Eles se apresentam com vestes angelicais, mas escondem tentações ameaçadoras. O perigo mora no presente do indicativo e do subjuntivo. Eu, tu, ele, eles exibem um vistoso i. O nós e o vós não lhe dão vez. Veja: ceio (presenteio, passeio, freio, homenageio), ceias (presenteias, freias, passeias, homenageias), ceia (presenteia, freia, passeia, homenageia), ceamos (presenteamos, ceamos, passeamos, homenageamos), ceais (presenteais, freais, passeais, homenageais), ceiam (presenteiam, freiam, passeiam, homenageiam); que eu ceie (presenteie, passeie, homenageie), tu ceies (presenteies, freies, passeies, homenageies) ele ceie (presenteie, freie, passeie, homenageie), nós ceemos (presentemos, freamos, passeemos, homenageemos), vós ceeis (presenteeis, freeis, passeeis, homenageeis), eles ceiem (presenteiem, freiem, passeiem, homenageiem).
Verbo terminado em eiar? Só existe um: veiar (formar riscas ou estrias).
Os demais verbos terminados em ear seguem a mesma regra.
E o imperativo? Segue o esquema já conhecido.
Ops! Cuidado com aquela força irresistível que nos empurra para a perdição. Quando ela atacar, pare, pense e reze. Possuir pertence à 3ª conjugação. Mas foge à regra. O desvio reside na 3ª pessoa do singular. Os irmãozinhos terminam com e (ele parte, divide, dorme). Possuir pulou a cerca. Trocou o e pelo i. Muita gente desconhece o resultado. Escreve “possue”. Peca. A saída? Ajoelhar-se, pedir a compaixão divina e aprender a lição: eu possuo, ele possui, nós possuímos, eles possuem. (A regra vale para a turma uir. Entre eles, incluir, evoluir, instruir, substituir, contribuir e retribuir: ele inclui, evolui, instrui, substitui, contribui, retribui).
Exceções? Só três diferentões: construir, destruir e reconstruir - ele constrói, destrói e reconstrói.
Quem vê cara não vê coração? Às vezes vê. Intervir serve de exemplo. Filhote de vir, conjuga-se como o paizão: eu venho (intervenho), ele vem (intervém), nós vimos (intervimos), eles vêm (intervêm); eu vim (intervim), ele veio (interveio), nós viemos (interviemos), eles vieram (intervieram), se eu / ele viesse (interviesse), eu / ele viera (interviera), se eu / ele vier (intervier). E por aí vai. Não
Muitos vão contra os mandamentos gramaticais. Juram que intervir deriva de ver. Escrevem “interviu”, como se fosse derivado de ver, como rever. Pecam contra a língua. Que peçam perdão a Deus. Ele, generoso, dirá sim. Afinal, perdoar é o grande vício do Senhor. Interviu é entrevista em inglês: interview.
Pai e filho dão tremenda dor de cabeça. Mediar e remediar fazem parte da gangue do MARIO. Conhece? O nome da turma barra pesada se formou com a letra inicial de cada membro — mediar, ansiar, remediar, incendiar e odiar. Todos se conjugam como odiar. Assim: odeio (medeio, anseio, remedeio, incendeio), odeia (medeia, anseia, remedeia, incendeia), odiamos (mediamos, ansiamos, remediamos, incendiamos), odeiam (medeiam, anseiam, remedeiam, incendeiam).
E os outros verbos terminados em iar? São regulares, como confiar.
E intermediar? É derivado de mediar, portanto se conjuga como ele.
Negoceio, negoceia, premeio, premeia? Existe, mas só se conjuga em Portugal.
Olho vivo! “Vigir” não existe. A forma é viger. Intolerante, ele odeia o a e o o. Por isso, só se conjuga nas formas em que essas vogais não aparecem depois do g. A 1ª pessoa do presente do indicativo (eu vigo) não tem vez. Nem o presente do subjuntivo. Que eu viga? Uhhhhhhhh! Nas demais, é regular. Conjuga-se como vender: vendes (viges), vende (vige), vendemos (vigemos), vendem (vigem), vendi (vigi), vendia (vigia), vendera (vigera), venderá (vigerá), venderia (vigeria), vendesse (vigesse), vendendo (vigendo), vendido (vigido). Etc. e tal.
O dicionário Houaiss considera válidas as formas 'vijo' e 'vija', conjugando como proteger.
Se eu vir Maria? Se eu ver Maria? Se eu vier de São Paulo? Se eu vir de São Paulo? Olho no futuro do subjuntivo. Ele se forma do pretérito perfeito do indicativo. Mais precisamente: da 3ª pessoa do plural sem o –am final:
Pretérito perfeito: eu vi, ele viu, nós vimos, eles vir(am)
Futuro do subjuntivo: se eu vir, ele vir, nós virmos, eles virem
Logo: Se eu vir Maria, darei o recado.
Vir é outra vítima. A turma diz sem cerimônia “quando eu vir de São Paulo”. Nem pensar. O futuro do subjuntivo de ver e vir se forma do mesmo jeitinho:
Pretérito perfeito: eu vim, ele veio, nós viemos, eles vier(am)
Futuro do subjuntivo: quando eu vier, ele vier, nós viermos, eles vierem.
Ufa! Quando eu vier de São Paulo, telefono.
