Menas é bom?- Menas é péssimo! Nossa língua só possui menos: menos complicações, menos gente, menos casas, menos despesas, etc.
Um ex-candidato à Presidência da República, todavia, vive com o menas na boca e, certamente, dorme com ela. Certa vez, durante a campanha, disse: "O que o Brasil precisa é de menas safadeza, menas incompetência e menas maracutaia". O que mais ardentemente queremos é menos tudo isso aí...
Posso namorar com? - Não, prefira apenas namorar: é mais saudável e não compromete a língua. Por isso: Nunca namorei essa garota. (E não: Nunca namorei com essa garota.) Você quer me namorar? (E não: Você quer namorar comigo?)
Muitos dizem "a gente fomos", "a gente temos". É correto?
Na Idade da Pedra, poderia até ser. Hoje, não: a gente pede verbo na terceira pessoa do singular, obrigatoriamente (a gente foi, a gente tem, a gente viu, a gente irá, etc.). Quem usa "a gente fomos, a gente temos, a gente vimos, a gente iremos", precisa voltar à escola.
Convém dizer, por outro lado, que não há nenhuma impropriedade no uso de a gente em substituição a nós ou ainda a eu. Ex.: A gente foi lá e não encontrou ninguém.A gente vai votar outra vez.
Nasci a 18 de dezembro ou em 18 de dezembro?
Tanto faz: usa-se a ou em antes de datas. Use, ainda, indiferentemente: Domingo viajaremos. (Ou: No domingo viajaremos.) Semana que vem voltaremos. (Ou: Na semana que vem voltaremos.) Mês passado choveu muito. (Ou: No mês passado choveu muito.) Ano passado geou. (Ou: No ano passado geou.)
Um apaixonado pode declarar-se: " Eu te amo você"?
Só os falsos apaixonados fazem esse tipo de declaração; os verdadeiros dizem ao ser amado: "Eu te amo". Ou, então: "Eu amo você". Te não se mistura com você. Por isso, jamais diga "Vou te contar pra você", nem mesmo para os seus amigos mais íntimos: eles não lhe perdoarão. . .
"Vem pra Caixa você também" é um bom convite
É um convite no mínimo deselegante, já que não leva em conta uma norma elementar da nossa língua: não pode haver mistura de tratamento, ou seja, te ou tu não se mistura com você (a segunda pessoa não combina com a terceira). Quem tem um mínimo de bom-senso, de respeito, convida assim: Venha pra Caixa você também. Ou, então, assim: Vem pra Caixa tu também. Porque venha é da terceira pessoa, assim como você; vem é da segunda pessoa, assim como tu. Pronto: houve uniformidade de tratamento, a língua não foi agredida.
Um órgão federal como a Caixa Econômica deveria cuidar um pouco mais do nosso patrimônio cultural, o idioma, divulgando ao público uma frase mais respeitosa, mais digna. Esperávamos que, com a mudança de diretoria da Caixa, houvesse mais seriedade no órgão, com a eliminação do erro. Não houve. Seu presidente, aliás, recentemente, cometeu a agravante de dirigir carta ao presidente da República, nestes termos: "Vem pra Caixa o senhor também". O Brasil Novo, como se vê, não é tão jovem assim...
Os criadores da lamentável frase ''Vem pra Caixa você também" argumentam simploriamente que vem é mais eufônico que venha. Ora, se a nossa língua fosse guiar-se apenas e tão somente pela eufonia para estabelecer as suas normas, certamente não agasalharia os verbos abundar e disputar. Essa gente não sabe nem mesmo o que diz; imagine, então, se sabe o que cria.
O analfabetismo é um agravante ou uma agravante?
O analfabetismo, assim como a falta de respeito e de bom-senso, será sempre uma agravante na formação de qualquer personalidade. A exemplo de atenuante, a palavra agravante é feminina, porque está subentendida a palavra circunstância. Quem a usa no masculino erra, isso só existe para os adevogados. Os advogados usam como feminina.
Com palavras no plural uso a ser ou a serem, a não ser ou a não serem?
Tanto faz: Ele não via virtudes em ninguém, a não ser as suas. (Ou: a não serem as suas.) As crianças a ser matriculadas chegam a cem. (Ou:As crianças a serem matriculadas chegam a cem.)
Existe acordo amigável?
Assim como existe hepatite do fígado e pomar de frutas... Neste mundo que Deus criou, não pode haver acordo que não seja amigável. Ou o caro leitor já viu algum acordo imposto ou coercitivo? Não obstante a evidente redundância aí existente, não faltam advogados (os despreparados, evidentemente) que insistem em propor um acordo amigável à parte contrária, muitas vezes diante de egrégios e competentes magistrados (que não têm culpa).
Os verdadeiros advogados buscam apenas um acordo com a parte contrária; os juízes simplesmente homologam um acordo.
O Brasil é um país que ia pra frente ou prá frente?
Não acentue a redução de para a (pra) nem a redução de para o (pro). Assim, devemos escrever (injusta e mentirosamente) : O Brasil é um país que ia pra frente. Agora, o Brasil é um país que vai pro buraco.
O preço pode ser caro ou barato?
Não, o preço pode ser alto ou baixo; os produtos e serviços é que são caros ou baratos. Assim, temos:
O preço da gasolina está alto demais. A gasolina é cara demais.
O preço deste livro é baixo demais. O livro é barato demais.
É correto usar "Não deu para chegar mais cedo"?
Não na língua culta, que prefere esta construção: "Foi impossível chegar mais cedo". Na língua popular, todavia, usa-se o verbo dar com impessoal: Não dá para fazer isso sozinho. (= É impossível fazer isso sozinho.)
Dava para vocês me aiudarem? (= Era possível vocês me ajudarem?) Não obstante isso, muita gente continuará afirmando admirada, e com muita convicção: "Presidente, assim não dá!"...
Devo encarpetar meu apartamento?
Não procure sarna: acarpete o seu apartamento e livre-se do desconforto. Não existe o verbo encarpetar; use acarpetar ou, então, carpetar.
Por falar em apartamento, como abrevio essa palavra?
Abrevie apartamento assim: ap. ou apart., mas nunca apto., como faz quase todo o mundo. Diz uma piadinha que em Portugal abreviam assim: Apartament°... Apto é adjetivo, ap também é abreviatura de apêndice e aprovado.
Devo escrever iceberg ou aicebergue?
Num texto em inglês, escreva iceberg; num texto em português, use aicebergue. O caro leitor está acostumado a escrever em que língua? Se ainda assim quiser usar o termo estrangeiro, coloque itálico ou aspas.
Eis mais seis aportuguesamentos: langerri, laicra, náilon, limusine, xou e xópin, que correspondem às formas estrangeiras lingerie, lycra, nylon, limousine, show e shopping.
Torço para o Coríntians?
Não. Prefira torcer pelo Corinthians: o verbo torcer pede por, e não para; Corinthians se escreve com th e sem acento, apesar dos jornalistas (palmeirenses, por certo), que escrevem Coríntians, corrompendo o nome do clube. O adjetivo se escreve sem h (corintiano).
O Corinthians possui camisas alvinegras ou alvi-negras?
O Corinthians possui camisas alvinegras, assim como o Palmeiras tem camisas alviverdes, e o Juventus, camisas alvirrubras. Tudo sem hífen, a exemplo de audiovisual, radioamador, radiouvinte, radiopatrulha e radiovitrola.
Posso dizer que estou quites com o serviço militar?
Não. Quites é do plural; por isso, diga: "Estou quite com o serviço militar", "Nós estamos quites com o serviço militar"
Posso tomar água saloba?
Essa água mata! Principalmente e primeiro a língua. Prefira tomar água salobra: é mais saudável. Por falar em água, use indiferentemente água fervente ou água fervendo, mas só pluralize a primeira: águas ferventes.
Devo escrever hífen ou hifem? - Como quiser: as duas formas são corretas, com ligeira preferência, até, pela primeira.
Ante ao exposto, chego a uma conclusão: não vou mais escovar os dentes. - Não chegue a tanto: use só ante o exposto, já que ante (preposição) pede artigo (ante o exposto, ante a decisão, ante o resultado, ante a promulgação, etc.). Os 'adevogados' escrevem ante ao exposto. Todavia, os advogados escrevem sem machucar a língua nem ofender a cultura do magistrado: ante o exposto.
