domingo, 30 de janeiro de 2022

Estrutura e formação das palavras - Gramática para Concursos

 Os morfemas

As palavras da língua portuguesa são formadas por estruturas menores chamadas morfemas. Os morfemas são pequenas unidades significativas que dão sentido as palavras. Para identificá-los em uma palavra, procede-se a uma análise morfológica, que consiste na decomposição das unidades de significação da palavra, destacando seus morfemas. O importante é compreender a relação de sentido estabelecida entre os elementos da palavra. Chamam-se morfemas: raiz, radical, desinência, vogal temática, tema e afixos.


RADICAL

Funciona como base do significado. É o elemento comum a palavras da mesma família (palavras cognatas). Por exemplo, para identificar o radical da palavra casa, observe a sua parte invariável, isto é, a parte que permanece em todas as palavras derivadas de casa: casa, casarão, casebre, casulo, casinha. Também é chamado de lexema, semantema ou morfema lexical.

Evitamos intencionalmente o termo raiz, uma vez que sua identificação está associada à origem histórica das palavras, e implica conhecimentos profundos de etimologia.


Radicais latinos – primeiro elemento da composição 


FORMA

SIGNIFICADO

EXEMPLOS

agri-

campo

agricultura

arbori-

árvore

arborizar

curvi-

curvo

curvilíneo

loco-

lugar

locomotiva

pluri-

muitos, vários

pluricelular


Radicais latinos – segundo elemento da composição 

FORMA

SIGNIFICADO

EXEMPLOS

-cida que mata suicida

-cultura ato de cultivar apicultura

-fero que contém sonífero

-fico que faz benéfico

Radicais gregos – primeiro elemento da composição 

FORMA

SIGNIFICADO

EXEMPLOS

acro- alto acrópole

aster- estrela asteroide

crono- tempo cronologia

foto- luz fotografia

filo- amigo filosofia

Radicais gregos – segundo elemento da composição 

FORMA

SIGNIFICADO

EXEMPLOS

-agogo que conduz demagogo

-arca que comanda monarca

-cracia poder democracia

-fagia ato de comer antropofagia

-grafia descrição ortografia


DESINÊNCIAS

Juntam-se ao radical para indicar flexões gramaticais, no fim da palavra. Podem ser nominais ou verbais.


Desinências nominais

Desinência nominal de gênero (DNG) – indica o gênero da palavra (masculino/feminino);

Desinência nominal de número (DNN) – indica o número da palavra (singular/plural). 

 Ex.:

1) garot (a)(s)

(a) desinência nominal de gênero

(s) desinência nominal de número

2) Médic (o)(s)

(o) – desinência nominal de gênero

(s) – desinência nominal de número

Radical - a parte invariável: medicina, medicamento, medicou (vai até o C)


Desinências verbais 

Desinência verbal modo-temporal (DVMT) – indica o tempo (presente, pretérito e futuro) e o modo (indicativo, subjuntivo e imperativo);

Desinência verbal número-pessoal (DVNP) – indica a pessoa (1ª, 2ª e 3ª) e o número (singular e plural).

Ex.:

1) Estudá(va)(mos)

(va) – desinência verbal modo-temporal (pretérito imperfeito do indicativo);

(mos) – desinência verbal número-pessoal (1ª pessoa do plural).


VOGAL TEMÁTICA

É a vogal que se agrega ao radical, preparando-o para receber as desinências. 

Nominal: vogal átona (a, e e o) em final de substantivos e adjetivos. Ex.: peixe, livro, casa etc.

ATENÇÃO: não confunda vogal temática nominal com desinência nominal de gênero. Veja:    

rosa – vogal temática (VT), não admite flexão masculino x feminino;  

advogado – desinência nominal de gênero (admite flexão para o feminino: advogada).


DICA: 

A VOGAL TEMÁTICA NÃO ACEITA FLEXÃO

A DESINÊNCIA NOMINAL DE GÊNERO FLEXIONA PARA O FEMININO OU PLURAL

Verbal: indica a que conjugação pertence o verbo. EX.: AR – 1ª conugação – cantar; ER – 2ª conjugação – vender / repor; IR – 3ª conjugação – partir.

