Quem, na vida, já não se deparou com uma dúvida relativa ao uso da vírgula? Quem já não deu certos “cochilos” que resultaram em erro? Existe até aquele texto que retrata uma pobre moça que perdeu o emprego porque, num ofício, colocou uma vírgula no lugar certo, mas o chefe achou que a vírgula estava errada, e ela (a moça), por teimar em defesa da permanência da vírgula, foi despedida.
Na verdade, o uso correto da vírgula depende de um estudo exaustivo da análise
sintática. Aliás, quem não aprende análise sintática não aprende Português.
Tomemos, como exemplo, o “cochilo” na seguinte frase, retirada de jornal:
“A vice-prefeita não se relacionava bem com o ex-marido que se encontrava foragido”.
A julgar pela frase citada, graças à falta de uma vírgula a vice-prefeita em questão teria mais do que um ex-marido. Isso porque a falta da vírgula depois da palavra ex marido provocou o sentido de que ela teria mais de um e não se relacionava bem apenas com o ex-marido que estava foragido.
Trata-se de um erro muito comum, pelo fato de muita gente desconhecer a diferença entre oração subordinada adjetiva restritiva e oração subordinada adjetiva explicativa.
Como diferenciar, então, as duas orações?
Primeiramente, oração subordinada adjetiva é aquela que equivale a um adjetivo. Isso diz pouco.
O importante mesmo é entender que a oração subordinada adjetiva é aquela que se
inicia com um pronome relativo; ou seja: aquele que é relativo ao termo anterior (substitui o termo anterior).
Como distinguir, entretanto, uma oração adjetiva explicativa de uma restritiva? O
próprio exemplo dado nos ajuda a distinguir. Se a frase é: “A vice-prefeita não se dava bem com o ex-marido, que se encontrava foragido”, explica-se, nela, que o ex marido da vice-prefeita se encontrava foragido. Ele, o único ex-marido. Se, no entanto, a frase for grafada, como realmente foi, sem a vírgula, estaremos restringindo o sentido: a vice-prefeita não se relacionava bem apenas com o ex-marido foragido, dando-se, então, a ideia de que ela teria mais de um ex-marido. Temos, portanto, uma oração adjetiva explicativa, que, por falta da vírgula, terminou “virando” uma restritiva, dando uma ideia diferente do que a notícia queria retratar.
A explicativa generaliza e a restritiva - como diz o próprio nome - restringe
Os brasileiros, que leem, têm mais chances de emprego - generalização
Os brasileiros que leem têm mais chances de emprego - restrição
Vírgula, gramática e semântica
No emprego da vírgula, conforme se viu no texto, gramática e semântica se unem,
sendo que, às vezes, é preciso prestar mais atenção a esta.
Vamos a mais um exemplo da questão em que a gramática nem sempre é preponderante e é fundamental observar-se o significado, na hora de colocar a vírgula:
Quando as orações são ligadas por e, a regra geral é só haver a separação das orações por vírgula quando os sujeitos forem diferentes. Exato: é a “regra geral”. No entanto, deparamo-nos com situações em que haverá a obrigatoriedade de separação, por vírgula, das orações ligadas por e, mesmo o sujeito das duas sendo o mesmo. É o caso, por exemplo, quando a segunda oração é adversativa (dá ideia de oposição em relação à primeira). Nesse caso, o conectivo e não se refere à ideia de soma; mas sim, de oposição.
E por que, então, nesse último exemplo, é obrigatória a vírgula? Porque as orações
coordenadas adversativas são, obrigatoriamente, separadas por vírgula. O que ocorre aqui é que o e equivale a mas.
Observe:
Ele estudou bastante e passou no concurso. (O e é aditivo).
Estudou tanto, e não passou no concurso. (O e é adversativo; e = mas).
No primeiro período, o e faz o papel de e mesmo: unindo ideias, dando ideia de adição, soma; já no segundo, o e é adversativo, porque a segunda oração expressa uma ideia de adversidade, de oposição em relação à primeira. Na verdade, temos, no segundo período, um mas “disfarçado” de e.
Observe o leitor que o critério preponderante, aqui, foi, também, semântico: tomou
como base o significado.
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