Morfologia é a parte da gramática que estuda a forma dos vocábulos. Para isso, ela ocupa-se da estrutura e do processo de formação das palavras, além de dividi-las em dez classes gramaticais conforme as semelhanças morfológicas que apresentam.
Uma análise morfológica, portanto, é aquela que analisa a palavra de forma isolada, sem que haja, necessariamente, um contexto.
Estrutura das palavras
As palavras são formadas por vários elementos denominados morfemas, que são a menor parte significativa que constitui uma palavra. Esse é um dos campos da morfologia.
Os morfemas se dividem em:
1. Radical: elemento que contém o sentido básico da palavra. Não pode ser decomposto em unidades menores e é responsável pela formação de novas palavras. Também é chamado de semantema ou lexema.
Exemplo: o radical ferr– forma as palavras: ferro, ferreiro, ferrugem, ferragem, ferroso, etc.
2. Afixo: elemento que se une ao radical para formar novas palavras. Os afixos são:
a) prefixo: é o afixo que vem antes do radical. Exemplos:
anti-: antibiótico, anti-inflamatório, antivírus…
contra-: contra-ataque, contradizer, contraindicado…
b) sufixo: é o afixo que vem após o radical. Exemplos:
-inho: copinho, amiguinho, filminho…
-ote: filhote, serrote, velhote…
3. Desinência: elemento que se une ao radical para indicar as flexões gramaticais.
a) desinência nominal: indicam as flexões de gênero e número nos nomes. As desinências nominais são:
-o (masculino): aluno, menino, gato…
-a (feminino): aluna, menina, gata…
-s (plural): alunos, alunas, meninos, meninas, gatos, gatas…
b) verbal: indicam as flexões de modo, tempo, número e pessoa nos verbos. As desinências verbais são:
– desinências modo-temporais: marcam os modos indicativo, subjuntivo e imperativo; marcam os tempos presente, pretérito e futuro.
– desinências número-pessoais: marcam as pessoas do discurso no singular e no plural.
Exemplos:
– falo (presente do indicativo e primeira pessoa do singular);
– falassem (pretérito imperfeito do subjuntivo e terceira pessoa do plural);
– falávamos (pretérito imperfeito do indicativo e primeira pessoa do plural).
4. Vogal temática: elemento que une o radical às desinências ou aos sufixos.
a) vogal temática nominal: vem após o radical dos nomes sem indicar gênero.
b) vogal temática verbal: vem após o radical para caracterizar as três conjugações verbais.
-a- (1ª conjugação): cant-a-r, cant-a-rei, cant-a-mos…
-e- (2ª conjugação): prend-e-r, prend-e-sse, prend-e-mos…
-i- (3ª conjugação): part-i-r, part-i-mos, part-i-remos…
Vogal e consoante de ligação: elemento cujo objetivo é tornar a palavra mais eufônica. Não é morfema, pois não carrega sentido algum. Exemplos:
– silv-í-cola
– gas-ô-metro
– saci-z-inho
Processo de formação de palavras
Esta é a parte da morfologia que trata dos diversos modos como as palavras se formam. Os processos de formação de palavras são:
1. Derivação: é o processo que acrescenta afixos ao radical. Os tipos de derivação são:
a) prefixal: junção de um prefixo ao radical.
Exemplo: super- + homem = super-homem
b) sufixal: junção de um sufixo ao radical.
Exemplo: pincel + -ada = pincelada
c) parassintética: junção de um prefixo e um sufixo ao radical.
Exemplo: a + noite + ecer = anoitecer
Para que ocorra parassíntese, o prefixo e o sufixo devem se juntar simultaneamente: enlouquecer (não existem enlouco nem louquecer), inovar (não existem inovo nem novar).
Em desigualdade e injustiça, desigual e igualdade, injusto e justiça existem na língua. Neste caso, ocorreu derivação prefixal e sufixal.
d) regressiva: quando um verbo na forma infinitiva que indica ação serve de base para a formação de um substantivo abstrato.
Exemplo: atrasar > atraso
e) imprópria: quando a palavra muda sua classe gramatical ao mudar de contexto.
Exemplo: Desafio monstro. (substantivo convertido em adjetivo)
2. Composição: é o processo constituído por dois ou mais radicais. Os tipos de composição são:
a) por justaposição: não há perda de elementos estruturais e fonéticos nos radicais.
Exemplo: roda+pé = rodapé
b) por aglutinação: há perda de pelo menos um dos elementos estruturais e fonéticos nos radicais.
Exemplo: plano + alto = planalto
3. Hibridismo: é o processo que une morfemas de línguas diferentes.
Exemplo: socio (latim) + logia (grego) = sociologia
4. Onomatopeia: é o processo que forma palavras que reproduzem sons de pessoas, animais ou objetos.
Exemplo: zum-zum (som de um zumbido)
5. Sigla: é o processo que utiliza as letras iniciais de uma palavra para denominar um título, uma organização, associação etc.
Exemplo: ONU (Organização das Nações Unidas)
6. Abreviação vocabular ou redução: é o processo que utiliza parte de uma palavra no lugar de sua totalidade.
Exemplo: fotografia > foto
7. Palavra-valise ou amálgama: fusão de duas ou mais palavras, uma perdendo a parte final e outra perdendo a parte inicial.
Exemplo: informação + comercial = infomercial.
8. Neologismo: criação de uma palavra ou expressão ou atribuição de um novo sentido a uma palavra já existente.
Exemplo: escanear / zebra (resultado inesperado)
9. Estrangeirismo: introduz palavras de outros idiomas na língua portuguesa, muitas vezes incorporadas ao nosso vocabulário.
Exemplo: videogame / futebol
Classes gramaticais
As palavras da língua portuguesa se agrupam em classes gramaticais conforme suas formas e funções. A morfologia também tem como função estudar essa temática.
As classes gramaticais são dez:
1. Substantivo: é a palavra que nomeia tudo o que existe ou o que imaginamos existir.
2. Adjetivo: é a palavra que caracteriza um substantivo (normalmente), pronome, numeral ou oração substantiva.
3. Artigo: é a palavra que antecede o substantivo para o definir ou indefinir, particularizando-o de alguma forma.
4. Numeral: é a palavra que acompanha ou substitui o substantivo, dando a ele noção de quantidade, ordem, multiplicação ou divisão.
5. Pronome: é uma palavra que acompanha, retoma ou substitui o substantivo e possui vários sentidos.
6. Verbo: é a palavra que situa no tempo ações (correr, trabalhar), estados (ser, estar), mudanças de estado (tornar, ficar, virar) ou fenômenos da natureza (ventar, chover, trovejar).
7. Advérbio: é um modificador de sentido do verbo, do adjetivo, de outro advérbio ou de uma oração inteira.
8. Preposição: é um conectivo exigido pela sentença devido ao sentido ou à regência nominal ou verbal.
9. Conjunção: é um conectivo que tem por função ligar elementos de mesma natureza em uma sentença.
10. Interjeição: é uma palavra ou grupo de palavras que expressa um estado emotivo momentâneo.
Quanto à flexão, as classes de palavras se dividem em variáveis e invariáveis:
a) Variáveis – são as palavras que variam em:
gênero, número e grau: substantivo e adjetivo;
gênero e número: artigo e numeral;
gênero, número e pessoa: pronome;
número, pessoa, modo, tempo e voz: verbo.
b) Invariáveis – são as palavras que não apresentam flexões: advérbio, preposição, conjunção e interjeição.
Há também as palavras denotativas, que se assemelham a advérbios, mas não possuem uma classe gramatical específica, segundo a NGB.
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