OBSERVAÇÃO: O verbo pôr e seus derivados pertencem à 2ª conjugação, porque sua forma antiga era poer.


AFIXOS

Os afixos agregam-se ao radical, a fim de formar novas palavras. Classificam-se em:

Prefixos – Vêm antes do radical. Ex.: incolor, anormal;

Sufixos – Vêm após o radical. Ex.: gostoso, lealdade etc.

PREFIXOS GREGOS E LATINOS

SENTIDO

PREFIXOS GREGOS

PREFIXOS LATINOS

negação, privação

anormal, anarquia

desleal, infeliz

oposição, contrário

antiaéreo

contradizer

afastamento, separação

apogeu

abdicar, abster

duplicidade

anfíbio

ambidestro

movimento para fora

eclipse. exorcismo

exonerar

posição interior

endoscopia

intravenoso, introvertido

posição superior

epiderme

supercílio

excesso, posição superior (aumento)

hipertensão

supersensível

bem, bom

eufonia

bendito, benefício

metade

hemisfério

semicírculo

posição superior (acima)

epiderme

supercílio

movimento através

diâmetro

percorrer

deficiência, posição inferior

hipoderme

subsolo

mudança, transformação

metamorfose

transformar

aproximação, ao lado de

paralelo

adjunto

em torno de, movimento em torno de

perímetro

circunferência

anterioridade, anteriormente

prólogo

prefácio

simultaneidade/concomitância, companhia

sincrônico

contemporâneo

movimento para dentro

elipse, enterrar

injeção


Alguns prefixos indicam valor semântico diferentes: ingerir, informal; acalmar, ateu.


SUFIXOS NOMINAIS

São usados para formar substantivos ou adjetivos. Indicam:

Agente, profissão (vendedor, professor, pedreiro, maquinista, estudante, bancário);

Ação ou resultado de ação (cabeçada, aprendizagem, poupança, casamento, etc.);

Qualidade, estado (lealdade, paciência, pequenez, beleza, patriotismo, doçura, etc.);

Diminutivo (riacho, lugarejo, viela, cartilha, flautim, sacola, menininho);

Doença, inflamação (tuberculose, anemia, cefaleia, reumatismo, apendicite);

Aumentativo (barcaça, casarão, cartaz, copázio, vozeirão, mulherona, cabeçorra, pezão);

Lugar (orfanato, livraria, principado, cemitério, bebedouro, dormitório);

Ciência, doutrina, técnica (geologia, cristianismo, estética);

Coleção, aglomeração (mobiliário, arvoredo, vasilhame, formigueiro, dezena, cafezal);

Referente a, que contém a qualidade de (espiritual, terrestre, natalício, aromático, afrodisíaco, divino);

Abundância, intensidade (faminto, medonho, jeitoso, narigudo);

Forma, matéria (ósseo, suíno, argênteo);

Origem, naturalidade (hebraico, austríaco, pernambucano, madrileno, catarinense, moscovita, cipriota, português, europeu, hondurenho, paulista);

Possibilidade, tendência (lucrativo, amável, comestível, móvel, solúvel);

Seguidor, partidário ou sectário de uma doutrina (republicano, luterano).

SUFIXOS VERBAIS 

São usados para formar verbos. Indicam:

Ação que se repete (verbos frequentativos). Voltear, gotejar, etc.;

Ação diminutiva e repetida (verbos diminutivos). Bebericar, saltitar, chuviscar, escrevinhar, etc.;

Ação que principia (verbos incoativos). Amanhecer, florescer, etc.;

Ação causadora (verbos causativos). Canalizar, humanizar, esquentar, etc.

SUFIXOS ADVERBIAIS

São usados para formar advérbios. Há na língua portuguesa, um único sufixo adverbial, mente: Lentamente, felizmente, etc.


