No caso dos outros sinais de pontuação, há maior flexibilidade quanto a seu uso, exatamente por buscar a imitação entonativa da frase ou mesmo gerar fatores estilísticos na sentença. Ao fim e ao cabo, saber pontuar um texto é ter a visão clara da estrutura frasal, é perceber que o pensamento lógico está ali desenvolvido de forma coerente e a comunicação está sendo estabelecida.
DOIS PONTOS
Empregam-se os dois pontos:
A) No início de discurso direto ou citação:
Virando-se rapidamente, ela disse: “Vamos embora!”
René Descartes formulou seu raciocínio: “Penso, logo existo”.
B) No início de uma enumeração, esclarecimento ou explicação:
Trouxemos várias coisas: tesoura, lanterna, cobertores e talheres.
C) Na substituição de um conectivo, fornecendo ideia de conclusão, causa, consequência, entre outras:
Não tinha mais a bússola, muito menos a mochila e já anoitecia: estava perdido.
D) Na introdução de orações apositivas ou apostos:
O professor falou apenas uma coisa: que ninguém sabia responder.
E) Com valor argumentativo
Os dois-pontos podem apresentar valor argumentativo, fazendo o papel de um conectivo que não aparece no texto.
Não tinha dinheiro para o ingresso: não fui ao espetáculo.
Note que a pontuação poderia ser substituída por uma conjunção (logo, por isso, portanto), o que dá a ela um fator de coesão, introduzindo o sentido conclusivo da segunda oração. Tal recurso cria um efeito de intensificação da oração conclusiva e funciona como uma estratégia estilística para compor um argumento.
Os dois-pontos também costumam ser usados na introdução de exemplos, notas ou observações.
PONTO DE INTERROGAÇÃO
Usado nas frases interrogativas, enunciadas em discurso direto ou indireto livre.
Ele perguntou: “O que aconteceu?”
Voltou a cabeça para trás. Pensou na decisão que havia tomado. Estaria errado? O passado agora era um fantasma que lhe batia à porta.
Em frases interrogativas indiretas, não se usa ponto de interrogação.
PONTO DE EXCLAMAÇÃO
Usado para expressar emoções ou chamamentos. É usado nas interjeições, frases exclamativas, imperativas e optativas, e nos vocativos.
Ah! Como é belo o mar!
Saia daqui, agora!
TRAVESSÃO
Dentre as possibilidades de uso, destacam-se:
A) Indicar a fala da personagem em um discurso direto:
João perguntou:
– O almoço está pronto, mãe?
– Calma, estamos quase lá. – Respondeu ela.
B) Isolar termo, com uso próximo ao da vírgula ou dos parênteses.
Em períodos onde já haja separação por vírgulas, pode-se usar o travessão para evitar a ambiguidade. Seu uso diferencia-se do uso dos parênteses no quesito ênfase: o uso de travessão dá ênfase ao que é colocado entre eles, ao passo que os parênteses conferem grau mais acessório à informação.
Comprei várias frutas: maçã, uva, morango – minha favorita –, pera e pêssego.
C) Demarcar aposto ou comentário.
O Rio de Janeiro – uma cidade fantástica – tem vários problemas urbanos.
Os árbitros de futebol – não queria estar na pele deles! – devem ser corajosos na tomada de decisões.
PARÊNTESES
Usam-se parênteses:
A) Para indicar informação acessória:
A ONU (Organização das Nações Unidas) reúne a maior parte dos países do mundo.
B) Nas citações, indicar a fonte:
“Antes cair das nuvens que de um terceiro andar de um prédio”
(Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas)
C) Demarcar comentário textual, em função análoga à do travessão. Contudo, seu uso denotará inferioridade à ideia exposta:
Estava tudo errado (pelo menos, ele pensava assim), pois havia gente demais ali.
Também são usados em referências bibliográficas, para delimitar o ano de nascimento e morte de uma pessoa, indicar possibilidades alternativas de leitura e rubricas nos textos teatrais.
RETICÊNCIAS
Pode indicar:
A) a suspensão do discurso de maneira intencional, levando o leitor a completar o raciocínio ou imaginar-lhe a continuação.
Nos mais diversos países os corruptos são punidos. Mas, no Brasil…
B) indicar hesitação, nervosismo ou dificuldade na articulação das ideias de uma personagem:
– É… bom… não é isso que você está pensando… eu… eu… desculpa!
C) indicar continuidade de uma sequência enumerativa:
Nos finais de semana, ia à fazenda do avô e fazia um sem-número de atividades: brincava, passeava a cavalo, ordenhava as vacas…
Também são usadas quando algumas partes do texto foram retiradas.
ASPAS
As aspas são usadas:
A) para marcar o início e o final de uma citação ou fala:
Um velho amigo me dizia: “prudência e canja de galinha nunca fizeram mal à ninguém…”
OBSERVAÇÃO
Se o sinal de pontuação ao final de uma citação pertencer à citação, deve ficar dentro das aspas. Caso contrário, deve-se fechá-las e depois pontuar.
B) para destacar um termo que não pertença ao registro do texto, como gírias, palavras estrangeiras, arcaísmos, neologismos, expressões populares etc.:
Um dos grandes problemas da economia brasileira é a alta taxa de “spread” praticada no mercado.
OBSERVAÇÃO
Atualmente é comum que essa identificação seja feita pelo uso de recursos de fontes como itálico (mais comum), negrito ou sublinhado.
C) para conferir outro sentido à expressão, marcando ironias, sarcasmos ou intenções subentendidas:
Com essas atitudes é bem fácil ser “amado” pelos amigos.
D) para indicar o título de uma obra:
O filme “O Pagador de Promessas” foi a produção brasileira mais premiada nos festivais internacionais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário