A língua é algo essencialmente oral. Nossa capacidade humana manifestou-se inicialmente pela fala. A escrita é algo posterior, inventada para tentar reproduzir graficamente os sons que produzimos. Quando dizemos que vamos estudar Fonologia, afirmamos estudar os sons que compõem a língua.
Por essa definição, podemos perceber que nem todos os sons serão objetos de estudo de nossa matéria, pois apenas alguns deles têm valor significativo para nossa língua. Desta maneira, temos sons que compõem palavras e outros – que até nos auxiliam na fala, para representar algum fato ou imitar algo enquanto falamos – que são meros ruídos, por não possuírem um valor distintivo no idioma.
FONEMA? O QUE É ISSO?
Ora, se nem todos os sons são válidos para nosso estudo, é claro que devemos classificar aqueles que para nós terão valor. Chamaremos fonema à unidade sonora de uma língua, isto é, a menor unidade de som que constitui uma palavra, servindo como elemento distintivo vocabular.
Veja a palavra a seguir:
OLHO
Ponha sua cabeça para pensar e responda: de quantas maneiras podemos ler essa palavra? Ela nos permite duas leituras: uma, com o a vogal inicial fechada [olho] e outra, com o timbre aberto [ólho]. No primeiro caso, trata-se de um substantivo (órgão responsável pela visão); no segundo, da forma de primeira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo olhar. Essa diferença se dá porque, apesar de que a escrita seja apenas uma, há duas maneiras de realizar-se a palavra no plano fonológico, isto é, na língua falada são duas palavras diferentes.
ATENÇÃO: FONEMAS NÃO SÃO LETRAS!
É fundamental que se diferencie o fonema, uma unidade sonora, de letra, uma representação gráfica dos fonemas da fala. Os fonemas não correspondem necessariamente às letras do alfabeto, havendo a possibilidade de um fonema ser representado por mais de uma letra, ou mesmo uma letra representando mais de um fonema. Fonema é som, letra é representação do som.
Se você leu com atenção o quadro acima, percebeu que o número de letras e de fonemas de uma palavra pode ser diferente. Tanto pode apresentar mais letras do que fonemas quanto o inverso. Veja:
folha – [foλa] = cinco letras e quatro fonemas.
táxi – [taksi] = quatro letras e cinco fonemas.
amante – [amãti] = seis letras e cinco fonemas.
CLASSIFICAÇÃO DOS FONEMAS
Os fonemas podem ser classificados do ponto de vista de suas propriedades físicas e biológicas ou por seus aspectos gramaticais. Em quaisquer casos, encontraremos três tipos de fonemas:
VOGAL
Pelo aspecto físico, é o som produzido por uma corrente de ar que, vinda dos pulmões passa livremente pela cavidade bucal à sua passagem. No aspecto gramatical, constitui a base da sílaba portuguesa, isto é, cada vogal corresponde somente a uma sílaba.
CONSOANTE
Pelo aspecto físico, é o som produzido por uma corrente de ar proveniente dos pulmões que encontra alguma interferência por essa passagem. As consoantes sempre formam sílaba com vogais, sem as vogais, as consoantes são simples ruídos.
SEMIVOGAL
É o fonema produzido como vogal, pronunciado de maneira menos intensa, não constituindo sílaba isoladamente, devendo sempre estar acompanhado por uma vogal. No português, correspondem aos sons /y/ e /w/ quando juntos a uma vogal e com esta formando sílaba.
Quando juntos em uma mesma emissão expiratória, isto é, em única emissão de voz, esses grupos de fonemas formam as conhecidas sílabas. Uma sílaba pode conter diversos fonemas ou mesmo apenas um. Lembramos que é obrigatória a existência de apenas uma vogal em cada sílaba e que não há sílaba sem vogal.
FENÔMENOS FONÉTICOS
Dá-se o nome de fenômenos fonéticos aos encontros envolvendo sons vocálicos, sons consonantais e às particularidades de correspondência entre a fala e a escrita vigente.
ENCONTROS VOCÁLICOS
Ditongo
É o encontro de semivogal com vogal na mesma sílaba, ou vice-versa. Pode ser crescente, quando formado por semivogal + vogal (qual, frequência, linguiça) ou decrescente quando composto por vogal + semivogal (pai, mau, muito); Classifica-se também em oral, quando a vogal-base é oral (pai, qual, mau), ou nasal, nos casos em que vogal- base é nasal (frequência, muito, porém).
Tritongo
Consiste no encontro de vogal entre duas semivogais na mesma sílaba (Paraguai, Uruguai, saguão).
Hiato
Sequência de duas vogais sem que haja uma consoante entre elas. (viúva, saúde, poeta).
Para efeito de nomenclatura, os encontros de ditongo e vogal, como os que ocorrem nas palavras meio, saia, maio, papagaio, goiaba etc., devem sem considerados preferencialmente como ditongos decrescentes + hiato (/say.a/), apesar de alguns bons autores defenderem a existência de dois ditongos: um decrescente seguido de outro crescente (/say.ya/).
ENCONTRO CONSONANTAL
Constitui uma sequência de consoantes em uma mesma palavra, estando ou não presentes em uma mesma sílaba. Daí classificar-se como separável, também chamado de impróprio ou imperfeito (car-ta) ou inseparável, também chamado de próprio ou perfeito (Bra-sil).
Existem encontros consonantais que misturam os dois tipos descritos, chamados de mistos (fil-tra-ção, dis-pli-cên-cia, des-tre-za, des-tru-i-ção)
DÍGRAFO
É o emprego de duas letras que representam um único fonema. O dígrafo não se confunde de maneira alguma com o encontro consonantal, já que representa apenas um fonema. Os dígrafos podem representar sons consonantais, como em QUerer, CHá, maLHa, naSCer, entre outros.
Alguns autores incluem entre os dígrafos sons vocálicos nasais como os que ocorrem em cAMpo, vENto, lINdo etc.
Os dígrafos apresentam sempre uma letra diacrítica, isto é, aquela que se junta à outra para lhe dar um valor fonético especial. Em português, isso pode ocorrer com as letras h, r, s, c, ç, u.
ORTOEPIA OU ORTOÉPIA?
Antes de saber exatamente como se pronuncia essa palavra, você provavelmente deve querer saber o que ela significa: a parte da gramática que trata da correta pronúncia dos fonemas nas palavras. Orthos é um radical grego que significa certo ou correto, como em “ortografia”. Ao erro de pronúncia das palavras, dá-se o nome de cacoépia.
Por uma grande ironia, a palavra que dá nome a esse estudo admite duas pronúncias diferentes: tanto ortoépia quanto ortoepia são corretas.
DIFERENÇAS DE TIMBRE
VALORES FONÉTICOS DE X
A letra “x” pode representar diversos fonemas, por isso é importantíssimo ler com bastante atenção a lista de palavras abaixo com suas respectivas chaves de pronúncia.
1.Equivalente a “ch”
Este é o valor comumente atribuído ao “x”. Xarope, Caxias, caixa, peixe etc.
2. Equivalente a “z”
Exagero, exalar, exaltar, exame, exasperar, exato, executar, exequível, exercício, exaurir, exibir, exigir, exilar, exílio, exímio, existir, êxito, êxodo, exonerar, exorbitar, exorcismo, exótico, exuberante, exultar, exumar, inexorável, hexágono.
3. Equivalente a “s”
Auxílio, fênix, máximo, próximo, sintaxe, trouxe, trouxera, trouxer, explicar, experiente, experiência, expectativa, texto, sexta.
4. Equivalente a “ks”
Afluxo, anexo, axila, complexo, convexo, crucifixo, fixo, flexão, fluxo, hexacampeão, índex, intoxicar, léxico, maxilar, nexo, ortodoxo, prolixo, paradoxo, reflexo, sexagésimo, sexo, tórax, tóxico.
FONÉTICA EXPRESSIVA
Além de ser um dos traços mais marcantes de uma língua, a sonoridade tem importância também como recurso de expressividade, por meio da repetição de consoantes (aliteração), de vogais (assonância) e da onomatopeia.
– Onomatopeia: criação de uma palavra a partir da imitação ou reprodução aproximada de um som natural a ela associado. Ruídos, gritos, sons de animais, som de instrumentos musicais ou o barulho que acompanha os fenômenos da natureza são onomatopeias.
A menina não fazia outra coisa senão chupar jabuticabas…Escolhia as mais bonitas, punha-as entre os dentes e tloque. E depois do tloque, uma engolidinha do caldo e plufe! Caroço fora. E tloque, tloque, plufe, tloque, plufe, lá passava o dia inteiro na árvore.
(Monteiro Lobato)
Aliteração: repetição de sons consonantais.
Pedro pedreiro penseiro esperando o trem/ Manhã parece, carece de esperar também
(Chico Buarque)
Assonâncias: repetição de sons vocálicos.
Sou Ana, da cama da cana, fulana, bacana. Sou Ana de Amsterdam.
(Chico Buarque de Holanda)
As propagandas também empregam recursos fonéticos expressionais. Veja:
Na guerra das cervejas, o adjetivo adverbializado “redondo” em “Skol, a cerveja que desce redondo” traz ideia de algo bom, que desce macio, suave.
O efeito acústico expressivo pode ser percebido no slogan “Tomou Doril, a dor sumiu”.
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