03 – HINO DE LOUVOR
(Hino Cristológico do SÉC. IV)
Para a explicação deste Hino, inclui nesta apostila o texto do “Mutirão Litúrgico da CNBB – nº 09”:
O SENTIDO DE UM HINO CHAMADO "GLÓRIA"
Frei José Ariovaldo da Silva, OFM.
Nos domingos e outras solenidades, bem como em dias festivos, cantamos no início da missa um antiquíssimo e venerável hino chamado “Glória”. Seu conteúdo e verdadeiro sentido não tem sido bem compreendido entre nós. O músico e liturgista Frei Joaquim Fonseca, no seu livrinho “Cantando a missa e o ofício divino” (Paulus 2004) nos traz uma explicação que, a meu ver, é das melhores.
Faço questão de transcrevê-la e divulgá-la em nosso “mutirão” de formação litúrgica. Olhem o que ele escreve:
“O ‘Glória’ é um hino que remonta aos primeiros séculos da era cristã. Na Instrução Geral do Missal Romano, lemos que o ‘Glória’ é um ‘hino antiqüíssimo e venerável, pelo qual a Igreja congregada no Espírito Santo glorifica e suplica ao Pai e ao Cordeiro... (n. 53).
Esta definição nos deixa claro que o ‘Glória’ é um hino doxológico (de louvor/glorificação) que canta a glória e Deus e do Filho. Porém, o Filho se mantém no centro do louvor, da aclamação e da súplica. Movida pela ação do Espírito Santo, a assembléia entoa esse hino, que tem sua origem naquele canto dos anjos que ressoou pela primeira vez nos ouvidos dos pastores de Belém, na noite do nascimento de Jesus (cf. Lc 2,4).
Na sua origem, o ‘Glória’ era entoado durante o ofício da manhã. Só bem mais tarde – por volta do século IV – é que aparece prescrito na Liturgia eucarística do Natal podendo ser entoado apenas pelo bispo. Esse costume se prolongou por muito tempo. Porém, no final do século XI já há notícias do uso do ‘Glória’ em todas as festas e domingos, exceto na Quaresma. Então os presbíteros já podiam entoá-lo.
O ‘Glória’ é composto de três partes:
a) O canto dos anjos na noite do nascimento de Cristo: ‘Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por ele amados’;
b) Os louvores a Deus Pai: ‘Senhor Deus, rei dos céus, Deus Pai todo-poderoso: nós vos louvamos, nós vos bendizemos, nós vos adoramos, nós vos glorificamos, nós vos damos graças por vossa imensa glória’;
c) Os louvores seguidos de súplicas e aclamações a Cristo: ‘Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito, Senhor Deus, Cordeiro de Deus, Filho de Deus Pai. Vós que tirais o pecado do mundo tende piedade de nós. Vós que tirais o pecado do mundo, acolhei a nossa súplica. Vós que estais à direita do Pai, tende piedade de nós. Só vós sois o Santo, só vós o Senhor, só vós o Altíssimo Jesus Cristo’.
O ‘Glória’ termina com um final majestoso, incluindo o Espírito Santo. É importante lembrar que esta inclusão não constitui, em primeira instância, um louvor explícito à terceira pessoa da Santíssima Trindade. O Espírito Santo aparece relacionado com o Filho, pois é neste que se concentram os louvores e as súplicas. Em outras palavras: o Cristo se mantém no centro de todo o hino. Ele é o Kyrios, o Senhor que desde todos os tempos habita no seio da Trindade. Estas dicas certamente nos ajudarão a discernir na escolha do ‘hino de louvor’ mais adequado para as celebrações eucarísticas. Sabemos que em muitas de nossas igrejas há o costume de executar, no lugar do verdadeiro ‘Glória’ pequenas aclamações trinitárias, ou seja, simples aclamações dirigidas ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Pudemos ver que o ‘Glória’ é bem mais do que isso: nele está contido o louvor, a aclamação e a súplica. E mais: a pessoa de Jesus Cristo aparece no centro desta grande "doxologia”. (p. 19-29).
Obrigado ao Frei Joaquim Fonseca por este esclarecimento que, com certeza, vai contribuir para o aperfeiçoamento e a autenticidade de nossas celebrações litúrgicas em nossas comunidades.
Frei José Ariovaldo da Silva, OFM.
Ver também na página 33 do Guia-Litúrgico da CNBB.
