O QUE É MORFOLOGIA?
Quando estudamos gramática, podemos dividir esse estudo em diversas partes, por diversas funcionalidades. Podemos estudar os sons das palavras, as frases, as relações entre as palavras ou os sentidos, por exemplo. Ao começarmos o estudo de morfologia, vale a pena definir exatamente o que será objeto de nossa atenção.
MORFOLOGIA
É a parte da gramática que estuda a forma das palavras na língua, suas estruturas e os processos de formação das mesmas, sua classificação, flexões e emprego.
Ou seja, estudaremos como são formadas as palavras, isto é, como são compostas, as funções desses elementos, entre outras possibilidades. Comecemos observando uma palavra:
Sapateiro
Podemos perceber que a palavra acima se deriva de sapato, palavra à qual se acrescenta o elemento -eiro, que indica – nesse caso – profissão. O importante é perceber que cada parte da palavra assume uma função significativa, isto é, indica-nos algum sentido que se soma à compreensão total da palavra. A cada uma dessas partes que compõe uma palavra, damos o nome de morfema.
Morfema – menor unidade de significação que constitui o elemento ou os elementos integrantes de um vocábulo.
Morfemas são elementos significativos, sejam estes ligados aos conceitos, seres e coisas as quais conhecemos em nosso mundo ou noções gramaticais, entendidas internamente na língua. Em “saleiros”, por exemplo, “sal” representa um morfema ligado ao mundo real, ao passo que “s” dá-nos uma noção gramatical de número.
ATENÇÃO
Observemos a palavra GAROTA, agora dividindo-a em seus morfemas:
MORFEMA DE SENTIDO
MORFEMA DE GÊNERO
MORFEMA DE NÚMERO
GAROT
A
Ø
Perceba que o sentido da palavra está presente na primeira parte do vocábulo, com a qual já sabemos “o que” significa o termo, faltando apenas a definição do gênero para a total compreensão. O morfema “-a” resolve a questão, formando uma palavra que indica uma criança ou adolescente do sexo feminino.
Entretanto, há uma particularidade interessantíssima ao falante: sabemos que o termo GAROTA indica apenas um indivíduo. E por quê? A resposta mais simples é a percepção de que não existe um morfema “-s” para indicar o plural. Assim, se a palavra não está no plural, obrigatoriamente está no singular. Por isso dizemos que a ausência do morfema de número é significativa. Nesses casos podemos afirmar que existe um morfema zero que indica uma condição gramatical da palavra, no caso, o singular.
Tomemos então o termo no plural:
GAROTAS
O simples acréscimo do morfema “-s” altera o número do vocábulo, formando o plural. Contudo, algumas palavras vão apresentar diferenças. Veja o exemplo abaixo:
PROFESSOR
Ora, caso quiséssemos colocar a palavra no plural, não bastaria apenas acrescentar o morfema “-s”, mas sim “es”. Comparativamente, teríamos:
MORFEMA DE SENTIDO
MORFEMA DE GÊNERO
MORFEMA DE NÚMERO
GAROT
A
S
PROFESSOR
Ø
ES
Novamente temos um “morfema zero”, agora para indicar o gênero masculino da palavra professor. Ambas os vocábulos estão no plural, mas percebe-se que o fazem de forma diferente. Podemos dizer que, na palavra professor, “-es” é o morfema que faz o plural, apesar de que, na língua portuguesa, o morfema mais comum para indicar o número é “-s”.
A conclusão a que chegamos é que o morfema “-es” é uma forma diferente do morfema “-s”, uma variação, portanto. Quando isso ocorre dizemos que existe a alomorfia, quando um mesmo morfema apresenta-se com variações quanto à forma, sem que deixe de apresentar a mesma atribuição. Simplificando, dizemos que “-es” é um alomorfe de “-s”, ou seja, uma forma diferente do morfema de plural, com a mesma função.
AS ESTRUTURAS DAS PALAVRAS
Compreendendo aquilo que são os morfemas, a tarefa resume-se a classificar os morfemas e mostrar-lhes as funções e possibilidades de uso nas palavras. Essa classificação chama-se estrutura das palavras.