Quem torce pelo Palmeiras pode, também, ser chamado de palmeirista? - Não. Quem torce pelo Palmeiras, além de ser um eterno esperançoso, é apenas palmeirense. Quem se diz palmeirista, que tome cuidado com os corintianos: eles podem ter aí mais um motivo para gozações!
Aluga-se apartamentos: correto? - Errado. Atenção, imobiliárias. Esse tipo de verbo vai ao plural, quando o elemento seguinte está no plural. Por isso: Alugam-se apartamentos. Oferecem-se vantagens.Vendem-se casas. Compram-se terrenos. Dão-se aulas particulares de português. Muitos anunciam assim nos jornais: "Dá-se aulas particulares de português". Dão?
Na linguagem jurídica, a expressão correta é: Intimem-se as partes, e não 'intime-se as partes'. É uma frase reversível - as partes sejam intimadas.
Precisam-se de técnicos em informática: correto? Errado. Se há uma preposição, um advérbio ou um adjetivo após o verbo, ele fica no singular. Por isso: Precisa-se de técnicos em informática. Vive-se bem no interior. Era-se mais feliz no passado.
Atenção, classificados de emprego!
José Joaquim da Silva Xavier era conhecido pelo alcunha de Tiradentes? - Não. José Joaquim da Silva Xavier era conhecido pela alcunha de Tiradentes: alcunha é palavra feminina (a alcunha, uma alcunha). Eis mais cinco nomes femininos: bacanal, entorse, ênfase, dinamite e mídia. Alcunha tem como sinônimo apelido, essa sim é palavra masculina.
Sarney criou a expressão brasileiras e brasileiros. É boa? - Essa é muito boa!... Boa piada! É a expressão mais simplória criada em nossa língua, nos últimos quinhentos anos. Talvez supere a que o povo inventou: cuspido e escarrado, para substituir a legítima esculpido e encarnado. Bastar-Ihe-ia começar os aborrecidos e inofensivos discursos com brasileiros, em que já estão compreendidos homens e mulheres. Justificaria, assim, o título de acadêmico.
Quando se diz que o Brasil é dos brasileiros, alguém tem a intenção de afirmar que o nosso país é só dos homens? Seria necessário dizer que o Brasil é dos brasileiros e das brasileiras? Pobres anos oitentas, que terminaram tão melancolicamente!
Quem toma muito aguardente fica o quê? - Fica principalmente deselegante. Quem sabe beber, pode até tomar muita aguardente, nem por isso ficará bêbado a ponto de dizer que tomou muito aguardente, que é palavra feminina: a aguardente, uma aguardente, boa aguardente.
Cuspido e escarrado? - O povo, quando vê uma pessoa muito parecida com outra, diz: "Nossa, como esse rapaz é parecido com o pai! Ele é o pai, cuspido e escarrado". Na verdade, deveria dizer: "Ele é o pai, esculpido e encarnado". Como o povo não entendia de escultura nem de encarnação, substituiu as palavras por outras que lhe são mais próprias. Recentemente, ouvimos uma pessoa dizer: "Vige, essa menina saiu à mãe, cuspidinha e escarradinha!" .Consagrada ou não, convém saber que, num banquete, por exemplo, é de bom-senso utilizar a outra. Seria pior se o povo usasse guspido, em vez de cuspido, não seria?
Aí seria o máximo da indelicadeza e da deselegância. Cuspir, cusparada, cuspida, cuspo, são as palavras corretas, ainda que muitos digam guspir, gusparada, guspida, guspo. Aliás, o povo também usa gabine, degote, degotar, degotado, quando a língua nos recomenda apenas cabine, decote, decotar, decotado.
Existem luzes de neon? - Não. Existem, sim, luzes de néon ou de neônio. O povo, contudo, gosta muito das luzes de neom (que não iluminam)... O pior é que escrevem ainda neon.
O presidente Jânio Quadros, quando renunciou, disse: fi-lo porque qui-lo. Acertou? - Como sempre, errou. Quem realmente conhece nossa língua diz (ou deveria ter dito): Fi-lo porque o quis, já que a conjunção porque exige o pronome oblíquo antes do verbo. Como certas pessoas, porém, têm o diabólico dom de só cometer asneiras, essa frase (que ele jura não ter proferido) ficará na história (com h minúsculo) como mais uma das suas.
