Preconceito linguístico é a discriminação entre os falantes de um mesmo idioma, em que não há respeito pelas variações linguísticas (formas de falar e escrever).
Variações linguísticas são os sotaques, regionalismos (características típicas do modo de falar de uma região), dialetos (variações regionais de uma língua), gírias e outras diferenças de fala.
Preconceito linguístico é o julgamento preconceituoso sobre o modo como alguém fala, principalmente se a fala é influenciada por características culturais, regionais ou históricas do local em que a pessoa vive ou nasceu. Outras características, como etnia (indígenas, negros, pardos ou brancos) e gênero, também podem influenciar o modo de falar.
A língua é dinâmica e está em constante desenvolvimento. Por isso, ela se adapta aos seus falantes e às novas realidades, cumprindo seu papel de garantir a comunicação. Todos os idiomas têm variações linguísticas que são influenciadas por vários fatores, como região, idade, grupo social, aspectos culturais e etnia.
A expressão preconceito linguístico foi criada na década de 1980 pela linguista finlandesa Tove Skutnabb-Kangas, que pesquisou a discriminação da linguagem usada por grupos minoritários.
Para ela, o preconceito começa quando uma linguagem diferente causa estranheza, e esse estranhamento preconceituoso cria relações de poder entre as pessoas (mais poder para quem usa linguagem formal e menos poder para quem não usa).
Exemplos de preconceitos linguísticos
rir de alguém por causa do sotaque;
achar que o português falado em Portugal é mais correto que o falado no Brasil;
debochar de quem usa gírias antigas;
corrigir a pronúncia “errada” de alguém;
acreditar que a linguagem usada antigamente era mais correta;
discriminação com a linguagem simplificada usada na internet.
Veja outro exemplo de preconceito linguístico nesse trecho do poema Vícios na fala, de Oswald de Andrade.
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados
Nesse poema, o autor mostra alguns exemplos que comparam a gramática formal e a fala popular de algumas palavras. Observe que as palavras mio, mió, pió, teia e teiado não fazem parte das regras da Língua Portuguesa, mas são usadas por parte da população que fala português.
Mesmo que essas palavras não sejam certas (do ponto de vista da gramática), não devem ser consideradas erradas, porque são parte de um regionalismo brasileiro. O poema mostra a diferença entre a linguagem usada por quem tem mais estudo formal e pelos trabalhadores (os construtores de telhados).
O preconceito linguístico no Brasil
O Brasil é um país muito grande e com uma imensa diversidade cultural que se reflete nas variações linguísticas regionais. Quando essas variações são comparadas com as regras da gramática, acontecem os casos de preconceito linguístico entre brasileiros.
O preconceito nasce da comparação entre as regras da gramática e a língua falada, que é variável, de acordo com idade, nível educacional, região, gênero ou etnia da pessoa que fala.
Por exemplo, a forma particular como as pessoas que vivem em regiões interioranas falam pode ser alvo de piadas por parte dos habitantes das grandes cidades.
Quando se fala em expressões regionais, uso de gírias e outras variações linguísticas, não é correto dizer que existe um modo "certo" e outro "errado" de se expressar.
A gramática normativa é importante para a preservação da ordem da Língua Portuguesa. Mas também é importante considerar o fato da língua estar em constante mudança, de acordo com a evolução social, histórica e regional.
O linguista Marcos Bagno publicou o livro Preconceito Linguístico: o que é, como se faz. Na obra, ele defende que as variedades linguísticas do Brasil devem ser valorizadas porque fazem parte da identidade e da cultura do povo brasileiro.
Na literatura brasileira, o movimento modernista (principalmente nas décadas de 1920 e 1930) reforçou a importância das variações linguísticas. Boa parte da literatura e da poesia produzida nessa época destacava as diferenças regionais da língua, como uma parte importante da identidade do povo brasileiro.
Veja o poema Evocação do Recife, de Manuel Bandeira.
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Nesse trecho do poema, o escritor exalta a linguagem popular. Ele brinca ao dizer que a linguagem do povo é a “língua certa”, para mostrar que as formas de expressão populares também são corretas.
Mito n° 1 “A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente”: o autor aborda sobre a unidade linguística e as variações que existem dentro do território brasileiro.
Mito n° 2 “Brasileiro não sabe português” / “Só em Portugal se fala bem português”: apresenta as diferenças entre o português falado no Brasil e em Portugal, este último considerado superior e mais “correto”.
Mito n° 3 “Português é muito difícil”: baseado em argumentos sobre a gramática normativa da língua portuguesa ensinada em Portugal, e suas diferenças entre falar e escrever dos brasileiros.
Mito n° 4 “As pessoas sem instrução falam tudo errado”: preconceito gerado por pessoas que têm um baixo nível de escolaridade. Bagno defende essas variantes da língua e analisa o preconceito linguístico e social gerado pela diferença da língua falada e da norma padrão.
Mito n° 5 “O lugar onde melhor se fala português no Brasil é o Maranhão”: mito criado em torna desse estado, o qual é considerado por muitos o português mais correto, melhor e mais bonito, posto que está intimamente relacionado com o português de Portugal e o uso do pronome "tu" com a conjugação correta do verbo: tu vais, tu queres, etc.
Mito n° 6 “O certo é falar assim porque se escreve assim”: aqui o autor apresenta diferenças entre as diversas variantes no Brasil e a utilização da linguagem formal (culta) e informal (coloquial).
Mito n° 7 “É preciso saber gramática para falar e escrever bem”: aborda sobre o fenômeno da variação linguística e a subordinação da língua a norma culta. Para ele, a gramática normativa passou a ser um instrumento de poder e de controle.
Mito n° 8 “O domínio da norma culta é um instrumento de ascensão social”: decorrente das desigualdades sociais e das diferenças das variações em determinadas classes sociais. Assim, as variedades linguísticas que não são padrão da língua são consideradas inferiores.
Do ponto de vista da gramática, cometer um erro é não obedecer às regras gramaticais. É ir de encontro ao que se ensina nas escolas. Os gramáticos consideram os conceitos certo e errado.
Do ponto de vista da linguística, quando se usa uma expressão que não é considerada correta pela gramática, é uma variação influenciada pela situação na qual o falante está inserido. Os linguistas consideram os conceitos adequado e inadequado.
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