As variações linguísticas são as mudanças que a língua apresenta, devido à sua capacidade de se transformar e de se adaptar. Ocorrem variações na língua porque a língua é usada por falantes inseridos numa sociedade complexa, formada por diferentes grupos sociais, com diferentes hábitos linguísticos e diferentes graus de escolarização.
O uso faz a regra e os falantes usam a língua de modo a suprir suas necessidades comunicativas, adaptando-a conforme suas intenções e necessidades. Assim, a língua portuguesa encontra-se em constante alteração, evolução e atualização, não sendo um sistema estático e fechado.
Tipos de variação linguística
As variações linguísticas ocorrem principalmente nos âmbitos geográficos, temporais e sociais.
Variação linguística regional (diatópica)
As variações diatópicas, também chamadas de variações regionais ou geográficas, são variações que ocorrem de acordo com o local onde vivem os falantes, sofrendo sua influência. Este tipo de variação ocorre porque diferentes regiões têm diferentes culturas, com diferentes hábitos, modos e tradições, estabelecendo assim diferentes estruturas linguísticas.
Exemplos de variações diatópicas
Diferentes palavras para os mesmos conceitos:
aipim, mandioca, macaxeira;
abóbora, jerimum, moranga;
sacolé, dindim, geladinho.
Diferentes sotaques, dialetos e falares:
dialeto caipira;
dialeto gaúcho;
dialeto baiano.
Reduções de palavras ou perdas de fonemas:
véio (velho);
muié (mulher);
cantá (cantar);
enxovar (enxoval).
Variação linguística histórica (diacrônica)
As variações diacrônicas, também chamadas de variações históricas, são variações que ocorrem de acordo com as diferentes épocas vividas pelos falantes, sendo possível distinguir o português arcaico do português moderno, bem como diversas palavras que ficam em desuso.
Exemplos de variações diacrônicas
Palavras que caíram em desuso:
vossemecê;
botica;
comprir.
Grafias que caíram em desuso:
flôr;
pharmácia;
seqüencia.
Vocabulário e expressões típicas de uma determinada faixa etária:
Você é um chato de galocha!
Ele é maior barbeiro.
Vai catar coquinho.
Variação linguística social (diastrática)
As variações diastráticas, também chamadas de variações sociais, são variações que ocorrem de acordo com os hábitos e cultura de diferentes grupos sociais. Este tipo de variação ocorre porque diferentes grupos sociais possuem diferentes conhecimentos, modos de atuação e sistemas de comunicação.
Exemplos de variações diastráticas
Gírias próprias de um grupo com interesse comum, como os skatistas:
Prefiro freestyle.
O gringo tem um carrinho irado.
O silk do skate tá insano.
Jargões próprios de um grupo profissional, como os técnicos de informática:
Preciso zipar esses arquivos.
Vou escanear esse documento.
Tenho que inicializar o Windows.
Variação linguística situacional (diafásica)
As variações diafásicas, também chamadas de variações situacionais, são variações que ocorrem de acordo com o contexto ou situação em que decorre o processo comunicativo. Há momentos em que é utilizado um registro formal e outros em que é utilizado um registro informal.
Exemplos de variações diafásicas
Linguagem informal, considerada menos prestigiada e culta, usada quando há familiaridade entre os interlocutores da comunicação ou em situações descontraídas.
Fala, garoto! Beleza?
Rola um cinema hoje?
Cadê Pedro? Cê viu ele?
Linguagem formal, considerada mais prestigiada e culta, usada quando não há familiaridade entre os interlocutores da comunicação ou em situações que requerem uma maior seriedade.
Bom dia! Tudo bom com você?
Querem ir ao cinema hoje?
Onde está Pedro? Você viu-o?
A Amazônia fala de um modo bem diferente do vizinho Nordeste. A razão para isso é que lá quase não houve escravidão de africanos. Predominou a influência do tupi, língua que não era falada pelos índios da região, mas foi importada por jesuítas no processo de evangelização.
O litoral nordestino recebeu muitos escravos negros, enquanto que o interior encheu-se de índios expulsos da costa pelos portugueses. Isso explica algumas diferenças dialetais. No Recôncavo baiano, o “t” é pronunciado como se fosse “tch”. É o caso de “tia”, que soa como “tchia”. No interior predomina o “t” seco, dito com a língua atrás dos dentes.
Quando a família real portuguesa mudou-se para o rio em 1808, fugindo de Napoleão, trouxe 16.000 lusitanos. A cidade tinha 50.000 mil habitantes. Essa gente toda mudou o jeito de falar carioca. Data daí o chiado no “s”, como em festa, que fica parecendo “feishta”. Os portugueses também chiam no “s”.
Os tropeiros paulistas entraram no Sul no século XVIII pelo interior, passando por Curitiba. O litoral sulista foi ocupado pelo governo português na mesma época com a transferência de imigrantes das Ilhas Açores. Na costa, fala-se “tu”, como é comum até hoje em Portugal. No interior de Santa Catarina, adota-se o “você”, provavelmente espalhado pelos paulistas.
Até o século XIX, a cidade de São Paulo falava o dialeto caipira, característico da região de Piracicaba. A principal marca desse sotaque é o “r” muito puxado como em porta, que falavam porrrrta. A chegada dos imigrantes, que vieram com a industrialização, diluiu esse dialeto e criou um novo sotaque paulistano, fruto da combinação de influências estrangeiras e de outras regiões brasileiras.
Tu + conjugação correta de segunda pessoa
Falado no Pará e no litoral de Santa Catarina.
Tu + conjugação errada de terceira pessoa e de segunda pessoa como se estivesse no subjuntivo
Falado no restante de Santa Catarina, no Rio Grande do Sul, no sul do Paraná, na região metropolitana de Santos, no estado do Rio de Janeiro, no Distrito Federal, na região Nordeste inteira menos a Bahia e Sergipe e no restante da região Norte inteira.
Você
Região Centro-Oeste menos Brasília, na Bahia, em Sergipe e nas partes não citadas anteriormente da região Sudeste.
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