Há pessoas que passam a vida inteira pensando que conhecem a nossa língua. Pensar é bom e não ofende. Mas quem diz senhôra, em vez de senhóra; mâs, em vez de más; falámos, tratámos, conversámos, em vez de falâmos, tratâmos, conversâmos, teria o direito de pensar assim, sem ao menos sentir-se um pouco culpado?
Preciso de uma boa gramática para mim saber mais sobre a nossa língua - Mim não faz nada, quem faz sou eu! Mim, antes de verbo, quem usa é índio. Índio é que diz a toda a hora: "Mim gostar de pipoca! Mim querer pipoca! Mim dar tudo por uma pipoca!". Os civilizados usamos eu: Preciso de uma boa gramática para eu saber mais sobre a nossa língua. Isso é para eu ler. (E não.: Isso. é para mim ler.) Deixaram tudo. para eu fazer. (E não.: Deixaram tudo. para mim fazer.) Não havendo verbo, use mim: Isso. é para mim, Deixaram tudo. para mim.
Qual a diferença entre história e História?
A história é a ciência que cuida dos fatos documentados sobre o passado da humanidade; História, com H, é nome de disciplina, assim como Matemática, Português, Inglês, Geografia, Espanhol, Redação, etc. E a palavra estória? Existe ou não? Apesar da insistência de alguns, existe. Estória é o que é imaginário, como fábulas, contos infantis, filmes e novelas; conversa fiada, lorota, balela. O inglês também tem essa diferença - story (ficção) e history (fato).
Um professor, na sala de aula, conta a história do Brasil a seus alunos. Um ladrãozinho qualquer, para safar-se da prisão ou da condenação, conta mil estórias ao juiz, que muitas vezes as toma por histórias e o absolve. Afirmar que um vagabundo qualquer conta histórias ao juiz é mentir descaradamente e subtrair à palavra a nobreza de significado que ela tem.
Devo andar a cem quilômetros por hora?
No máximo! Sempre sem o acento no a, antes de numeral: a cem quilômetros, a mil metros, etc. Só use o acento quando se tratar de horas: chegamos à uma hora, e não às duas horas.
Pronuncio istória ou estória?
Pronuncie istória; o e, em sílaba átona, soa geralmente i. Note: escrevemos "marceneiro", mas pronunciamos' 'marcineiro' '; escrevemos" mexerica", mas pronunciamos "mixirica"; escrevemos" empecilho' " mas dizemos' 'impecilho' " etc. Por isso, escreva" estória' , mas diga "istória".
Entro de férias ou em férias?
Como quiser, assim como pode ficar de pé ou em pé. Mas só entre em greve, ainda que muitos prefiram entrar de greve, o que é absolutamente ilegal.
Não use de pé por a pé, como se faz no Nordeste,onde se ouve comumente: "Não vou de carro não, vou de pé mesmo". Vá a pé. Ainda que seja ao inferno, vá a pé...
De noite ou à noite? Tanto faz, desde que você vá a pé... Pode ir também, indiferentemente, de tarde ou à tarde. Se preferir, vá de manhã ou pela manhã.
Entro de sócio e jogo de goleiro no Palmeiras? Não. É na língua italiana que se diz "de sócio, de goleiro". Prefira entrar como sócio e jogar como goleiro.
Repetir de ano, assim como passar de ano, também é próprio de italianos. Aluno brasileiro desinteressado repete o ano; os bons passam o ano.
Posto que equivale a "porque" ? Só os adevogados usam posto que como equivalente de porque; os advogados empregam posto que apenas por embora : O réu foi absolvido, posto que contra ele houvesse inúmeras provas. (E não, como fazem os advogados despreparados: O réu foi absolvido, posto que não havia provas contra ele.)
Esse uso é influência do espanhol puesto que. Em bom português, é conjunção concessiva, não é causal nem explicativa.
Existe primeiroanista de Direito?
Existe apenas primeiranista, assim como segundanista, terceiranista, quartanista, quintanista, sextanista, ultimanista. Há, todavia, muito ultimanista de Direito que ainda age, fala e escreve como se fosse primeiranista..