VOGAL E CONSOANTE DE LIGAÇÃO 

Desprovidas de significação, a vogal e a consoante de ligação unem dois elementos mórficos para desfazer encontros desagradáveis ao ouvido e facilitar a pronúncia. Não são morfemas.

Cha-l-eira, boné-z-inho, café-t-eira etc.

Hort-i-cultor, gas-ô-metro etc.

As flexões são obrigatórias para se estabelecer a concordância: O ministro foi convidado para a reunião. / A ministra foi convidada para a reunião. / Os ministros foram convidados para a reunião. / As ministras foram convidadas para a reunião.

O uso de afixos não se deve a uma obrigatoriedade, mas sim uma opção: Os ex-ministros foram convidados para a reunião. / A ministra foi convidada para as reuniõezinhas.

Nesses exemplos, ministra, ministros e ministras são formas de uma mesma palavra: ministro, reuniãozinha e ex-ministro são novas palavras criadas a partir de ministro e reunião.

A formação de palavras no Português obedece principalmente a dois processos: composição e derivação.



Composição

A composição é o processo que consiste em unir dois ou mais radicais formando palavras compostas. Pode ocorrer por duas formas:

Por justaposição – neste caso não ocorre perda de letras ou fonemas. Junta-se duas palavras com ou sem hífen. Ex.: couve-flor, passatempo, girassol, arranha-céu etc.;

Por aglutinação – neste caso ocorre perda de unidade fonética, letras ou fonemas, deixando de existir a noção de composto. Ex.: água + ardente = aguardente, plano + alto = planalto, em + boa + hora = embora, filho + de + algo = fidalgo, boca + aberta = boquiaberta, vossa + mercê = você.

Derivação

A derivação é o processo que consiste no acréscimo de morfemas (prefixos ou sufixos) a um radical já existente, para representar um conceito relacionado à palavra original. Pode ocorrer das seguintes maneiras:  

Prefixal (ou por prefixação): consiste em adicionar prefixo ao radical. Ex.: normal – anormal, forma – reforma, teatro – anfiteatro etc.;  

Sufixal (ou por sufixação): consiste em adicionar sufixo ao radical. Ex.: gosto – gostoso, leal – lealdade, pedra – pedreiro e pedrada, engenho - engenheiro e engenharia, real – realismo e realidade etc.;  

Prefixal-sufixal: consiste no acréscimo não-simultâneo de prefixo e sufixo ao radical. (*Obs.: se um deles for retirado da palavra, não perderá o sentido). O prefixo é independente do sufixo. Ex.: infelizmente (infeliz = forma existente, felizmente = forma existente).

Parassintética (ou parassíntese): consiste no acréscimo simultâneo de prefixo e sufixo ao radical. (*Obs.: se um deles for retirado da palavra, perderá o sentido). Ex.: amanhecer (*amanhe = forma inexistente, *manhecer = forma inexistente).

Outros processos de formação

Regressiva

Forma substantivos derivados de verbos, ou vice-versa. Ex.: combater (verbo) – combate (substantivo), pescar (verbo) – pesca (substantivo), auxiliar (verbo) – auxílio (substantivo).  


OBS.: os substantivos formados a partir de verbos são chamados deverbais, e são sempre abstratos.


Há palavras, no entanto, em que ocorre o inverso, isto é, os substantivos originam os verbos. Ex.: planta (substantivo) – plantar (verbo), âncora (substantivo) – ancorar (verbo), telefone (substantivo) – telefonar (verbo).

Para identificar o substantivo deverbal, deve-se observar o seguinte: quando as duas palavras sugerir movimento, indicar ação, o verbo gera o substantivo; quando nenhuma das palavras sugerir ação, indicar movimento, o substantivo gera o verbo.

Em linguagem informal e literária, ocorre a formação de substantivos a partir de substantivos: barraco - de barracão / boteco - de botequim / portuga - de português / mina - de menina / asco - de asqueroso.


Imprópria

Mudança de classe gramatical e de sentido da palavra, sem alterar a sua forma. Ex.: dez (adjetivo), derivado de dez (numeral); rápido (advérbio), derivado de rápido (adjetivo); seja... seja (conjunção), derivado de seja (verbo). Também é chamada de conversão.


