Os morfemas
As palavras da língua portuguesa são formadas por estruturas menores chamadas morfemas. Os morfemas são pequenas unidades significativas que dão sentido as palavras. Para identificá-los em uma palavra, procede-se a uma análise morfológica, que consiste na decomposição das unidades de significação da palavra, destacando seus morfemas. O importante é compreender a relação de sentido estabelecida entre os elementos da palavra. Chamam-se morfemas: raiz, radical, desinência, vogal temática, tema e afixos.
RADICAL
Funciona como base do significado. É o elemento comum a palavras da mesma família (palavras cognatas). Por exemplo, para identificar o radical da palavra casa, observe a sua parte invariável, isto é, a parte que permanece em todas as palavras derivadas de casa: casa, casarão, casebre, casulo, casinha. Também é chamado de lexema, semantema ou morfema lexical.
Evitamos intencionalmente o termo raiz, uma vez que sua identificação está associada à origem histórica das palavras, e implica conhecimentos profundos de etimologia.
Radicais latinos – primeiro elemento da composição
FORMA
SIGNIFICADO
EXEMPLOS
agri-
campo
agricultura
arbori-
árvore
arborizar
curvi-
curvo
curvilíneo
loco-
lugar
locomotiva
pluri-
muitos, vários
pluricelular
Radicais latinos – segundo elemento da composição
FORMA
SIGNIFICADO
EXEMPLOS
-cida que mata suicida
-cultura ato de cultivar apicultura
-fero que contém sonífero
-fico que faz benéfico
Radicais gregos – primeiro elemento da composição
FORMA
SIGNIFICADO
EXEMPLOS
acro- alto acrópole
aster- estrela asteroide
crono- tempo cronologia
foto- luz fotografia
filo- amigo filosofia
Radicais gregos – segundo elemento da composição
FORMA
SIGNIFICADO
EXEMPLOS
-agogo que conduz demagogo
-arca que comanda monarca
-cracia poder democracia
-fagia ato de comer antropofagia
-grafia descrição ortografia
DESINÊNCIAS
Juntam-se ao radical para indicar flexões gramaticais, no fim da palavra. Podem ser nominais ou verbais.
Desinências nominais
Desinência nominal de gênero (DNG) – indica o gênero da palavra (masculino/feminino);
Desinência nominal de número (DNN) – indica o número da palavra (singular/plural).
Ex.:
1) garot (a)(s)
(a) desinência nominal de gênero
(s) desinência nominal de número
2) Médic (o)(s)
(o) – desinência nominal de gênero
(s) – desinência nominal de número
Radical - a parte invariável: medicina, medicamento, medicou (vai até o C)
Desinências verbais
Desinência verbal modo-temporal (DVMT) – indica o tempo (presente, pretérito e futuro) e o modo (indicativo, subjuntivo e imperativo);
Desinência verbal número-pessoal (DVNP) – indica a pessoa (1ª, 2ª e 3ª) e o número (singular e plural).
Ex.:
1) Estudá(va)(mos)
(va) – desinência verbal modo-temporal (pretérito imperfeito do indicativo);
(mos) – desinência verbal número-pessoal (1ª pessoa do plural).
VOGAL TEMÁTICA
É a vogal que se agrega ao radical, preparando-o para receber as desinências.
Nominal: vogal átona (a, e e o) em final de substantivos e adjetivos. Ex.: peixe, livro, casa etc.
ATENÇÃO: não confunda vogal temática nominal com desinência nominal de gênero. Veja:
rosa – vogal temática (VT), não admite flexão masculino x feminino;
advogado – desinência nominal de gênero (admite flexão para o feminino: advogada).
DICA:
A VOGAL TEMÁTICA NÃO ACEITA FLEXÃO
A DESINÊNCIA NOMINAL DE GÊNERO FLEXIONA PARA O FEMININO OU PLURAL
Verbal: indica a que conjugação pertence o verbo. EX.: AR – 1ª conugação – cantar; ER – 2ª conjugação – vender / repor; IR – 3ª conjugação – partir.
