Parabéns por suas núpcias! Que essas bodas entrem para os anais da sociedade brasileira!
A despeito do exemplo tolo, o que se pode observar em comum nas palavras destacadas?
São todas substantivos que só se empregam no plural.
Essa particularidade da flexão numérica dos substantivos é chamada de pluralia tantum, expressão tradicional da gramática latina que significa “somente no plural”.
O substantivo pluralia tantum, portanto, não tem uma forma singular e aparece apenas no plural. Veja outros exemplos: pazes, afazeres, trevas, núpcias, bodas, arredores e condolências).
Não dá para fazer “a paz” com alguém. Fazemos “as pazes” com ele.
Da mesma forma, temos: férias e efemérides - no sentido de agenda, livro, caderno ou diário em que se registram os acontecimentos de cada dia. No singular, efeméride é um fato importante ocorrido em uma data específica, féria significa salário, remuneração.
Forma acidental
Por que esses termos só são admitidos no plural? O linguista italiano Paolo Acquaviva afirma, em “Plurais Lexicais: Uma Abordagem Morfossemântica” (2008), que o substantivo pluralia tantum não tem relação direta com sua classe morfológica. Segundo ele, essa propriedade é superficial e às vezes acidental. Em muitas vezes, justifica ele, seria praticamente impossível encontrar a origem da transformação.
Os especialistas também admitem que a mudança renega a antiga forma singular, que aparecia em alguns textos, como “Sermões”, do Padre Antônio Vieira (séc. XVII).
Pluralia tantum em certo sentido é um substantivo “regular irregular”, ou seja, não é o resultado da pluralização de um singular, da sua forma plural completa.
Acidentes geográficos
É muito comum ver substantivos próprios de lugares que têm forma singular e valor plural. Algumas delas são: Andes, Pirineus, Alpes, Maldivas, Malvinas, Pampas, entre outras. Vale destacar que Estados Unidos tem forma e valor plural, devendo flexionar o verbo no plural: “Os Estados Unidos fazem, constituem, vão…”.
Há ainda substantivos que só ocorrem no plural por implicarem ideia de mais de uma parte. O caso mais óbvio é da palavra “óculos”. Mas temos ainda: luvas, algemas, ventas.
Vale lembrar que esses substantivos podem ter o valor de substantivos contáveis comuns, bastando usar as expressões “um par de” ou “pares de”. Exemplos:
Quantos pares de calças você tem?
Marcelo esqueceu seu par de óculos na mesa da cozinha.
Mas, note, o contrário também é possível: há substantivos que aparecem apenas na forma singular por, em vez de designarem indivíduos, dizerem respeito à massa. Estes são chamados singulare tantum.
Bons exemplos disso são: ouro, prata, ferro, oxigênio, feijão, arroz, café, açúcar, mel, leite. Estas palavras só são admitidas no plural se estiverem indicando suas qualidades ou no caso de seu sentido ser figurado, ou seja, quando se prestam a designar partes, divisões ou espécies. Assim:
Acabaram-se os fósforos.
Os vinhos portugueses são excelentes.
Quero dois cafés. (duas porções/xícaras)
Isso acontece ainda quando o substantivo exprime noções abstratas, virtudes e vícios, no sentido próprio da palavra, como em: preguiça, sensatez, caridade ou ociosidade. Vale só ressaltar que essa circunstância de ter o termo em seu sentido próprio (principal) é importante, visto que, quando se emprega outra significação, o plural é admitido, como em:
o bem (o que é bom) os bens (propriedade)
a honra (estima) as honras (cargos, dignidade)
Os substantivos parabéns e pêsames, que antes se usavam no singular, hoje só se usam no plural. Os dicionários registram parabém e pêsame como corretas, mas ultrapassadas.
Não é só na língua portuguesa
Essa particularidade não é exclusiva da língua portuguesa. Muitas outras línguas têm pluralia tantum. Em inglês, temos clothes (roupa), scissors (tesoura) e pants (calça). O mesmo acontece com a palavra russa den’gi [деньги] (dinheiro), com a sueca inälvor (intestinos) e com a holandesa hersenen (cérebro).
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