quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Crase - 11 regras

 O pronome possessivo joga no time dos liberais. Deixa o emprego do artigo à escolha do freguês. Veja:


Sua mãe está aqui. A sua mão está aqui.


Minha casa fica longe do centro. A minha casa fica longe do centro.


Meu carro roda bem e gasta pouco. O meu carro roda bem e gasta pouco.


Se o artigo é facultativo, a crase também é:


Fui à sua cidade. Fui a sua cidade.


Refere-se à nossa escola. Refere-se a nossa escola.


Dirigiu-se à nossa seção. Dirigiu-se a nossa seção.


Duvida? Apele para o troca-troca. Substitua o nome feminino por um masculino. Não precisa ser sinônimo. Se na mudança der ao, sinal de à. Caso contrário, a. Observe o jogo duplo:


Fui ao seu país. (Fui a seu país.)


Refere-se ao nosso clube. (Refere-se a nosso clube.)


Dirigiu-se ao nosso departamento. (Dirigiu-se a nosso departamento.)  


Olho vivo


Liberdade não é libertinagem. Tem limite. Qual? Depende da companhia. O possessivo vem acompanhado de substantivo? Se a resposta for sim, o artigo é facultativo. A crase, idem:


Não fui à sua sala. Não fui a sua sala.


O tira-teima não deixa dúvida:


Não fui ao seu quarto. Não fui a seu quarto.


Se o possessivo vem desacompanhado, o que caracteriza uma figura de linguagem chamada elipse, o artigo se impõe. A crase também. Compare:


Não fui a (à) sua sala, mas à minha.


Vem, troca-troca:


Não fui a (ao) seu quarto, mas ao meu.


Cheguei a (à) nossa rua, não à sua.


Troca-troca: Cheguei a (ao) nosso bairro, não ao seu.


Desejou sorte a (à) sua família e à minha também.


Troca-troca: Desejou sorte a (ao) seu chefe e ao meu também.

 

Elipse é a omissão de um termo facilmente subentendido pelo contexto.

Escrever à mão? Escrever a mão? No troca-troca, temos escrever a lápis. Sem artigo, não há crase. Mas use o acento. Pela clareza.


Bater à máquina? Bater a máquina? Não há crase. Mas, sem o acento, o leitor pode entender que a máquina levou pancada. É a clareza.


Pagar à vista? Pagar a vista? No troca-troca, temos pagar a prazo. Sem artigo, não há crase. Mas a clareza pede o acento.


Em escrever à mão, bater à máquina, pagar à vista, não ocorre a fusão de dois aa. Mas a clareza pede o acento. É a falsa crase.  

Locução = mais de uma palavra que vale por uma classe gramatical. Há várias. À crase interessam três: adverbial, prepositiva e conjuntiva. Como identificar a santíssima trindade? Fique de olho na última palavra.


A locução prepositiva termina por preposição (de, com, a) — em frente de, ao lado de, de acordo com, em relação a. A formada de palavra feminina pede sinal da crase: Está à espera de um emprego. Vive à custa do pai. À procura da felicidade.


A locução conjuntiva termina por conjunção (que) — visto que, desde que, ainda que, logo que, a fim de que, de modo que, à medida que, à proporção que. A formada por palavra feminina pede acento grave: À medida que exercita, fica mais esbelta. À proporção que trabalha, fica mais rico.


A locução adverbial termina com nome (substantivo, adjetivo) — à meia-noite, às claras, a prazo. A formada por palavra feminina pede acento grave:


Ficou às escuras. Gosta de tudo às escondidas. Saio à tarde. Viaja às quartas-feiras. Saiu às 2h. Andava às apalpadelas. Entrou às gargalhadas. Fique à vontade. À noite, ele fala à beça e às claras. Hoje à noite, às 19h, vamos à ópera. Voltamos à 1h.


Olho vivo


Sente-se à mesa e ponha os pratos na mesa.


Utilidade pública


A medida que, sem acento, não é locução conjuntiva, o 'que' é pronome relativo: A medida que tomei foi descabida.


"Bessa" é um bairro de João Pessoa. A expressão é à beça: "bom à beça".


Vale repetir: não ocorre crase antes de nome masculino. A razão é simples: o artigo macho é o. Sem dois aa, nada de grampinho — marca pra lá de feminina. Mas há construções que enganam.


