Forró é festa com baile que se dança ao som de ritmos animados por pequenos conjuntos musicais. A expressão é redução do vocábulo forrobodó, que Luiz da Câmara Cascudo define no seu Dicionário do Folclore Brasileiro como uma festa popular com música movimentada, dançada em galpões, e que a contração fonética da palavra nasceu naturalmente, dando origem à expressão popular.
O processo de redução de forrobodó para forró é idêntico ao que produziu outras expressões como: apê (apartamento), auto (automóvel), cine (cinema), cinema (cinematográfico), extra (extraordinário), fone (telefone), foto (fotografia), gel (gelatina), japa (japonês), metrô (metropolitano), mol (molécula), moto (motocicleta), pneu (pneumático), pornô (pornográfico), portuga (português), quilo (quilograma), rebu (rebuliço), refri (refrigerante), vídeo (videocassete), TV (televisão), expo (exposição), ônibus (auto-ônibus), seu (senhor), otorrino (otorrinolaringologista), rádio (radiofonia), futsal (futebol de salão), inox (inoxidável), Zé (José), micro (microcomputador), boteco (botequim), sarampo (sarampão), barraco (barracão), net (internet), hexa (hexacampeão), vice (vice-prefeito, vice-governador e vice-presidente), ex (ex-namorado, ex-namorada, ex-marido, ex-esposa), deprê (depressão), hétero (heterossexual), máxi (maxidesvalorização), míni (minidicionário), híper (hipermercado) e tantas outras.
Contudo, a versão anedótica, adotada até mesmo por alguns eruditos espertos, diz que forró teria se originado da leitura estropiada da expressão inglesa for all, com que os engenheiros ingleses ou oficiais da base aérea norte-americana, avisavam ao povo de que as festas que realizavam eram abertas para todos.
A hipótese é uma bobagem a que alguns artistas sabidos quiseram dar ar de veracidade para promover músicas, shows e ganhar algum dinheiro com a polêmica. Isso porque, o termo Forrobodó já existia no Brasil Colonial, ou seja, muito antes da presença de ingleses e americanos por aqui.
Queriam anglicizar a origem da palavra Forró – como se isso valorizasse o idioma – assim lançaram o factoide de que a expressão vinha da corruptela de for all (para todos).
Essa opinião foi avalizada pelo folclorista pernambucano, Valdemar de Oliveira. Afirma ele que as empresas The Pernambuco Tramways & Power Co. Ltd. e The Great Western of Brazil Railway Co. Ltd. promoviam festas e afixavam avisos que traziam no rodapé a expressão for all – isto é: festa aberta a todos. Posto que se deduz que além de anglicana a expressão nasceu em Pernambuco!
Essa versão engenhosa passou para a história do folclore, como uma pilantragem. Primeiro, foram os engenheiros britânicos instalados em Pernambuco para construir a ferrovia e linhas de bonde, que promoviam bailes abertos ao público, ou seja, for all. Então o termo abrasileirou para Forró. Outra versão da mesma piada substitui ingleses por norte-americanos, Recife por Natal, ferrovias por bases militares. Tudo isso para dar ares de veracidade ao engodo.
A versão mal intencionada e sem sustentação histórica causou reação em todos os níveis: folcloristas e filólogos mais competentes – capitaneados por Luiz da Câmara Cascudo e Ariano Suassuna – trataram de desmontar a farsa em artigos e entrevistas.
Desde 1937 – e também em anos anteriores – tempo que ainda não havia a presença de ingleses ou norte-americanos, a palavra Forró estava presente na gravação fonográfica do disco “Forró na roça”, composto por Manuel Queirós e Xerém. Antes disso, no Rio de Janeiro em 1912, Chiquinha Gonzaga compôs músicas para a peça burlesca “Forrobodó”, de Carlos Bettencourt, que lhe valeu em 1915, o Prêmio Mambembe de Teatro.
As versões mais modernas da origem da palavra forró não são menos fantasiosas. A Wikipédia – que se transformou num octópode da verdade – também discute a informação, com a necessária advertência das falhas na discussão. Lá, diz: “O termo forró, segundo o filólogo pernambucano Evanildo Bechara, é uma redução de forrobodó, que por sua vez é uma variante do antigo vocábulo galego-português forbodó, corruptela do francês faux-bourdon, que teria a conotação de desentoação”.
E mais, que: “O elo semântico entre forbodó e forrobodó tem origem, segundo Fermín Bouza Brey, na região noroeste da Península Ibérica (Galiza e norte de Portugal), onde “a gente dança a golpe de bumbo, com pontos monorrítmicos monótonos desse baile que se chama forbodó”.
Então, forró é “variante do antigo vocábulo galego-português forbodó, corruptela do francês faux-bourdon?” Fala sério, Bechara! Apesar do reforço pelo aporte de Bouza Brey, eminente escritor galego e em que pese as incríveis semelhanças entre o galego, o português e o brasileiro, nos dicionários de Galego que pesquisei – inclusive o Dicionário da Real Academia Galega – nada encontrei a respeito. A resposta das pesquisas a forbodó é sempre a mesma: “Este termo non se encontra no dicionário”.
No dicionário da Real Academia Española, o fato se repete: “La palabra forbodó no está en el Diccionario”. No Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa, idem, idem. Em resumo: essa informação deve passar como mais uma contribuição para o rol das invencionices sem fundamento… E o forró segue.
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