta, pode-se omitir a vírgula, exceto quando se pretende dar ênfase:

Os funcionários alteraram imediatamente o horário da semana.

As crianças comem brincando uma lata de sorvete!

· Para separar adjunto adverbial anteposto ou intercalado, sempre que ele seja extenso ou quando se quer destacá-lo:

Depois de inúmeras tentativas, desistiu.

Escove os dentes,sempre, e diga adeus às cáries!



· Para isolar o predicativo quando não for antecedido por verbo de ligação:



Furioso, levantou-se.



·  Para isolar aposto explicativo ou comparativo. O aposto especificativo não é separado por vírgula, liga-se diretamente ao termo ao qual se relaciona:

A minha avó, Maria, era suíça.



· Para isolar o vocativo, inclusive o vocativo de ofícios e cartas comerciais (admite-se também o uso de dois-pontos):

Estamos de férias, pessoal !



· Para marcar elipse ou zeugma do verbo:



Sua palavra é a verdade; a minha, a lei.



· Para separar orações coordenadas assindéticas e sindéticas, exceto as aditivas iniciadas pela conjunção e:



"Sei que ele andou falando em castigo,mas ninguém se impressionou."
(José J. Veiga)
"Quis retroceder, agarrou-se a um armário, cambaleou resistindo
ainda e estendeu os braços até a coluna."
(Lygia Fagundes Telles)



Atenção: muitas vezes usa-se a vírgula antes de e, principalmente quando liga orações com sujeitos distintos:

"Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali."
(Graciliano Ramos)

Para dar ênfase, marcando uma pausa maior:

"Disse, e fitou Don'Ana e sorriu para ela."
(Jorge Amado)

Quando forma um polissíndeto, ou seja, repetição enfática da conjunçaõ:

Levanta, e senta, e vira, e torna a se levantar.

· Para isolar orações adjetivas explicativas. A vírgula pode ser substituída por travessão ou parênteses. Nas orações adjetivas restritivas, não há vírgula:

Minha avó,que era francesa, não tolerava grosserias.

· Para separar as orações adverbiais e substantivas quando antecedem a oração principal ou intercaladas, com exceção das adverbiais comparativas, conformativas e proporcionais:

"Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado."
(Manuel Bandeira)

Como Cassiano chegou a prefeito, ninguém soube.

Atenção: quando pospostas à oração principal, as orações substantivas não vêm separadas por vírgula, com exceção da substantiva apositiva, que se separa por vírgula, dois-pontos ou travessão:

Ninguém soube como Cassiano chegou a prefeito.

As orações adverbiais pospostas à principal geralmente se separam por vírgula, nem sempre
obrigatória:

A chuva não veio,embora todos a esperassem.

As mesmas regras que valem para as orações desenvolvidas valem para as reduzidas:

"Para erguer-se, foi necessária a ajuda do carcereiro."
(Murilo Rubião)

3.Ponto-e-vírgula
O ponto-e-vírgula é usado basicamente quando se quer dar à frase a pausa e a entoação equivalentes ao ponto, mas não se quer encerrar o período:

"A alma exterior daquele judeu eram os seus ducados;
perdê-los equivalia a morrer."
(Machado de Assis)

· O ponto-e-vírgula também é utilizado para separar itens de uma enumeração:

O plano prevê:
a) internações;
b) exames médicos;
c) consultas com médicos credenciados.



4. Dois-pontos
Usam-se os dois-pontos, geralmente:

· Para introduzir uma explicação, um esclarecimento, um aposto ou oração apositiva, um exemplo, nota ou observação:

"Cada criatura humana traz duas almas consigo:
uma que olha de dentro para fora,
outra que olha de fora para dentro..."
(Machado de Assis)

· Para introduzir uma citação ou a fala do personagem, ou o vocativo de correspondências oficiais:

O avô costuma resmungar:
"Quem sai aos seus, não degenera..."



5. Interrogação e exclamação

· O ponto de interrogação marca o fim de uma frase interrogativa direta:

Quem te deu licença?

· O ponto de exclamação marca o fim de frases optativas, imperativas ou exclamativas:

Como era lindo o meu país!

6. Reticências
As reticências interrompem a frase, marcando uma pausa longa, com entoação descendente, muitas vezes devido a elementos de natureza emocional. São usadas basicamente:

· Para indicar uma hesitação, uma incerteza ou mesmo um prolongamento da idéia, para indicar omissão de pensamento, para permitir que o leitor, com sua imaginação, prossiga imaginando o texto ou para indicar que algumas partes do texto foram suprimidas:

"Há um roer ali perto... Que é que estarão comendo?" (Dionélio Machado)

· Para sugerir ironia ou malícia ou para realçar uma palavra ou expressão:

"— Se ele até deixou a mulher que tinha, Sinhô.
É um fato. Estou bem informado... — e ria para
João Magalhães, lembrando Margot."
(Jorge Amado)

7. Aspas
As aspas são usadas para assinalar citações textuais e para indicar que um termo é gíria, estrangeirismo, neologismo, arcaísmo ou expressão popular ou que está sendo usado em sentido diverso do usual (conotativo), para dar realce a uma palavra ou expressão, conferindo-lhe ironia ou ênfase, ou na representação de nomes de obras literárias e artísticas, como livros, jornais, revistas, filmes, músicas, podendo ser substituída pelo itálico, negrito ou sublinhado:

O presidente afirmou em seu discurso: "Toda corrupção será combatida!"

Minha turma é "fissurada" nessa música.

8. Travessão e parênteses
São usados para esclarecer o significado de um termo. Os parênteses servem para introduzir explicações, comentários, reflexões, considerações, para separar orações intercaladas com verbos de elocução ou dicendi, para indicar possibilidades alternativas de leitura, para delimitar o ano de nascimento e morte de uma pessoa e para indicar marcações cênicas em uma peça de teatro:

Granada — último refúgio dos árabes — foi conquistada em 1492.

Granada (último refúgio dos árabes) foi conquistada em 1492.

Os dois sinais têm basicamente a mesma função, a diferença entre os dois está na entonação, mais pausada no caso do travessão, além do caráter estilístico, mais objetivo no caso dos parênteses.

· Intercalar reflexões e comentários à seqüência da frase:

Mas agora — pela centésima vez o pensava — não podia admitir aquelas mesquinharias.

· O travessão também é usado em diálogos, para indicar que alguém está falando de viva-voz (discurso direto), marcando a troca de interlocutor (turno de fala), para realçar uma informação sobre um elemento da frase e destacar o aposto:

"— Peri sente uma coisa.
— O quê?
— Não ter contas mais bonitas do que estas para dar-te."
(José de Alencar)

Os colchetes têm emprego semelhante ao dos parênteses, por isso são denominados parênteses retos, mas seu uso se restringe a textos de natureza didática, filológica, científica e linguística.
O uso mais largo desse sinal configura-se na matemática, quando os colchetes precedem os parênteses em uma equação.

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