Vamos refletir...
A QUEM ESTE HINO GLORIFICA?
R: É um louvor ao PAI e ao CORDEIRO. A pessoa de Jesus Cristo aparece no centro desta grande doxologia (louvação), por isso chamamos de Hino Cristológico.
QUAL É A SUA ESTRUTURA INTERNA?
R: Nele está contido o louvor, a aclamação e a súplica.
QUAIS DEVEM SER OS CANTOS DE GLÓRIA?
R: Ele não é um Hino Trinitário. Devemos nos esforçar em executar as músicas que seguem o texto proposto pela Igreja, o Hino de Louvor do Séc. IV.
Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por ele amados Senhor Deus, rei dos céus, Deus Pai todo-poderoso: Nós vos louvamos, nós vos bendizemos, nós vos adoramos, Nós vos glorificamos, nós vos damos graças por vossa imensa glória, Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito, Senhor Deus, Cordeiro de Deus, Filho de Deus Pai. Vós que tirais o pecado do mundo tende piedade de nós. Vós que tirais o pecado do mundo, acolhei a nossa súplica. Vós que estais à direita do Pai tende piedade de nós. Só vós sois o Santo, só vós o Senhor, só vós o Altíssimo Jesus Cristo. Com o Espírito Santo, na Glória de Deus Pai. Amém.
Pode ser musicada também a letra do Hino proposto pela CNBB.
O GLÓRIA DEVE SER SEMPRE CANTADO?
R:. O Glória não é um canto RITUAL, por isso não precisa ser sempre cantado. É um hino, um texto inserido na Liturgia da Missa, que deve ser executado nos dias prescritos. Ele pode ser entoado ou proclamado por toda assembléia, mas de preferência em dois coros. É melhor proclamar o Hino do que cantar uma letra infiel ao hino do Século IV. O canto pode ser adaptado, mas nunca substituído por outro com letra diferente.
QUANDO É PRESCRITO CANTAR/ENTOAR O GLÓRIA?
R: Nas Solenidades do Senhor e Nossa Senhora, nos Domingos do Tempo Comum e do Tempo Pascal, nos dias de semana da Oitava da Páscoa e outros dias indicados no Diretório Litúrgico CNBB.
Não se canta o Glória no Advento e nem na Quaresma, exceto quando há uma solenidade ou festa. Por exemplo, na Quaresma tem a solenidade de São José em 19 de março e no Advento tem a solenidade da Imaculada Conceição em 8 de dezembro, e ele é cantado.
Nos dias de semana também não se deve entoá-lo/rezá-lo assim como a Profissão de Fé (Credo), pois estes cabem à Liturgia do dia por excelência do encontro dos cristãos – o Domingo.
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04– SALMO RESPONSORIAL
(Canto Ritual -Proclamação da Palavra)
“Os Salmos foram para a Igreja, desde o início, o mesmo que haviam sido por séculos para o povo de Israel: textos privilegiados da Sagrada Escritura para o louvor divino, tanto nas celebrações litúrgicas como na oração pessoal. Palavra de Deus expressa nos limites da palavra humana, e que retorna a deus pelo louvor, frequentemente na forma de canto”.
Monges Beneditinos – Mosteiro da Ressurreição – Ponta Grossa PR
Os Salmos, com certeza são as orações mais conhecidas da humanidade e cuja riqueza atravessa gerações. A Igreja conserva os 150 salmos presentes na literatura do Antigo Testamento como o que há de mais perfeito para o louvor de Deus. A Igreja também perpetua a sua oração diariamente através da Liturgia das Horas, onde em todo o mundo, comunidades e pessoas elevam ao Pai suas preces e cânticos através dos salmos. Este é um tesouro que precisa ser descoberto por nossas comunidades. A Igreja teve o cuidado durante séculos para organizar os salmos dominicais de acordo com os outros textos bíblicos e assim compor o Pão da Palavra que nos alimenta no Dia do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL – “A PALAVRA DE DEUS CANTADA PELO POVO DE DEUS!”.
O Salmo Responsorial na Liturgia da Palavra faz ‘ressoar” em nosso coração a “Perícope profética” (aquilo que reduzimos a chamar de Primeira Leitura). O salmo, como o próprio nome diz, responde à palavra proclamada que permanece em nós.