Há verbos e verbos. Uns adoram a família. São os rizotônicos. A sílaba tônica cai sempre no radical. É o caso de cantar, vender, partir e repor. Outros ignoram a raiz. São os arrizotônicos. A sílaba tônica cai sempre fora do radical. Vale o exemplo de adequar. Ele só se conjuga nas formas em que a fortona cai na terminação. O dicionário Houaiss considera válidas as formas adéquo, adéqua, adéque e adéquem.
O xis do problema é o presente do indicativo. Eu adeque? Nem pensar. A sílaba tônica cairia no radical. Por isso, só o nós e o vós têm vez (adequamos, adequais). O presente do subjuntivo também só tem apenas duas pessoas (adequemos, adequeis), o imperativo afirmativo idem (adequemos, adequai) e o imperativo negativo (não adequemos, não adequeis).
Os demais tempos e modos são regulares, como cantar: adequei, adequou, adequamos, adequaram; adequava, adequava, adequávamos, adequavam; adequara, adequáramos, adequaram; adequarei, adequará, adequaremos, adequarão; adequaria, adequaria, adequaríamos, adequariam; adequasse, adequasse, adequássemos, adequassem; adequar, adequarmos, adequarem; adequando; adequado.
No sufoco, use sinônimos. Que tal adaptar?
Eta verbinho mau caráter. Olho nele. Conjugue-o só nas formas em o qu for seguido de e ou i (extorque, extorquiu, extorquia, extorquira, extorquirá, extorquiria, extorquisse etc. e tal). Eu extorco, eu exturco, que eu extorca, que eu exturca? Nem pensar. O qu vem seguido de o e a. Xô, criaturas traiçoeiras.
No sufoco, use sinônimos. Que tal usurpar, furtar ou subtrair?
Falir joga no time dos preguiçosos. Defectivo, só se flexiona nas formas em que aparece o i depois do l (falimos, falis, fali, falia, falira, falirá, faliria, falisse). Sabe a razão da manha? Se ele abrir as porteiras para o a, e ou o, será confundido com falar (falo, fale, falem, fala, falam). Já imaginou? Ninguém quer perder a personalidade.
Sobretudo se a língua, pra lá de rica, oferece outras possibilidades de substituir as formas inexistentes: abrir falência, quebrar.
Ler, crer, ver, dar & familiares adoram complicar a vida dos pobres lusófonos. A cilada se esconde no presente do indicativo. A 3ª pessoa do singular termina em ê. A 3ª do plural dobra o e. Assim: ele lê, eles leem; ele crê, eles creem; ele vê, eles veem; que ele dê, que eles deem.
Reparou? A reforma ortográfica cassou o chapeuzinho que aparecia no hiato ee. Os pesadões lêem, crêem, vêem e dêem ficaram mais leves. A família deles foi atrás: releem, descreem, reveem etc. e tal.
Parecido não é igual. Mas confunde. Ter e vir são fregueses da troca de Germano por gênero humano. A 3ª pessoa do plural dos dois verbinhos não tem nada a ver com a turma do ver, ler, crer e dar. Ela não dobra o e. E tem acento: ele tem, eles têm; ele vem, eles vêm.
Eta família maltratada! Ela sofre mais que escravo no tronco. Apanha na grafia e na conjugação. Mas, como nesta vida tudo passa, o martírio do clã pode chegar ao fim. Basta aprender duas regras:
Só o s tem vez. As formas em que soa o fonema z escrevem-se com s (pus, pôs, pusemos, puser, pusesse, compuser, depuséssemos). Por quê? Sem aparecer no infinitivo (pôr), a lanterninha do alfabeto não tem vez na conjugação. É intrusa. O mesmo ocorre com querer (quis, quiser, quisesse) e usar (usou, usava, usaria, usasse).
Olho no subjuntivo. O imperfeito e o futuro do sofisticado subjuntivo se formam da 3ª pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo sem o –am final. Assim:
Pretérito perfeito: pus, pôs, pusemos, puser(am)
Futuro do subjuntivo: se eu puser, ele puser, nós pusermos, eles puserem
Imperfeito do subjuntivo: se eu pusesse, ele pusesse, nós puséssemos, eles pusessem
Família
Os filhotes do paizão conjugam-se do mesmo jeitinho: eu ponho (componho, disponho, deponho, reponho), ele põe (compõe, dispõe, depõe, repõe), nós pomos (compomos, dispomos, depomos, repomos); eu pus (compus, dispus, depus, repus); eu punha (compunha, dispunha, depunha, repunha); que eu ponha (componha, disponha, deponha, reponha). Etc. e tal.
Muitos não querem pecar contra a conjugação. Mas, sem saber como agir, apostam no “mamãe mandou”. Quase nunca acertam. É que a Lei de Murphy está em pleno vigor. O que pode dar errado dá.
Quando usar o infinitivo ou o presente do indicativo? Dois verbos encabeçam a dúvida. Um é dar. O outro, estar. Resposta: o infinitivo (dar e estar) detesta a solidão. Anda sempre acompanhado: eu posso dar (estar), ele deve dar (estar), nós vamos dar (estar), eles conseguem dar (estar), eu comecei a dar (estar).
Dá e está são formas conjugadas. Trata-se da 3ª pessoa do singular do presente do indicativo: eu dou, ele dá; eu estou, ele está.
Nenhum comentário:
Postar um comentário