Fingidas, escondem um ser feminino: Canta à (moda de) Roberto Carlos. Corta o cabelo à (moda de) Neymar. Faz bicicletas à (moda de) Pelé. Móveis à (moda de) D. José. Fui à (Livraria) José Olímpio. Comprei móvel à (moda) Luís 14. Não fui à Rua da Praia, mas à (Rua) dos Andradas.


Olho vivo


Bife a cavalo não joga no time de bife à milanesa. Em bife à milanesa, há elipse: Bife (à moda) milanesa. Não é o caso do quadrúpede.


Crase antes de nome de país, estado, cidade, bairro? Como sempre, depende do artigo. Há um verso que dá dica infalível. Ele manda substituir o verbo ir pelo voltar. Com o troca-troca, não há erro:


Se, ao voltar, volto da, crase no a.


Se, ao voltar, volto de, crase pra quê?


Se estiver especificado, crase vai ter!


1.Vou a França? À França? Tanto faz?


No troca-troca, volto da França. Nota 10 para vou à França.


2. Foi a Floripa? À Floripa? Tanto faz?


Voltou de Floripa. Ao voltar, volta de, crase pra quê? Vou a Floripa.


3. Vou à Paraíba? A Paraíba? Tanto faz?


Volto da Paraíba. Ao voltar, volto da, crase no a: Vou à Paraíba.


4. Vai a Brasília? À Brasília? Tanto faz?


Ao voltar, volto de, crase pra quê? Volta de Brasília. Vai a Brasília.


5. Vai a Salvador de Jorge Amado? À Salvador? Tanto faz?


Ao voltar, está especificado? Volta da Salvador de Jorge Amado. Vai à Salvador...

Mais exemplos: Vou à Suécia. (Volto da Suécia.) Vou a Miami. (Volto de Miami). Vou à Bahia. (Volto da Bahia.) Vou à Alemanha. (Volto da Alemanha.) Vou a Lisboa. (Volto de Lisboa.) Vou a Portugal e a Cuba. (Volto de Portugal e de Cuba.) Cheguei a Natal. (Voltei de Natal). Vou a Recife. (Volto de Recife.) Vou à Recife das belas praias. (Volto da Recife das belas praias.)

Crase antes de nome de pessoa? É facultativa. Depende do artigo. Há regiões que o usam e regiões que não: a Maria, Maria:


Referiu-se à Maria. Referiu-se a Maria.


Ambas estão corretas. Na primeira, usa-se o artigo. Na segunda, não.


Dirijo-me à Paula? Dirijo-me a Paula?


Tanto faz. Quem diz à Paula usa artigo. Quem diz a Paula não. É questão regional.  

Não se trata de certo ou errado. Isso é coisa de ciência exata.

A língua tem casaizinhos. Pra lá de fiéis, o que acontece com um acontece com o outro. Se um vem com preposição, o outro vai atrás.


Casalzinho de…a. De é preposição pura. A também. Nada de crase: Estudo de segunda a sexta. Trabalha de segunda a segunda. Antes da pandemia, o comércio abria de segunda a segunda.


Casalzinho da (do)…à. Da (do) é preposição + artigo. À também: Trabalho das 2h às 4h. Fui da Rua da Praia à Rua dos Andradas. Correu da Asa Norte à Asa Sul.  


Vai a pé do posto de gasolina à casa dos pais.

Nomes repetidos não suportam artigo. Sem ele, nada de acento:


Viram-se cara a cara.


Tomou o remédio gota a gota.


Contou as frutas uma a uma.


Mede a temperatura hora a hora.


Semana a semana melhora a pronúncia do inglês.  

 

Todas as expressões citadas acima não podem ser separadas ou intercaladas.

Em 'É preciso dar mais vida à vida', não é uma locução adverbial, mas termos sintaticamente independentes.

Ferreira Gullar acertou ao dizer que “a crase não foi feita pra humilhar ninguém”. Mas fez vistas grossas pra pormenor importante. O sinalzinho dá um senhor nó nos miolos. Pra desatá-lo, só há uma saída — ficar de olho no artigo. É ele que promove os rolezinhos.


Cheio de manhas, faz de conta que está presente. Mas não está. Ou vice-versa. Finge que se encontra lá, juntinho do substantivo. Mas… cadê? A criaturinha nem passou por perto. Casa e terra são freguesas da brincadeira malandra. O que fazer? Conjugar o verbo prevenir. Com ele, o remediar perde o emprego.


