quinta-feira, 9 de setembro de 2021

ProEnem - sintaxe da oração

 OS SINTAGMAS

As orações organizam-se em unidades sintático-semânticas dentro de estruturas produzidas através das regras de combinação da língua portuguesa. Essas unidades recebem o nome de sintagmas, isto é, unidades consecutivas que funcionam como determinadas e determinantes, estabelecendo uma relação necessária de subordinação entre eles.


Tomemos como exemplo a oração abaixo:


O filho do dono da padaria comprou um carro e uma motocicleta.


Vamos dividi-la em seus constituintes oracionais. Primeiro, achamos dois sintagmas:


1


2


O filho do dono da padaria



comprou um carro e uma motocicleta


Esses dois termos formam os componentes básicos de uma oração: 1- o sintagma nominal que, nesse caso, corresponde ao sujeito; e 2- o sintagma verbal, correspondendo ao predicado. Perceba também, que dentro desses dois sintagmas as relações de dependência ainda ocorrem, organizando os termos ao redor de seus núcleos:


1


DETERMINANTE


NÚCLEO


DETERMINANTE


O


filho


do dono da padaria


Não nos alongaremos sobre as teorias que definem, classificam e delimitam os sintagmas. É importante, contudo, que você perceba como esses “blocos funcionais” organizam-se na oração, desempenhando diferentes funções.


OS TERMOS DA ORAÇÃO

Observe o quadrinho abaixo:



Para cada núcleo verbal existente nas falas da personagem, haverá uma oração. E em cada uma delas, consequentemente, haverá sintagmas que se relacionam entre si. Os termos da oração constituem a nomenclatura oficial de classificação dos elementos que constituem esse tipo de enunciado.


A Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) classifica os termos em três ordens, hierarquicamente posicionados: essenciais, integrantes e acessórios.


1. TERMOS ESSENCIAIS DA ORAÇÃO


1.1 SUJEITO


1.2 PREDICADO


2. TERMOS INTEGRANTES DA ORAÇÃO


2.1 COMPLEMENTO VERBAL (OBJETO)


2.2 COMPLEMENTO NOMINAL


2.3 PREDICATIVO


2.4 AGENTE DA PASSIVA


3. TERMOS ACESSÓRIOS DA ORAÇÃO


3.1 ADJUNTO ADNOMINAL


3.2 ADJUNTO ADVERBIAL


3.3 APOSTO


4. VOCATIVO


OBSERVAÇÃO

Apesar de alguns autores relacionarem o vocativo como um termo acessório, parece-nos coerente classificá-lo como termo independente da oração, já que o termo não faz parte da estrutura oracional, funcionando como elemento de interlocução meramente exclamativo.


O TERMO ESSENCIAL PRIMEIRO: O SUJEITO.

Formulando um conceito baseado em aspectos sintáticos, classifica-se como sujeito o termo nominal “a que o verbo faz referência e com o qual, em princípio, este concordará.” (LEITÃO, 1998).  Por essa definição temos uma relação estritamente gramatical, na qual o termo sujeito é uma explicitação léxica do sujeito expresso pelo verbo. Daí pode-se afirmar que a flexão do verbo denuncia o sujeito, estando ele explícito ou elíptico na oração.



Veja que a fala de Cascão apresenta os verbos “tive” e “sonhei”, que denunciam o sujeito gramatical “eu”, a primeira pessoa gramatical. É claro que podemos entender o sujeito através de uma noção mais “semântica”: “sujeito é o ser sobre o qual se faz uma declaração” (CUNHA, 1985); mas, nestes casos, devemos ficar atentos, pois algumas compreensões equivocadas podem surgir, já que a classificação oficial é baseada no rigor sintático.


O sujeito é um termo cujo núcleo sempre será representado por um substantivo, pronome pessoal do caso reto, pronome pessoal do caso oblíquo (com verbo causativo e sensitivo), pronome de tratamento, pronome demonstrativo, pronome indefinido, pronome interrogativo, pronome relativo, numeral, palavra ou expressão substantivada, incluindo-se nesta lista as orações que exercem a função de sujeito (orações subordinadas substantivas subjetivas). Como termo determinado, aceita termos determinantes anteriores (pré-determinantes) ou posteriores (pós-determinantes), que normalmente são representados pelos artigos, adjetivos, pronomes demonstrativos, pronomes possessivos e numerais.


Assim, podemos resumir as seguintes características do sujeito:


Concorda com o verbo;


É sobre quem se fala algo;


Apresenta-se, geralmente, com um núcleo de valor substantivo ou pronominal.


CLASSIFICANDO O SUJEITO

A NGB classifica o sujeito pela sua existência semântico-sintática na oração e sua possibilidade de determinação. Sendo assim, teremos:


ORAÇÃO


COM SUJEITO


DETERMINADO


SIMPLES


SEM SUJEITO


INDETERMINADO


COMPOSTO


SUJEITOS DETERMINADOS

Orações que apresentam um termo que funciona gramaticalmente como sujeito ou logicamente como tal, ainda que não expresso no período. Quando se pode determinar quem é o sujeito, não importando se explícita ou implicitamente, basta contar a quantidade de núcleos que possui para que se classifique como simples ou composto. Imagine a tarefa de classificar o sujeito das orações abaixo:


“A minha cama é uma folha de jornal”


(Noel Rosa)


“Eu queria jogar


Mas perdi a aposta”


(Titãs)


“Matogrosso e o Joca deixaram o bairro da Luz


E montaram a maloca em Oswaldo Cruz”


(Conforte/Cestari)


No primeiro exemplo, ao se perguntar ao verbo “quem é uma folha de jornal?”, obtém-se como resposta o termo “a minha cama”. Ora, como só há um núcleo no sujeito, dizemos que se classifica como simples. No segundo, há duas orações: a primeira apresenta o sujeito pronominal “eu”, de apenas um núcleo, sendo, portanto, sujeito simples. Na segunda oração, temos a elipse do pronome “eu”, dando origem ao que muitos autores classificam como sujeito oculto. Por fim, o terceiro trecho apresenta mais duas orações: na primeira o sujeito é composto por apresentar dois núcleos (Matogrosso e o Joca), na segunda oração, os termos que servem de sujeito estão elípticos, formando mais um caso de sujeito oculto.


O sujeito oculto é um caso controverso na gramática: se, por um lado, representa um fenômeno válido na sintaxe, a elipse do sujeito; por outro não é acolhido pela nomenclatura oficial. Portanto, nos concursos não se utiliza tal terminologia. Ora, e como o classificaremos? A resposta é simples: já que podemos determinar o núcleo desses sujeitos, classificaremo-los como determinados simples ou compostos, conforme a elipse do termo. Assim, na música dos Titãs, a segunda oração teria um sujeito determinado simples, “eu”; e na música de Conforte e Cestari, um sujeito composto, Matogrosso e o Joca.


Ainda há uma possibilidade de o sujeito simples ser expresso por um pronome oblíquo, algo incomum na língua, em um caso que pode-se chamar de sujeito “acusativo”, em referência à função exercida pelo pronome na língua latina.


Mandaram-me entrar.


Repare que “me” é o complemento do primeiro verbo: “mandaram a mim”. Ao mesmo tempo, “me” representa o “eu” sujeito do verbo entrar: “que eu entrasse”. Desta maneira, ao mesmo tempo em que é complemento do primeiro verbo, funcionam como sujeito simples do segundo.


SUJEITO INDETERMINADO

Ocorre quando “não se pode ou não se deseja indicar o sujeito de uma oração” (KURY, 2001). Sua construção se faz através de dois recursos principais:


A) Verbo intransitivo, transitivo indireto ou de ligação na 3ª pessoa do singular + se (índice de indeterminação do sujeito).


Precisa-se de funcionários com experiência.


Trabalha-se durante o dia.


Era-se mais feliz antigamente.


B) Verbo na 3ª pessoa do plural, sem referência no texto a nenhum termo substantivo.


“Foi a mais linda


História de amor


Que me contaram”


(Jorge Benjor)


Alguns autores apontam também casos de verbos no infinitivo impessoal, nos quais é impossível a determinação de um sujeito, como nos casos abaixo:


“Navegar é preciso


Viver não é preciso.”


Fernando Pessoa


ORAÇÃO SEM SUJEITO 

Dizemos que uma oração não possui sujeito, também chamado de sujeito inexistente ou sujeito zero, quando seu verbo não faz referência a termo algum, sendo chamado impessoal. Assim, a oração apresenta apenas o predicado, uma declaração sem que haja sujeito de referência. Vejamos os principais casos de impessoalidade verbal:


A) Verbos e expressões que indicam fenômenos naturais, ou condições climáticas:


“Solidão a dois de dia, faz calor, depois faz frio”


(Cazuza)


B) Verbo haver indicando existência ou acontecimento


“Não há mais o que falar”


(KLB)


Houve muitos acidentes nesta estrada.


C) Verbos fazer e haver, nas indicações de tempo decorrido


“Faz tanto tempo que a gente não fala mais de amor”


(José Augusto)


D) Verbo ser indicando hora, data ou distância


“Agora é tarde como eu fui bobo em vacilar”


Hoje é / são 20 de setembro.


São 15 quilômetros até o cinema.

Desta forma, pode-se afirmar sem medo de errar que, à exceção do vocativo, tudo aquilo que não for sujeito pertencerá ao predicado. Caracteriza-se fundamentalmente pela presença explícita ou implícita de um verbo ou locução verbal. Logo, a análise do verbo faz-se fundamental para que se possa classificar o predicado, ainda que seu núcleo possa ser representado por outra classe gramatical. 


PREDICAÇÃO VERBAL

A classificação do verbo faz-se, em primeiro lugar, pela análise de seus aspectos significativos, dividindo-os em verbos nocionais, que expressam uma ação propriamente dita; ou verbos relacionais, que expressam estado e têm a função de ligar o sujeito a uma qualidade que a ele se atribua.