Posso tomar um chopes?
Não, que lhe vai fazer muito mal! Prefira tomar um chope. Sempre um chope. Se preferir tome dois chopes, três chopes, quatro chopes, etc. Repare, ainda, que devemos escrever chope, chopes( e não chopp, chopps).
Por isso, se alguém, algum dia, convidá-lo para tomar um chopes, caro leitor, seja irônico, respondendo (cavalheirescamente) : "Obrigado prefiro comer um pastéis". Assim o garçom vai trazer a contas.
É mesmo asneira usar um antes de mil?
Das grossas! Quem usa um (ou hum, o que é bem pior) antes de mil, não sabe a grossa asneira que está cometendo: um é singular; mil é plural. Assim, quem usa um mil ou uma mil está misturando as estações; ou seja, está cometendo a mesma asneira de quem toma um chopes. Pessoas sadias, como já vimos, preferem tomar um chope, que este não sobe...Por isso, nem mesmo em cheques use um mil ou hum mil, a pretexto de evitar fraude. Podemos evitar fraude num cheque, sem corromper a língua. Hum, em bom português, é interjeição.
De fato, o Brasil não foi descoberto em 'um mil e quinhentos' nem Bombril é uma esponja de 'uma mil e uma utilidades'. No dia que tivermos a cédula de mil reais, o Banco Central não vai imprimir 'um mil reais'.
Quem usa um antes de mil terá de usar uma quando o substantivo for feminino, o que torna a linguagem ainda mais ridícula.
Sua irmã parece com a minha.
Sua língua também se parece muito com a dos trogloditas. O verbo não é simplesmente parecer, mas parecer-se:Eu me pareço muito com Luís. (E não: Eu pareço muito com Luís.) Nós nos parecemos com eles. (E não: Nós parecemos com eles.)Sua irmã se parece com a minha.
Devo sentar na mesa?
Não! gente educada, civilizada, elegante, sentar-se à mesa já que o verbo é sentar-se, e não simplesmente sentar, e quem está encostado, perto da mesa, está à mesa, e não na mesa. Na mesa ficam, pratos, talheres, toalhas, etc... Se você se sentar na mesa ela não vai suportar.
Alguém pode ficar esperando uma pessoa na porta?
Se for inteligente, preferirá ficar esperando à porta: é bem menos complicado. O caro leitor já viu alguém na porta, dentro dela?
Há as que dizem: "O ônibus passa na porta de casa". Passar na porta é passar por cima dela! Apesar de ser uma porta - convenhamos - ela não tem culpa!...
Devo escrever todo mundo ou todo o mundo? Escreva sempre todo o mundo, em qualquer sentido. Todo o mundo nasce nu. (= Todas as pessoas nascem nuas.) Todo o mundo está poluído. (= O mundo inteiro está poluído.)Não há quem faça jornalista brasileiro aprender isso. Eles escrevem todo mundo, imaginando que todo o mundo só pode ser usado em referência ao mundo inteiro. É...
Sua sogra come toda hora?Não! sogras comem a toda a hora, a toda a velocidade, a todo o momento, a todo o instante, sempre com o artigo.
Escola do primeiro e segundo graus? Não, embora haja muitas escolas par aí que assim se intitulem, o que não deixa de ser uma ironia e uma tristeza. Antes dos numerais ordinais, nesse caso, o uso do artigo é obrigatório: escola do primeiro e segundo graus. Ninguém cursa primeiro nem segundo graus; todo o mundo cursa o primeiro e o segundo graus.
Há pouco tempo tivemos uma eleição em dois turnos; no primeiro turno venceram Collor e Lula; no segundo, venceu ele. Ninguém votou em primeiro turno nem em segundo turno, mas no primeiro turno, no segundo turno. Escolas do primeiro e segundo graus, por favor, emendai -vos!
As vendas, no comércio, caíram em 50%? Essa é uma frase típica de jornalista, que usa em antes de numeral percentual, sem nenhuma necessidade. Diz ou escreve melhor quem faz assim: As vendas, no comércio, caíram 50 %. E ainda se economizam tempo e espaço...