OBSERVAÇÃO: O verbo pôr e seus derivados pertencem à 2ª conjugação, porque sua forma antiga era poer.
AFIXOS
Os afixos agregam-se ao radical, a fim de formar novas palavras. Classificam-se em:
Prefixos – Vêm antes do radical. Ex.: incolor, anormal;
Sufixos – Vêm após o radical. Ex.: gostoso, lealdade etc.
PREFIXOS GREGOS E LATINOS
SENTIDO
PREFIXOS GREGOS
PREFIXOS LATINOS
negação, privação
anormal, anarquia
desleal, infeliz
oposição, contrário
antiaéreo
contradizer
afastamento, separação
apogeu
abdicar, abster
duplicidade
anfíbio
ambidestro
movimento para fora
eclipse. exorcismo
exonerar
posição interior
endoscopia
intravenoso, introvertido
posição superior
epiderme
supercílio
excesso, posição superior (aumento)
hipertensão
supersensível
bem, bom
eufonia
bendito, benefício
metade
hemisfério
semicírculo
posição superior (acima)
epiderme
supercílio
movimento através
diâmetro
percorrer
deficiência, posição inferior
hipoderme
subsolo
mudança, transformação
metamorfose
transformar
aproximação, ao lado de
paralelo
adjunto
em torno de, movimento em torno de
perímetro
circunferência
anterioridade, anteriormente
prólogo
prefácio
simultaneidade/concomitância, companhia
sincrônico
contemporâneo
movimento para dentro
elipse, enterrar
injeção
Alguns prefixos indicam valor semântico diferentes: ingerir, informal; acalmar, ateu.
SUFIXOS NOMINAIS
São usados para formar substantivos ou adjetivos. Indicam:
Agente, profissão (vendedor, professor, pedreiro, maquinista, estudante, bancário);
Ação ou resultado de ação (cabeçada, aprendizagem, poupança, casamento, etc.);
Qualidade, estado (lealdade, paciência, pequenez, beleza, patriotismo, doçura, etc.);
Diminutivo (riacho, lugarejo, viela, cartilha, flautim, sacola, menininho);
Doença, inflamação (tuberculose, anemia, cefaleia, reumatismo, apendicite);
Aumentativo (barcaça, casarão, cartaz, copázio, vozeirão, mulherona, cabeçorra, pezão);
Lugar (orfanato, livraria, principado, cemitério, bebedouro, dormitório);
Ciência, doutrina, técnica (geologia, cristianismo, estética);
Coleção, aglomeração (mobiliário, arvoredo, vasilhame, formigueiro, dezena, cafezal);
Referente a, que contém a qualidade de (espiritual, terrestre, natalício, aromático, afrodisíaco, divino);
Abundância, intensidade (faminto, medonho, jeitoso, narigudo);
Forma, matéria (ósseo, suíno, argênteo);
Origem, naturalidade (hebraico, austríaco, pernambucano, madrileno, catarinense, moscovita, cipriota, português, europeu, hondurenho, paulista);
Possibilidade, tendência (lucrativo, amável, comestível, móvel, solúvel);
Seguidor, partidário ou sectário de uma doutrina (republicano, luterano).
SUFIXOS VERBAIS
São usados para formar verbos. Indicam:
Ação que se repete (verbos frequentativos). Voltear, gotejar, etc.;
Ação diminutiva e repetida (verbos diminutivos). Bebericar, saltitar, chuviscar, escrevinhar, etc.;
Ação que principia (verbos incoativos). Amanhecer, florescer, etc.;
Ação causadora (verbos causativos). Canalizar, humanizar, esquentar, etc.
SUFIXOS ADVERBIAIS
São usados para formar advérbios. Há na língua portuguesa, um único sufixo adverbial, mente: Lentamente, felizmente, etc.
VOGAL E CONSOANTE DE LIGAÇÃO
Desprovidas de significação, a vogal e a consoante de ligação unem dois elementos mórficos para desfazer encontros desagradáveis ao ouvido e facilitar a pronúncia. Não são morfemas.