O salmista é aquele que em nome da comunidade entoa as estrofes do salmo e sustenta o canto. Ele faz um solo durante a estrofe, mas nele está representada toda a assembléia. É ele o ministro da Palavra, que deve facilitar, auxiliar e indicar a assembléia o seu momento de cantar.
Dicas:
• Sempre que possível projetar ou anunciar antes do salmo o refrão para a assembléia.
• Não mais fazer uma introdução / comentário antes do salmo. Não dizer 'Salmo Responsorial' antes de cantar nem 'Todos' após o refrão.
• Quando o refrão for muito longo e ele não for cantado, convém por questão pastoral reduzi-lo, porém sem perder sua unidade com a leitura proclamada, para facilitar a participação da assembléia.
• Nunca se deve trocar o salmo da Liturgia do dia, pois, ele tem íntima unidade com a “Primeira Leitura”. Ao cantar outro salmo, ele se torna um elemento estranho na Liturgia.
• A Igreja no Brasil tem publicado o livro “Cantando os salmos e aclamações” que contém os Salmos musicados, Seqüências (Natal, Páscoa, Pentecostes, Corpus Christi) e também as Antífonas da Aclamação ao Evangelho dos Anos A, B e C. Também os 03 CDs duplos que fazem jogo com este livro.
• Nas comunidades onde existe falta de salmistas, procurar pessoas que possam proclamá-lo como jogral ou declamando, pois os salmos são poesias.
• O salmista deveria, como parte dos leitores, estar com a veste de leitor como os outros estão, e, de preferência, ficar no presbitério, junto aos outros leitores. Para não desfalcar a equipe de canto, poderiam ensaiar com outro(a) salmista, que não seja da equipe. O ideal é a comunidade formar um grupo de salmistas, para que possa haver revezamento.
• A responsabilidade desta Proclamação da Palavra é da Equipe de Animação, se elenão for cantado, deve ser previamente preparado e proclamado por um membro da equipe.
• Neste canto deve prevalecer a voz, pois é um texto da Palavra de Deus que está sendo anunciado, por isso, deve-se reduzir ao máximo o volume e número de instrumentos para que a Palavra seja ouvida e proclamada pela comunidade.
• Podem-se usar as melodias dos salmos do Ofício das Comunidades, com adaptações nos refrões...
“Quando se proclama as Escrituras na Liturgia, é o próprio Deus que nos fala” Sacrossanctum Concilium nº7.
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05 –ACLAMAÇÃO AO EVANGELHO
(CANTO RITUAL)
O Evangelho é o centro da Liturgia da Palavra. No evangelho temos o cumprimento da profecia (que foi a I Leitura) e a razão do testemunho (II Leitura), pois é o próprio Verbo Encarnado (Jo 1,1) que nos fala como MESTRE. E por isso, a Igreja valoriza este momento e o entroniza com uma Aclamação. Contém obrigatoriamente a palavra Aleluia, que significa alegria, exceto na Quaresma, onde este é substituído por um versículo proposto no Lecionário, devido ao forte tempo de reflexão.
Com todo carinho, a mãe Igreja nos oferece um texto bíblico que ajuda a prepararmos para ouvir o Senhor. São as antífonas encontradas antes de cada Evangelho nos lecionários de cada Domingo. Cabe a nós filhos e servos da Igreja, não negarmos esta herança por ela oferecida, e com esforço sempre cantarmos a antífona sugerida.
De preferência cantar uma melodia conhecida de Aleluia, alterando-se a cada Domingo a antífona de acordo com a proposta da Liturgia (esta antífona pode também ser proclamada).
Exemplo:
Antífona de Aclamação ao Evangelho
11º Domingo do Tempo Comum – Ano C
Mt 1,15
Aleluia, Aleluia, Aleluia.
O Reino dos Céus está próximo;
Convertei-vos e crede no Evangelho.
Aleluia, Aleluia, Aleluia.
Vamos refletir...
A Sagrada Liturgia nos pede o Aleluia e a Antífona, algo simples e profundo durante séculos constituído e mantido. Porque cantamos cânticos tão longos e que muitas vezes não expressam o sentido da aclamação antes da proclamação do Evangelho?
Nós temos que conhecer a Liturgia e amá-la e não temos o direito de manipular aquilo que é da Igreja (comunidade) e de Deus. Não podemos transformar o nosso serviço em dominação, apropriação indevida das coisas de Deus. Não esquecer: na Liturgia tudo tem sua medida certa!
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