Casa


Crase antes de casa? Depende do artigo. A casa onde moramos rejeita o pequenino: Logo, não admite o acento grave: Saí de casa. Trabalho em casa.


Sem artigo, o a que antecede a casa onde moramos é preposição purinha. Não admite acento de crase: Dirigi-me a casa cedo.


A casa dos outros pede artigo — a casa da vovó, a casa da esquina, a casa dos pais: Foi à casa da avó. Vai à casa do João. Dirigiu-se à casa da esquina. Dirigiu-se à casa dos pais. Vai à casa de parentes distantes.


Viu? Antes da casa dos outros aparece artigo. A crase tem vez.  


Vai ser facultativo se houver um pronome possessivo antes da palavra casa: Vou à minha casa. Vou a minha casa.


Terra


Terra firme, em oposição a mar, não admite artigo. Por isso os marinheiros gritam “terra à vista”. Sem artigo, nada de crase: O navio chegou a terra ao amanhecer.


Nos demais significados de terra, usa-se a crase:  Maria voltou à terra natal. Os astronautas regressaram à Terra.

Pronome de tratamento começado por Vossa ou Sua tem alergia ao artigo. Sem ele, adeus, crase:


Dirijo-me a Vossa Senhoria para apresentar a proposta de prestação de serviços.


Encaminho a Vossa Excelência o documento solicitado.


Digo a V. Sª que o livro está esgotado.


O presidente fez referência a Sua Excelência para justificar a resposta.


É isso. Com pronomes de tratamento começados com Vossa e Sua, xô, crase!

Exceção? Só existem quatro diferentões: senhora, senhorita, dona e madame. Estes aceitam porque são femininos.

“A crase não foi feita pra humilhar ninguém”, disse F. Gullar. Foi feita pra indicar a união de dois aa. O a pode ser artigo (a casa) ou a 1ª sílaba do pronome demonstrativo aquele, aquilo. Só substantivo feminino é antecedido do artigo a. Daí por que só ocorre crase antes de quem usa batom e saia.


Com crase ou sem crase? Na dúvida, recorra ao troca-troca. Troque o nome feminino por masculino. Não precisa ser sinônimo. Mas do mesmo número (singular ou plural). Se no troca-troca der ao (aos), sinal de preposição + artigo. No feminino, à (às):


1. Vai à igreja. (Vai ao teatro.)

Mas poderia ser também: Vai ao shopping. / Vai ao cartório. / Vai ao banco.


Viu? Ao chama à.


2. Em meio a lutas? Em meio à lutas?


No troca-troca, olho no número: (em meio a combates). Xô, acento grave.


3. Relativamente à natureza? Relativamente a natureza?


Vamos à troca (relativamente ao meio ambiente).


Aos exige às: em meio às lutas.


4. O cão é fiel à dona? Fiel a dona?


Com o troca-troca, fiel ao dono. O ao responde: O cão é fiel à dona.


5. Refiro-me à questão da prova? Refiro-me a questão da prova?


No troca-troca: Refiro-me ao debate da prova. O ao impõe à: Refiro-me à questão da prova.


6. Quanto à prova, nada posso informar? Quanto a prova, nada posso informar?


No troca-troca: Quanto ao tema, nada posso informar. Vem, crase! Quanto à prova, nada posso informar

 

7. É necessário incentivar a revolução? É necessário incentivar a revolução?

 

No troca-troca: É necessário incentivar o movimento. Para que usar? É necessário incentivar a revolução.


8. Recebe à amiga? Recebe a amiga?


No troca-troca: Recebe o amigo. Sem preposição, só o artigo tem a vez. Xô, crase!Assim: Recebe a amiga


9. Bebê a bordo? Bebê à bordo?


Bordo é nome masculino. A menos que você seja alemão, o artigo a não tem vez com ele. Sem a, nada de crase: Bebê a bordo.


10. Vale a pena? Ops! Vamos ao troca-troca: Vale o esforço. Viu? Falta preposição. Sem ela, adeus, grampinho. Por isso não tem crase em Vale a Pena Ver de Novo.


 


Àquele? Àquilo?


1.Luiz se dirigiu àquele vendedor que sorria.


Viu? A gente se dirige a alguém O a exigido pelo verbo se encontra com o a do pronome aquele. É casamento na certa.


2. Em relação àquilo, nada sei. O a da locução em relação a dá de cara com o a de aquilo. Não dá outra. Os trapinhos se juntam.

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