RADICAL E RAIZ
Radical, também chamado de lexema, semantema ou morfema lexical, é o elemento mórfico que contém o sentido básico da palavra, seu núcleo de significação externa. Raiz é o elemento irredutível comum a todos os vocábulos de uma mesma família.
Cabe fazer a diferença entre esses dois conceitos para que se possa compreender melhor a estruturação dos vocábulos. Ambos remetem-se ao sentido que a palavra apresenta em nosso idioma, mas diferem-se quanto à extensão: o primeiro limita-se à palavra, o segundo corresponde ao conceito.
O problema que daí advém é o fato de que, nem sempre, pode-se perceber a raiz de uma palavra apenas pela forma como se apresenta hoje na língua, sendo necessário um conhecimento histórico-etimológico da mesma. Devemos desconsiderar a raiz e partir do radical.
Quanto ao radical propriamente dito, basta afirmar que é a parte da palavra que resulta da supressão de desinências e vogal temática, gerando, inclusive, radicais secundários ou terciários (acrescidos de afixo).
Palavras cognatas
São aquelas que apresentam uma mesma família etimológica, fazendo todos os vocábulos associação à mesma raiz ou a um mesmo radical primário.
ATENÇÃO
No reconhecimento de cognatos surgem sempre algumas dúvidas, dado o caráter histórico de determinados radicais, que apresentam alomorfia. Assim, um radical pode apresentar variação de forma e ainda ser associado a uma mesma raiz. São os casos de pobre/ paupérrimo, chuva/ pluvial, pão/ padaria.
Muitos radicais têm sua origem no grego e no latim, duas importantes contribuições à formação da língua portuguesa. Segue abaixo uma lista com os principais radicais gregos e latinos.
O conhecimento histórico-etimológico – a chamada perspectiva diacrônica – é dispensável, não sendo fundamental o domínio completo da lista de radicais que se segue. Contudo, tal saber é necessário, pois dele deriva-se uma compreensão maior dos conceitos e palavras que cotidianamente são utilizadas no idioma.
Radicais Latinos*
1º elemento da composição
Forma
Sentido
Exemplo
Agri
Campo
Agricultura, agrícola
Ambi
Ambos
Ambiguidade, ambiente
Arbori-
Árvore
Arborícola, arborizar
Bis-, bi-
Duas vezes
Bípede, bisavô, bimestral, bisneto, biscoito
Calori-
Calor
Calorífero, calorimetria, caloria
Cruci-
cruz
Crucifixo, crucificação
Curvi-
curvo
Curvilíneo
Equi-
igual
Equilátero, equidistante, equivalência
Ferri-, ferro-
ferro
Ferrífero, ferrovia
Loco-
lugar
Locomotiva
Morti-
morte
Mortífero
Multi-
muito
Multiforme, multimídia, multinacional
Olei-, oleo-
Azeite, óleo
Oleígeno, oleoduto
Oni-
todo
Onipotente, onipresente, onisciente
Pedi-
pé
Pedilúvio
Pisci-
peixe
Piscicultor
Pluri-
Muitos, vários
Pluriforme, pluricelular
Quadri-, quadru-
quatro
Quadrúpede, quadrigêmeo, quádruplo
Reti-
reto
Retilíneo, retângulo
Semi-
metade
Semimorto, semifinal, semicírculo, semideus, semivogal, seminu
Tri-
Três
Tricolor, tricampeão, tridimensional
Radicais Latinos*
2º Elemento da Composição
Forma
Sentido
Exemplos
-cida
Que mata
Suicida, homicida, inseticida, germicida
-cola
Que cultiva, ou habita
Arborícola, vinícola, silvícola
-cultura
Ato de cultivar
Piscicultura, apicultura, citricultura
-fero
Que contém, ou produz
Aurífero, carbonífero
-fico
Que faz, ou produz
Benéfico, frigorífico
-forme
Que tem forma de
Uniforme, cuneiforme
-fugo
Que foge, ou faz fugir
Centrífugo, febrífugo
-gero
Que contém, ou produz
Belígero, armígero
-paro
Que produz
Ovíparo, multíparo
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