Cha-l-eira, boné-z-inho, café-t-eira etc.
Hort-i-cultor, gas-ô-metro etc.
As flexões são obrigatórias para se estabelecer a concordância: O ministro foi convidado para a reunião. / A ministra foi convidada para a reunião. / Os ministros foram convidados para a reunião. / As ministras foram convidadas para a reunião.
O uso de afixos não se deve a uma obrigatoriedade, mas sim uma opção: Os ex-ministros foram convidados para a reunião. / A ministra foi convidada para as reuniõezinhas.
Nesses exemplos, ministra, ministros e ministras são formas de uma mesma palavra: ministro, reuniãozinha e ex-ministro são novas palavras criadas a partir de ministro e reunião.
A formação de palavras no Português obedece principalmente a dois processos: composição e derivação.
Composição
A composição é o processo que consiste em unir dois ou mais radicais formando palavras compostas. Pode ocorrer por duas formas:
Por justaposição – neste caso não ocorre perda de letras ou fonemas. Junta-se duas palavras com ou sem hífen. Ex.: couve-flor, passatempo, girassol, arranha-céu etc.;
Por aglutinação – neste caso ocorre perda de unidade fonética, letras ou fonemas, deixando de existir a noção de composto. Ex.: água + ardente = aguardente, plano + alto = planalto, em + boa + hora = embora, filho + de + algo = fidalgo, boca + aberta = boquiaberta, vossa + mercê = você.
Derivação
A derivação é o processo que consiste no acréscimo de morfemas (prefixos ou sufixos) a um radical já existente, para representar um conceito relacionado à palavra original. Pode ocorrer das seguintes maneiras:
Prefixal (ou por prefixação): consiste em adicionar prefixo ao radical. Ex.: normal – anormal, forma – reforma, teatro – anfiteatro etc.;
Sufixal (ou por sufixação): consiste em adicionar sufixo ao radical. Ex.: gosto – gostoso, leal – lealdade, pedra – pedreiro e pedrada, engenho - engenheiro e engenharia, real – realismo e realidade etc.;
Prefixal-sufixal: consiste no acréscimo não-simultâneo de prefixo e sufixo ao radical. (*Obs.: se um deles for retirado da palavra, não perderá o sentido). O prefixo é independente do sufixo. Ex.: infelizmente (infeliz = forma existente, felizmente = forma existente).
Parassintética (ou parassíntese): consiste no acréscimo simultâneo de prefixo e sufixo ao radical. (*Obs.: se um deles for retirado da palavra, perderá o sentido). Ex.: amanhecer (*amanhe = forma inexistente, *manhecer = forma inexistente).
Outros processos de formação
Regressiva
Forma substantivos derivados de verbos, ou vice-versa. Ex.: combater (verbo) – combate (substantivo), pescar (verbo) – pesca (substantivo), auxiliar (verbo) – auxílio (substantivo).
OBS.: os substantivos formados a partir de verbos são chamados deverbais, e são sempre abstratos.
Há palavras, no entanto, em que ocorre o inverso, isto é, os substantivos originam os verbos. Ex.: planta (substantivo) – plantar (verbo), âncora (substantivo) – ancorar (verbo), telefone (substantivo) – telefonar (verbo).
Para identificar o substantivo deverbal, deve-se observar o seguinte: quando as duas palavras sugerir movimento, indicar ação, o verbo gera o substantivo; quando nenhuma das palavras sugerir ação, indicar movimento, o substantivo gera o verbo.
Em linguagem informal e literária, ocorre a formação de substantivos a partir de substantivos: barraco - de barracão / boteco - de botequim / portuga - de português / mina - de menina / asco - de asqueroso.
Imprópria
Mudança de classe gramatical e de sentido da palavra, sem alterar a sua forma. Ex.: dez (adjetivo), derivado de dez (numeral); rápido (advérbio), derivado de rápido (adjetivo); seja... seja (conjunção), derivado de seja (verbo). Também é chamada de conversão.