Eis duas frases colhidas no jornal Folha de S. Paulo:
Conjunto de opcionais pode aumentar o preço de um carro em mais de 20 % .O movimento de compensação de cheques em Salvador caiu em cerca de 30 % . Senhores jornalistas, economizem o nosso tempo, a nossa paciência e o espaço de seu jornal!
Posso dizer que amanheceu o dia? - Se acha que é razoável dizer " amanheceu a noite", pode usar à vontade essa redundância de assustar jegue. Basta dizer amanheceu. Já não se entende que foi o dia?
Certa vez lemos no pára-choque de um desses caminhoneiros folgados da vida: "Quer você acorde ou não, o dia amanhecerá" . Caminhoneiros de todo o Brasil, acordai!...
Camioneiro ou caminhoneiro? - Ambas são corretas, com leve preferência pela segunda.
Tomaram caminho errado... - A verdade é que não se pode, então, afirmar que caminhoneiro é forma errada; o equívoco está consagrado oficialmente, assim como Mossoró, que, por ser nome de origem indígena, jamais deveria ser escrito com ss. Mas está lá, registrado. Os que têm bom-senso, todavia, escrevem caminhoneiro, minissaia e Moçoró.
Discrição ou discreção? - Discrição, evidentemente. A forma discreção, assim como indiscreção, foi criada pelo povo, que viu discreto e indiscreto e passou a usar aquelas formas, por analogia como estas. O aconselhável, sempre, é manter a discreção, jamais cometer indiscreções.
Rui Barbosa foi o Águia de Haia? - Não. Rui Barbosa foi a Águia de Haia. Por quê? Porque a águia é a ave que simboliza talento, perspicácia, inteligência; o águia é cabra-safado, velhaco. Não obstante a evidência, há muitos professores (até de Português) que dizem a seus alunos: " Rui Barbosa foi o Aguia de Haia". E os indefesos alunos acreditam!...
Ainda se usa o trema? - Usa-se, mas apenas no u átono dos grupos gue, gui, que, qui. Escreva, portanto: agüentar, alcagüete, Güiana, güianense, eqüestre, seqüestro, antiqüíssimo, qüinqüenal, etc.
Haja vista é expressão variável? - No português contemporâneo, não. Hoje só se usa haja vista os acidentes, haja vista as mudanças, etc. Antigamente, essa expressão variava; por isso, muitos professores de Português ainda exigem que seus alunos efetuem a variação. Existe haja visto, mas como tempo composto do verbo ver.
Pode um pianista estar no piano? - Os verdadeiros pianistas sempre estão ao piano, tocando e encantando. Os outros... bem, os outros devem ficar no piano mesmo, a fim de não atrapalharem quem sabe...A é que indica proximidade, e não em. Por isso, ficamos à janela, ao portão, ao telefone. Ninguém fica na linha, aguardando alguém; nós, seres humanos, ficamos à linha. De preferência...
Um motorista, então, também não pode dormir no volante? Se dormir ao volante já é perigoso, que se dirá, então, daquele que dorme no volante! E tragédia, na certa... Dormir ao volante é dirigir com os olhos fechados, embora com o corpo ereto, dormir no volante é dormir debruçado nele com o carro em movimento.
Na praia, ficamos no sol? - Não: pessoas sãs costumam ficar ao sol; as outras ficam no sol , que é um pouquinho quente...As pessoas que não gostam de se expor gratuitamente ficam sempre ao sol, ao vento, à chuva, ao relento, ao sereno. Além de mais saudável, é mais inteligente...
Acordei-me e fui pra praia: certo? - Errado! Ninguém se acorda e vai pra praia. O melhor mesmo é acordar e ir à praia, pois o verbo não é acordar-se. Quem vai pra praia, vai com a intenção de lá ficar a vida inteira. Nem os baianos exageram tanto no gosto pela praia!... Ir a dá idéia de volta; ir para dá idéia de estada longa ou permanência definitiva. O caro leitor vai para a praia?
Super -interessante - Na famosa revista está grafada a palavra Super- acima de -interessante. Dado o desconto por tratar-se de um nome, uma marca, deve-se chamar a atenção: a palavra superinteressante escreve-se sem hífen. E, portanto, não teria essa divisão silábica, mas esta: su-pe-rin-te-res-san-te. Super só se escreve com hífen se a próxima palavra começar por H (super-herói) ou R (super-revista). Fora isso, é sem hífen, tudo junto: supermercado, superlotado, superdosagem.
Um agravante, um atenuante - Agravante e atenuante são palavras femininas, porque se subentende a palavra 'circunstância'. Portanto, uma agravante, uma atenuante. Sempre. Quem a usa no masculino erra.
Todo mundo - Todo o mundo erra essa. Todo o mundo precisa saber que o correto é “todo o mundo” em qualquer situação.
Ela quer se aparecer - Não existe esse verbo. O verbo aparecer é intransitivo, e não pronominal. Esse uso se explica pela semelhança com os sinônimos exibir-se e mostrar-se: Ela quer se exibir / Ela quer se mostrar
Não fiz o dever de ciências - Dever no singular é obrigação: Cumpriu com o dever de pai. Todo militar tem o dever de servir à Pátria. No plural, são as tarefas: Vou fazer os deveres de geografia.
Não me importo que o Corinthians perca - Quando o sujeito for uma oração introduzida pela conjunção integrante que, o verbo importar deve estar no subjuntivo: Não me importa que o Corinthians perca. Se ao verbo seguir a preposição com, emprega-se importo, forma do presente do indicativo: Não me importo com suas discussões.
O preço varia entre cinco a dez reais - Entre se relaciona com e. Se for usada a preposição de, emprega-se a preposição a. Se for usada a preposição desde, emprega-se a preposição até: O preço varia entre cinco e dez reais. / O preço varia de cinco a dez reais. / O preço varia desde cinco até dez reais.
O professor está para São Luís - Quem está está em algum lugar: O professor está em São Luís. Só se usa estar para no cálculo de proporções.
Antes de mais nada, queria lhe agradecer por sua bela atitude - A expressão correta é antes de tudo: Antes de tudo, queria lhe agradecer por sua bela atitude. Antes do nada não tem nada. Depois do nada não tem nada. O nada não é nada.
Estamos em oito na festa - Os verbos ser e estar não aceitam a preposição em antes de numeral: Estamos oito na festa. A novela é Éramos seis, e não Éramos em seis.
Senha alterada com sucesso - Nenhuma senha é alterada sem sucesso. Diga apenas: Senha alterada.
Dirija-se ao Departamento Pessoal - O correto é: Dirija-se ao Departamento de Pessoal. Ninguém escreve Departamento Recursos Humanos em vez de Departamento de Recursos Humanos, que é o correto; ou, então, Departamento Compras em vez de Departamento de Compras, que é o certo.
Qualidade que você gosta - Quem não gosta sou eu. Quem gosta, gosta de alguma coisa, portanto, a marca de que você gosta, 11 livros eróticos de que você vai gostar.
O banco que você confia - Perdi a confiança. Quem confia, confia em alguma coisa. Portanto, o banco em que você confia.
A janta está na mesa - A janta está quase consagrada pelo uso, como se costuma dizer nos meios gramáticos. Mas, se você preferir uma forma mais correta, diga sempre que o jantar está na mesa.
Desculpe a nossa falha - Se você der alguma informação errada em seu blog, não diga “desculpe a nossa falha”. Quem desculpa, desculpa alguém de (ou por) alguma coisa. Então: desculpe-nos pela falha.
Quais forarn as maiores " pérolas" já ouvidas por um resignado professor de português?
Ah, existem várias, mas as que passo a contar marcaram fundo!
- Num Estado do Sul do Brasil, uma garota não se conformava com as Sucessivas crises de nervos da mãe. Ingenuamente, então, justifica: "Minha mãe está na menorpausa. Por isso fica irritada à toa, coitada". A menopausa - garantimos - causa bem menos irritações...
- Num Estado do Nordeste, uma garota dizia que não gostava de fazer nada "aos troncos e barrancos". A mesma pessoa, que não gosta de fazer nada aos trancos e barrancos, certa vez ameaçou as amiguinhas de escola: "Se um dia eu pegar meu namorado com outra, ele que já vá assinando seu atestado de órbita! E ela também!". Valentes as soteropolitanas! Morto, porém, qualquer namorado infiel preferirá - com certeza - um atestado de óbito...
