Quando se dá uma comunicação, damos ênfase a um desses elementos, o que determina uma função a essa linguagem. Segundo um modelo proposto pelo linguista Roman Jakobson, são seis as funções da linguagem:
Roman Jakobson, são seis as funções da linguagem:
A ênfase no fator:
Emissor Emotiva ou Expressiva
Receptor Apelativa, Conativa ou Imperativa
Referente Referencial ou Informativa
Mensagem Poética ou Estética
Código Metalinguística
Canal Fática
A FUNÇÃO EMOTIVA
Também chamada de função expressiva, quando a intenção do produtor do texto é posicionar-se em relação ao que está abordando, é expressar seus sentimentos e emoções e o texto resultante é subjetivo, temos a função emotiva. O texto é escrito em 1ª pessoa, com interjeições, adjetivos valorativos, reticências, ponto de exclamação, diminutivos e superlativos. Uma biografia, um diário, um poema, uma letra de música, um cordel, uma carta pessoal, uma novela, um depoimento, uma entrevista e uma memória são exemplos desses textos. Veja outros exemplos:
(QUINO. Toda Mafalda. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2002.)
Velha infância
Você é assim
Um sonho pra mim
E quando eu não te vejo
Eu penso em você
Desde o amanhecer
Até quando eu me deito
Eu gosto de você
E gosto de ficar com você
Meu riso é tão feliz contigo
O meu melhor amigo é o meu amor
[…]
(ANTUNES, A. / BROWN, C. / MORAES, D. / MONTE, M. / BABY, Pedro. CD Tribalistas. EMI. 2002.)
Ainda que de gêneros diferentes, os dois textos ─ a tira de Quino e a música dos Tribalistas ─ apresentam uma linguagem centrada na 1ª pessoa, dando ênfase à expressividade, à subjetividade do emissor.
A FUNÇÃO APELATIVA
Também chamada de função conativa ou imperativa, quando a intenção do produtor da mensagem é influenciar, envolver, persuadir o destinatário; quando a mensagem se organiza em forma de ordem, chamamento, apelo ou súplica, temos a função conativa ou apelativa da linguagem. A linguagem publicitária, os textos religiosos, sermões, discursos políticos, campanhas eleitorais, orações, preces, palestras, horóscopo e autoajuda utilizam essencialmente essa função da linguagem:
Globo e você, toda hora, tudo a ver
Se liga aí, que é hora da revisão
Veja que o anúncio se constrói a partir de um apelo ao leitor para que assista a Globo e reveja os conteúdos vistos na teleaula do Telecurso. Repare, também, nos verbos no Imperativo. O foco da mensagem está centrada no receptor. O uso do imperativo é representativo dessa função da linguagem.
A FUNÇÃO REFERENCIAL
Também chamada de função informativa, a função referencial centra-se na informação. Quando a intenção é transmitir ao interlocutor dados da realidade de uma forma objetiva, sem ambiguidades, com palavras empregadas em seu sentido denotativo, na 3ª pessoa e em ordem direta. Portanto, essa é a função que predomina em telejornais, jornais, revistas, artigos científicos, livros didáticos, manuais de instrução, bulas de remédios, receitas, documentos oficiais, correspondências comerciais e redações ─ informativos por excelência. Veja um exemplo:
China quer investir na produção de soja no país
A China, maior importador mundial de soja, está promovendo uma ofensiva em várias frentes e em vários Estados no Brasil visando aumentar a sua presença na cadeia produtiva da cultura no país, informam Fabiano Maisonnave e Estelita Hass Carazzai. A estratégia será concretizada por meio de acordos de exportação com os agricultores, investimentos em indústrias e compra de terras.
(www.folhauol.com.br)
A FUNÇÃO POÉTICA
Quando a intenção do produtor do texto está voltada para a própria mensagem, mas não com a informação somente, e sim com a construção dessa mensagem, com uma melhor arrumação das palavras, quer na escolha, quer na combinação delas, temos a função poética, também chamada de função estética. Assim, a função poética abarca elementos fundamentais expressivos como a sonoridade, o ritmo, o belo e o inusitado das imagens, valores conotativos, usando técnicas de composição literária, como figuras de linguagem, ambiguidade, intertextualidade e polissemia. Embora seja fundamental em textos literários, é usada em textos publicitários, letras de música, anedotas, trocadilhos, provérbios, slogans, histórias em quadrinhos e também em conversas cotidianas. Esse belo poema de Manuel Bandeira dispensa comentários maiores. Apenas absorva a beleza de sua linguagem e de suas imagens poéticas:
Belo belo I
Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.
Tenho o fogo de constelações extintas há milênios.
E o risco brevíssimo — que foi? passou — de tantas estrelas cadentes.
A aurora apaga-se,
E eu guardo as mais puras lágrimas da aurora.
O dia vem, e dia adentro
Continuo a possuir o segredo grande da noite.
Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.
Não quero o êxtase nem os tormentos.
Não quero o que a terra só dá com trabalho.
As dádivas dos anjos são inaproveitáveis: Os anjos não compreendem os homens.
Não quero amar,
Não quero ser amado.
Não quero combater,
Não quero ser soldado.
— Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples.
A linguagem publicitária frequentemente utiliza a função poética em seus anúncios. Repare a imagem poética gerada pela palavra “princípio” em uma campanha veiculada na década de 90:
Ética: uma questão de princípio.
A FUNÇÃO METALINGUÍSTICA
Quando a preocupação do emissor está voltada para o próprio código utilizado, ou seja, o código é o tema da mensagem ou é utilizado para explicar o próprio código, temos a função metalinguística. Principalmente as gramáticas e os dicionários são fontes de metalinguagem, as pinturas, a publicidade, as músicas, os poemas, as histórias em quadrinhos, e também os programas de TV que falam sobre a própria TV, como o Vídeo Show. Veja os exemplos:
Gosto da palavra fornida. É uma palavra que diz tudo o quer dizer. Se você lê que uma mulher é bem fornida, sabe exatamente como ela é. Não gorda, mas cheia, roliça, carnuda. E quente. Talvez seja a semelhança com forno. Talvez seja apenas o tipo de
(Luis Fernando Verissimo)
Fornido [part. De fornir.] Adj.
1. Abastecido, provido.
2. Robusto, carnudo, nutrido, alentado.
(HOLLANDA, Aurélio Buarque de. Dicionário Aurélio Eletrônico.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996.)
Repare que nos dois exemplos temos uma metalinguagem. O cronista escreve um texto em que utiliza o código da língua portuguesa exatamente para falar da língua portuguesa; já o verbete do dicionário é o exemplo típico, uma vez que as palavras se organizam para explicar as próprias palavras.
A FUNÇÃO FÁTICA
A interação entre falantes, e a preocupação do emissor em manter o contato com o interlocutor, prolongando uma comunicação ou então testando o canal com frases do tipo “Veja bem…” ou “Olha…” ou “Entende?” caracteriza a função fática. Assim, o início, a retomada e final de uma conversação centram-se numa função fática. É predominante em cumprimentos, saudações, despedidas, vinhetas e conversas telefônicas. Veja um trecho da canção Sinal Fechado, de Paulinho da Viola, que caracteriza essa função:
─ Olá, como vai?
─ Eu vou indo. E você, tudo bem?
─ Tudo bem, eu vou indo correndo pegar meu lugar
no futuro e você?
─ Tudo bem, eu vou indo em busca de um sono
tranquilo, quem sabe…
─ Quanto tempo.
─ Pois é. Quanto tempo.
[…]
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