Importante:
A DERIVAÇÃO REGRESSIVA MEXE NA PALAVRA, OU TIRA O R OU COLOCA O R.
A DERIVAÇÃO IMPRÓPRIA MUDA A CLASSE GRAMATICAL E SENTIDO, MAS NÃO TOCA NA PALAVRA.
Outros processos de formação
Hibridismo
É a formação de palavras através do uso de elementos de línguas diferentes:
- automóvel (grego e latim)
- sociologia (latim e grego)
- sambódromo (dialeto africano e grego)
- alcoômetro (árabe e grego)
- burocracia (francês e grego)
- telepizza (grego e italiano)
- televisão (grego e português)
Onomatopeia
Palavras que procuram reproduzir graficamente sons ou ruídos. Ex.: tique-taque, miau, zum, plaft... Os verbos onomatopaicos são impessoais, são conjugados apenas na terceira pessoa: miar, coaxar, latir...
Abreviação vocabular (ou redução)
Redução de uma palavra até o limite que não prejudique a compreensão do significado. Ex.:
- moto (por motocicleta)
- pneu (por pneumático)
- foto (por fotografia)
- cinema (por cinematográfico)
- quilo (por quilograma)
- táxi (por taxímetro)
- fone (por telefone)
Siglonimização (sigla ou acronímica)
Abreviação de duas ou mais palavras (redução de um sintagma (expressão)). Ex.:
- ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas)
- CLT (Consolidação das Leis do Trabalho)
- Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco)
OBSERVAÇÃO: Quando a sigla é soletrada deve-se escrevê-la toda em maiúscula (Ex.: CPF - Cadastro de Pessoa Física); quando a sigla é lida como uma palavra, escreve-a toda em maiúscula ou só a primeira letra maiúscula (Ex.: SESC – Serviço Social do Comércio, Unesp – Universidade Estadual Paulista); mas se for pequena, como SUS, IOF, PIS, deve-se escrevê-la apenas em maiúscula.
Palavra-valise (ou amálgama)
Processo em que ocorre a fusão de duas palavras, uma perdendo a parte final e a outra perdendo a parte inicial. Ex.: portunhol (português + espanhol) - FlaFlu (Flamengo + Fluminense) - grenal (Grêmio + Internacional) - infomercial (informação + comercial) - flexitariano (flexível + vegetariano)
Renovação da língua
Estrangeirismo
Introduz palavras de outros idiomas na língua portuguesa. Ex.: impeachment, marketing, fast food, videogame, shopping, show, Réveillon, lingerie, designer, pen drive, personal trainer, suspense.
Algumas já foram adaptadas ao nosso vocabulário. Ex.: turnê (tournée), futebol (football), uísque (whisky), abajur (abat-jour), batom (bâton), buquê (bouquet), estresse (stress), confete (confetti), chique (chic).
Neologismo
Criação de uma palavra ou expressão ou mudança de sentido de uma palavra já existente. Ex.: panelaço, petista, economês, juridiquês, bolsonarista, lulista, prefeiturável; rede (internet), zebra (resultado inesperado), laranja (intermediário em negócios ilícitos), vírus (programa que se instala no computador e provoca danos), orelhão (cabine de telefone público), desinfetar (ir embora), arroz (pessoa que não perde festa ou evento).
Quando a palavra já existe, mas ganha um novo significado, chama-se de neologismo semântico.
Quando uma nova palavra é criada, com um novo conceito, chama-se de neologismo lexical.
Intensificação
Consiste no alargamento do sufixo de uma palavra já existente. Ex.: inicializar (iniciar), protocolizar (protocolar), culpabilizar (culpar), obstaculizar (obstacular e obstar), digitalizar (digitar).
Decalque
Consiste na tradução de uma palavra ou expressão estrangeira. Ex.: palavras cruzadas (crossword), lente de contato (contact lens), conto de fadas (fairy tale), lista negra (black list), cartão postal (post card).
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