- Na mesma Salvador, essa gostosa e querida Capital brasileira, uma senhora havia passado por delicado estado de saúde. Declara, então, sem pestanejar: "Bebi tanto naquela festa, que cheguei a ficar em estado de cômoda!". Quando disse isso, estava perfeitamente lúcida, o que não deixou de fazer que outras pessoas ficassem em estado de coma...
- Já em São Paulo, na cidade de Ribeirão Preto, a chamada Capital da Cultura, uma advogada, esposa de um querido magistrado, ao desejar enaltecer as "qualidades" do quintal da casa de seu pai, profere: "O quintal da casa de papai é uma delícia: tem até pé de jabuticabeira!". E saber que nossos quintais só têm pés de jabuticaba! Ou simples jabuticabeiras...
- Na mesma Ribeirão Preto, estava eu ao balcão de uma farmácia, aguardando que me trouxessem um analgésico. Irrompe, então, porta adentro, uma desesperada mãe, que pede ao atendente: "Moço, por favor, moço, o que o senhor tem aí para pênis estuporada? Minha filha tá com â Pênis estuporada, moço!". Ao ouvir aquilo, fiquei mais compadecido da mãe que da filha... Como, porém, se tratava da filha, e não do filho, minha preocupação diminuiu sensivelmente... Precisei, todavia, comprar não mais um, mas dois analgésicos... Só muito depois vim a concluir que aquela desesperada mãe queria salvar o apêndice da filha, o qual supunha estar supurado...
- Na mesma Capital da Cultura, uma dona de restaurante, quando a inflação dos tempos de Sarney, estava na casa dos 80%, disse a um de seus clientes: "E, a situação está periquitante!". Como ela não tinha periquito nenhum na casa, imaginei que quis dizer periclitante...
- Na mesma Capital da Cultura (?), uma senhora, séria, logo após a eleição de Jânio Quadros à Prefeitura de São Paulo, nos anos oitentas, declara, pasmada: , 'Imagine elegerem um Jânio Quadros na era da Informática e do bebê de trombeta!". Mal sabia que ela própria bem poderia ter sido um bebê de proveta...
- Depois de conhecido o resultado das eleições presidenciais, declara um político pela televisão: "Ganhou o Collor. Dos males, o melhor". Realmente, dos males, o menor...
Erros de Pronúncia
Os erros de pronúncia são vários. Algumas palavras ficam até esquisitas se pronunciadas da maneira correta e você corre o risco de ser considerado uma criatura exótica, mas – fazer o quê? – vamos a alguns deles:
- Uma xeróx - Tire sempre uma xérox (o acento, nos dois casos, é ilustrativo).
- Féche a porta - A pronúncia correta é fêche a porta, com o e fechado (o acento é ilustrativo).
- Incêsto - A pronúncia correta é incésto (o acento também é ilustrativo).
- Toráxico - Escreva e pronuncie torácico.
- Aerosol - Escreva e pronuncie aerossol, como em siso, sinal, situação, cinema, circo, cinco, cidade e ciência.
- Comprar no Éxtra - O “e” é fechado. Faça compras no Êxtra (novamente, acento meramente ilustrativo). Acho que nas propagandas a pronúncia usada é com o e aberto. O prefixo extra também se pronuncia com E fechado.
- Sintaxe pronunciada sintakse - Essa é para os programadores de plantão. O seu código não está com problemas de “sintakse”, está com problemas de “sintásse“. As grafias entre aspas são meramente ilustrativas. A grafia correta é sintaxe, embora o dicionário Aurélio aceite a pronúncia com som de CS - como em reflexo, o Houaiss e o Michaelis só aceitam com som de SS - como em auxílio.
- Subzídio - Escreve-se subsídio e pronuncia-se subcídio.
- Inexorável pronunciada ineczorável - A pronúncia correta é inexorável, com som de Z, como em executivo, e não com som de CS, como em conexão.
- Accessível - o preço é acessível, a palavra vem de acesso, como em acessibilidade.
- Aficcionado - escreva e pronuncie aficionado. A palavra não vem de ficção, mas de ofício. A pessoa aficionada cultiva uma arte como se fosse seu trabalho.
- Cônjugue - escreva e pronuncia cônjuje.