Importante:

A DERIVAÇÃO REGRESSIVA MEXE NA PALAVRA, OU TIRA O R OU COLOCA O R.

A DERIVAÇÃO IMPRÓPRIA MUDA A CLASSE GRAMATICAL E SENTIDO, MAS NÃO TOCA NA PALAVRA.


Outros processos de formação


Hibridismo

É a formação de palavras através  do uso de elementos de línguas diferentes:

- automóvel (grego e latim)

- sociologia (latim e grego)

- sambódromo (dialeto africano e grego)

- alcoômetro (árabe e grego)

- burocracia (francês e grego)

- telepizza (grego e italiano)

- televisão (grego e português)


Onomatopeia

Palavras que procuram reproduzir graficamente sons ou ruídos. Ex.: tique-taque, miau, zum, plaft... Os verbos onomatopaicos são impessoais, são conjugados apenas na terceira pessoa: miar, coaxar, latir...


Abreviação vocabular (ou redução) 

Redução de uma palavra até o limite que não prejudique a compreensão do significado. Ex.:

- moto (por motocicleta)

- pneu (por pneumático)

- foto (por fotografia)

- cinema (por cinematográfico)

- quilo (por quilograma)

- táxi (por taxímetro)

- fone (por telefone)


Siglonimização (sigla ou acronímica)

Abreviação de duas ou mais palavras (redução de um sintagma (expressão)).  Ex.:

- ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas)

- CLT (Consolidação das Leis do Trabalho)

- Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco)


OBSERVAÇÃO: Quando a sigla é soletrada deve-se escrevê-la toda em maiúscula (Ex.: CPF - Cadastro de Pessoa Física); quando a sigla é lida como uma palavra, escreve-a toda em maiúscula ou só a primeira letra maiúscula (Ex.: SESC – Serviço Social do Comércio, Unesp – Universidade Estadual Paulista); mas se for pequena, como SUS, IOF, PIS, deve-se escrevê-la apenas em maiúscula.


Palavra-valise (ou amálgama)

Processo em que ocorre a fusão de duas palavras, uma perdendo a parte final e a outra perdendo a parte inicial.  Ex.: portunhol (português + espanhol) - FlaFlu (Flamengo + Fluminense) - grenal (Grêmio + Internacional) - infomercial (informação + comercial) - flexitariano (flexível + vegetariano)


Renovação da língua


Estrangeirismo

Introduz palavras de outros idiomas na língua portuguesa. Ex.: impeachment, marketing, fast food, videogame, shopping, show, Réveillon, lingerie, designer, pen drive, personal trainer, suspense.

Algumas já foram adaptadas ao nosso vocabulário. Ex.: turnê (tournée), futebol (football), uísque (whisky), abajur (abat-jour), batom (bâton), buquê (bouquet), estresse (stress), confete (confetti), chique (chic).


Neologismo

Criação de uma palavra ou expressão ou mudança de sentido de uma palavra já existente. Ex.: panelaço, petista, economês, juridiquês, bolsonarista, lulista, prefeiturável; rede (internet), zebra (resultado inesperado), laranja (intermediário em negócios ilícitos), vírus (programa que se instala no computador e provoca danos), orelhão (cabine de telefone público), desinfetar (ir embora), arroz (pessoa que não perde festa ou evento).

Quando a palavra já existe, mas ganha um novo significado, chama-se de neologismo semântico.

Quando uma nova palavra é criada, com um novo conceito, chama-se de neologismo lexical.


Intensificação

Consiste no alargamento do sufixo de uma palavra já existente. Ex.: inicializar (iniciar), protocolizar (protocolar), culpabilizar (culpar), obstaculizar (obstacular e obstar), digitalizar (digitar).


Decalque

Consiste na tradução de uma palavra ou expressão estrangeira. Ex.: palavras cruzadas (crossword), lente de contato (contact lens), conto de fadas (fairy tale), lista negra (black list), cartão postal (post card).

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