O radiotelescópio Bingo, que está sendo instalado na Serra do Urubu, na cidade de Aguiar, no Sertão da Paraíba, deve começar a ter o pleno funcionamento até o fim de 2024, de acordo com informações do coordenador geral do projeto, Élcio Abdalla, em contato com o g1. O equipamento é capaz de explorar fenômenos desconhecidos no universo, como a matéria e energia escura e rajadas rápidas de rádio.
Inicialmente, o radiotelescópio tinha como previsão para começar a operar em 2021, no entanto, segundo o coordenador do projeto, várias questões de ordem burocrática referentes a verbas e problemas ocasionados pela pandemia fizeram com que a instalação e funcionamento pleno do equipamento atrasasse.
“Houve várias questões, em primeiro lugar a pandemia. De fato, recebemos as verbas da Fapesp, que foi a verba inicial, para ser gasta em cinco anos. Eles nos deram dois anos de projeto inicial, mas com os dois anos de pandemia não daria para ter funcionado”, ressaltou Élcio Abdalla.
Segundo ele, além dos problemas ocasionados pela Covid-19, outros travamentos no desenvolvimento do projeto estão a cargo de verbas que ficaram represadas por um período e, por isso, as etapas de construção do radiotelescópio tiveram que ser adiadas.
“Tivemos também questões de outras verbas que apareceram e ficaram encalacradas na burocracia. Houve um dinheiro federal, da Finep, que ficou basicamente um ano sem uso. Agora que nós estamos com a verba disponível e que está sendo usada”, explicou.
Além de instituições nacionais, o projeto do Bingo recebe aporte financeiro do governo chinês, que também acabou demorando mais tempo do que inicialmente era o previsto para a liberação do dinheiro.
O Bingo é um projeto liderado pelo Brasil com cooperação internacional, que vai estudar cosmologia e astrofísica, buscando vestígios de matéria e energia que estavam presentes na formação do universo, após o Big-Bang, por meio de ondas de rádio.
Participam do projeto o Governo da Paraíba, Governo Federal, Fapesq PB, Finep e Fapesp, além do governo chinês. Outras instituições de ensino, como universidades e institutos, de todo o mundo, estão inclusos.
Estágio atual de construção do BINGO
Além dos motivos pelo atraso, o coordenador Élcio Abdalla explicou também como está o atual estágio de construção do radiotelescópio e, segundo ele, a previsão é de que até 2025 tudo esteja em pleno funcionamento na cidade de Aguiar.
O projeto de construção é dividido em várias vertentes, independentes entre si, e que precisam, quando estiverem prontas, serem unidas para formar o radiotelescópio. Mas, até lá, cada parte está sendo desenvolvida em diferentes lugares.
“O projeto tem duas fases. A primeira, nós temos basicamente tudo que precisamos em termos de apoio financeiro. Temos um razoável número de cornetas, que farão com que o projeto funcione, está chegando a parte eletrônica da China, tem a estrutura de aço que está sendo feita na China, e temos a estrutura de concreto que está sendo feita na Paraíba”, contou sobre as partes que compõem o radiotelescópio.
Conforme o professor, cada parte do projeto já tem uma previsão para chegar a Aguiar e a estrutura de concreto, que dará suporte físico aos materiais do radiotelescópio deverá estar pronta até o início de 2024.
“A estrutura de aço, os chineses nos prometeram para abril, as cornetas nós já temos, mas precisam ser enviadas da China, provavelmente isso vai acontecer no início do ano, e a parte eletrônica deve vir entre março e abril”, relatou o cronograma.
Com esse cronograma previsto para todas as partes do radiotelescópio chegarem ao Sertão da Paraíba, a expectativa de Élcio Abdalla é de que entre junho e agosto do próximo ano se inicie uma fase de testes com os materiais para avaliar como vai ser o funcionamento do equipamento e entre novembro e dezembro o pleno funcionamento aconteça.
“Dezembro do ano que vem é um tempo razoavelmente suficiente para iniciarmos as observações puramente cientificas”, disse.
“Ciência já está sendo feita”
Apesar do atraso e do radiotelescópio ainda não operar como era inicialmente previsto, Élcio Abdalla ressaltou que estudos em relação às áreas nas quais o equipamento vai ser apontado para o céu, para mapear energia e matéria escura, além das ondas de rádio, estão em curso, porque não é possível que um projeto de tamanha envergadura seja conduzido “às cegas”.
“Quando a gente fala da parte científica, na verdade, essa parte já está em pleno funcionamento, só que ainda no papel. Se você considerar a parte de observação, essa não está ocorrendo, mas todo o projeto científico tem uma parte anterior que são feitos testes teóricos, que quando nós virmos alguma coisa (no céu), como é que vamos interpretar, quando tivermos tais e tais ruídos, como vamos eliminar? Estamos fazendo já de antemão”, explica.
Élcio contou também que da parte teórica que está sendo elaborada para auxiliar o Bingo, 10 'papers', que são documentos que reúnem resultados de pesquisas, já foram publicados ou estão em vias de, em grandes revistas da área. Outros 15 documentos do tipo ainda estão sendo elaborados, também todos com base no radiotelescópio.
“Esses mais de 20 'papers' que estão projetados ou já nas revistas, eles são condição essencial para que o projeto se inicie, porque nada começa, nenhuma fundação é colocada, se não temos certeza de que aquilo é daquele jeito e se é da melhorar maneira de colocar, e a direção que vai ser observada é a melhor no espaço, e isso leva muito tempo”, ressaltou.
Os estudos prévios desenvolvidos por pesquisadores para o Bingo viabilizam até a existência do projeto, que envolve também responsabilidade financeira e que decisões acerca dele não poderiam ser feitas sem bases cientificas sólidas.
"Estamos falando de um projeto de muitos milhões. Existem os gastos de material, que hoje giram em torno de mais de R$ 30 milhões, mas tem o gasto com o pessoal. Então, se contarmos tudo isso, é um projeto que custa uma centena de milhões de reais, praticamente", finalizou.
O que o Bingo vai estudar
O radiotelescópio Bingo, quando pronto, vai ser responsável por investigar a distribuição de massa do universo, tentar entender a matéria e a energia escura, além de procurar saber o que são as rajadas rápidas de rádio.
“A principal pergunta científica que nos motivou ao projeto é saber o que significa a chamada parte escura do universo. A parte que vemos corresponde a apenas 5% do universo e é muito pouco. Temos objetos 20 vezes maiores e mais intensos e que nós não compreendemos. Além disso, queremos compreender também a origem das emissões enormes de energias que, inicialmente, pensava-se ser algo terrestre ou um ruído, mas depois verificou-se que era energia vinda do espaço”, disse Élcio Abdalla quando o projeto do radiotelescópio foi lançado.
domingo, 26 de novembro de 2023
Radiotelescópio que mapeia energia escura do universo deve começar a funcionar até o fim de 2024 no Sertão da PB
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