Esquematizando a classificação dos verbos, teremos:



VERBOS NOCIONAIS OU DE AÇÃO

São aqueles que expressam alguma ação ou fenômeno. Podem ter seus significados complementados por substantivos ou pronomes; nesses casos, contudo, é importante ressaltar que o complemento desse verbo deve sofrer a ação por ele descrita. Da necessidade de complementação, classificam-se os verbos em:


TRANSITIVOS

São os que exigem um complemento paciente substantivo ou pronominal. Divide-se em três tipos, dependendo da maneira como se liga aos complementos.


Transitivos diretos


São aqueles que pedem complemento não regido de preposição obrigatória. Tem a capacidade de “transitar” para a voz passiva.


“A chuva trouxe esperança e alegria.”



(Graciliano Ramos)


Transitivos indiretos


São os verbos que pedem complemento regido por preposição ou termo equivalente, como um pronome oblíquo átono, por exemplo.


“O Sem-Pernas não acreditava em nada.”


(Jorge Amado)


Transitivos diretos e indiretos


Pedem as duas espécies de complemento.


“E eu dou o aviso a vocês.”


(Jorge Amado)


Intransitivos


Não exigem complemento substantivo, apesar de que podem exigir outros tipos de complementos circunstanciais que indiquem lugar, tempo, modo, causa, finalidade entre outros. Nesse caso, tais complementos equivalem a um advérbio. Esses complementos são chamados de adjuntos adverbiais.


Realmente nada aconteceu naquela tarde cinzenta de abril.


(Clarice Lispector)


VERBOS RELACIONAIS OU DE LIGAÇÃO


Veja o slogan do anúncio acima e repare que o verbo da oração não enuncia uma ação, servindo apenas para ligar o sujeito “o sabor do natal” ao adjetivo “irresistível”. Este tipo de verbo não exige uma complementação paciente, mas sim uma qualidade, um atributo do sujeito, representado por um adjetivo ou substantivo.


É comum citarem-se os verbos ser, estar, ficar, parecer, permanecer, continuar, andar, virar e tornar-se como exemplos de verbos de ligação; no entanto, não se deve decorar uma lista de verbos, mas compreender a frase por completo, já que a análise da predicação verbal depende do contexto em que está o verbo inserido. Vejamos:


Ando oito quilômetros todos os dias.


Ando desapontado com meu time de futebol.


No primeiro exemplo, temos claramente um verbo de ação, apresentando o sentido de caminhar. No segundo exemplo, tal sentido não existe e o verbo denota apenas a mudança de estado do sujeito.


Jaiminho estava doente.


Jaiminho estava no hospital.


A primeira frase apresenta um verbo de ligação, com mera indicação do estado do sujeito. Já no segundo exemplo, a expressão “no hospital” representa uma circunstância de lugar, não uma caracterização do estado do sujeito.


Eu estou bem.


Eu estou bom.


Por fim, verifica-se a classificação pela classe gramatical: o primeiro exemplo nos traz um advérbio – bem – o que faz o verbo classificar-se como intransitivo; a segunda frase possui um adjetivo – bom – o que faz o verbo ser de ligação.


CLASSIFICAÇÃO DO PREDICADO

Agora que já sabemos sobre a classificação dos verbos, podemos classificar os diferentes tipos de predicado. Essa classificação faz-se através da identificação do núcleo do predicado; apesar de o verbo ser elemento obrigatório no predicado, pode ele não ser o seu núcleo. Assim, teremos:


PREDICADO NOMINAL

Nesse caso, a declaração sobre o sujeito está centrada em um adjetivo, substantivo ou equivalente, como pronome, numeral ou advérbio, e também uma oração subordinada substantiva predicativa. Desta forma, podemos dizer que possui núcleo nominal, ou seja, um predicativo, exprimindo estado, qualidade ou condição. Apresenta, sempre, verbo de ligação.


Roberto Carlos é um cantor romântico.


A miss Brasil é muito bonita.


Este cinto é meu!


A boneca era de porcelana.


Éramos seis.


Os dias eram assim.


PREDICADO VERBAL

Aqui, o verbo encerra uma ação referida ao sujeito ou um fenômeno natural. Apresenta núcleo verbal, isto é, um verbo significativo (de ação). Não há, aqui, nenhuma espécie de predicativo.


Roberto Carlos cantou “Detalhes” no especial de Natal.


A miss Brasil não ganhou o título mundial.


Este cinto segura minhas calças!


A boneca partiu-se ao meio.


PREDICADO VERBO-NOMINAL

É como se houvesse um predicado misto, com dois núcleos, um verbal e outro nominal, isto é, um verbo significativo (de ação) e algum tipo de predicativo (do sujeito ou do objeto).


Roberto Carlos achou a plateia muito animada.


A miss Brasil chorou, desapontada, a perda do título.


O juiz julgou o réu inocente.

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